EDITORIAL: Lula, o bicho-papão das eleições
Parafraseando o ex-governador Carlos Lacerda sobre Getúlio Vargas: Lula não pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse.
Mas e se for candidato, tem chance?
De acordo com o Datafolha, 54% dos brasileiros querem Lula preso. Já de acordo com o Instituto Paraná Pesquisas, esse índice chega a 62%. Mas mesmo assim, o condenado lidera na intenção de votos sempre na casa dos 30%, dificilmente ultrapassando essa barreira no primeiro turno.
As campanhas majoritárias no Brasil funcionam na base do tripé dinheiro-tempo de Rádio/TV-apoios regionais. Não contar com algum desses fatores pode ser compensado por outro, mas quem vence eleições geralmente equaciona bem essas questões.
Tempo de Rádio/TV
Hoje, o cenário não é dos melhores para os petistas. O Centrão, grupo composto por PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL que desde a reeleição de Lula tem garantido o maior tempo para o PT (em 2002 Lula teve o segundo maior tempo), se dividirá em duas candidaturas: Alckmin (PSDB) e a que Temer (MDB) deve apoiar. Isso se o próprio Temer não for candidato caso não consiga alguém que defenda o seu legado. Os ministros Carlos Marun(MDB) e Gilberto Kassab (PSD) declararam nesta semana que Alckmin ainda pode ser o candidato de Temer.
Efetivamente, o PCdoB é o único partido que estará com o PT em 2018, o que o colocaria no mínimo em terceiro lugar na divisão do tempo televisivo, atrás das candidaturas de Alckmin e do candidato do governo. Nas coligações proporcionais para a Câmara, o PT também deve correr isolado com o PCdoB, o que diminuiria os apoios regionais aos petistas.
Há ainda um novo fator: após a reforma política o tempo legal de campanha caiu de 90 para 45 dias. Péssimo para o PT que tem que avançar sobre o eleitorado de centro e ainda reverter a altíssima rejeição do condenado Lula. Eleitorado de centro, aliás, que estará dividido entre Alvaro Dias (PODEMOS), que tem um desempenho surpreendente na região sul do país, Marina Silva (REDE), que tira os votos da centro-esquerda da candidatura Lula (PT), além dos tucanos que são por excelência os candidatos do muro. Bolsonaro, que também precisará conquistar votos do centro para ter maioria, já faz acenos liberais. Ciro Gomes (PDT), que já foi filiado da ARENA/PDS, privatista e hoje é nacional desenvolvimentista, garantiu que será candidato com ou sem Lula na urna. Desde 1989 Lula não encontra uma situação tão difícil para conquistar o centro.
Apoios regionais
Apesar de o Centrão não dar seu tempo de TV para a candidatura petista, caciques regionais do nordeste tendem a apoiar o condenado. Isso porque para alguém que concorrerá ao Legislativo estar ao lado de um candidato majoritário que faz 40% dos votos na região é vantajoso. Mesmo assim, sem o tempo de Rádio/TV o apoio será benéfico apenas para os caciques, para Lula não muda muita coisa.
No norte e centro-oeste, Bolsonaro já chega a liderar pesquisas e o apoio de caciques dessas regiões deve se dividir entre Alckmin e o candidato do governo Temer. Ou seja, com exceção do nordeste, Lula estará isolado no resto do Brasil e dependerá exclusivamente de candidatos do PT/PCdoB que o defendam, além da estrutura precária de sindicatos, que mesmo com os repasses garantidos por Temer, chegarão em outubro minguados de recursos por conta da extinção do imposto sindical. Hoje, os sindicatos e as centrais sindicais já preparam planos de demissão em massa de funcionários apenas para continuarem funcionando.
Dinheiro
O PT contará com o Fundo Eleitoral e o Fundo Partidário, além de sobras do dinheiro roubado durante seu governo. Mesmo assim, não será suficiente para bancar uma campanha nacional majoritária.
Por mais que sejam abnegados os seus militantes, os Fundos públicos servirão para garantir a sobrevivência institucional do partido. Pagar aluguéis, funcionários, etc, além de garantir o mínimo para as campanhas de deputados estaduais, federais e senadores, que devem encolher em número de eleitos. Sem o dinheiro do Petrolão via caixa 1 e caixa 3, o PT só terá o caixa 2 economizado. As eleições de 2016 já mostraram que sem CNPJ para lavar dinheiro o PT não tem força.
A força do PT
Até abril de 2016, antes das eleições, nada menos que 149 (1/5) prefeitos e 1718 (1/3) vereadores eleitos em 2012 se desfiliaram do PT. Já na reta final da disputa, das 93 maiores cidades do país (que concentram 37% do eleitorado), o PT ganhou em apenas uma: Rio Branco (AC). Fechadas as urnas o PT elegeu 256 prefeitos. Menos que o DEM que Lula queria ‘extirpar da política brasileira’. Na base legislativa também não foi diferente, foram eleitos 2785 vereadores pelo PT. Novamente, menos que o DEM.
De terceiro maior partido, o PT caiu para décimo.
O PT teve um recuo de 60,9% em sua votação no país:
- 2012 – 17.448.801 votos,
- 2016 – 6.388.898 votos.
O PT também administra menos recursos municipais: Eram R$ 110,5 bilhões em 2012, hoje são R$ 15,8 bilhões, uma queda de 86%.
Isso sem contar a rejeição ao Lula que supera os 50%.
De maneira alguma isso quer dizer que Lula/PT estão mortos. Mas hoje, efetivamente, não terão tempo de TV/Rádio, nem prefeituras para usar de palanque (inclusive de partidos aliados) e nem apoios regionais. Ao invés de crescer durante o primeiro turno, Lula deve perder votos, pois enfrentará candidatos que disputarão o mesmo eleitorado na esquerda e centro-esquerda. Isso sem contar os adversários que resgatarão durante a campanha os escândalos, os processos e a condenação de Lula. Eleitoralmente o PT tem a mesma competitividade que tinha nos anos 1980 e lidera apenas pelo recall do nome Lula. Até mesmo um candidato apoiado por Lula corre o risco de não chegar ao segundo turno.
Hoje, a candidatura Lula é um bicho-papão que serve essencialmente a três propósitos:
- chantagear o Judiciário para que o condenado continue em liberdade;
- convencer a população de que os bandidos que governam o país são imprescindíveis para impedir a volta do PT, pois tudo que um bandido no poder quer é que a sociedade pense que não pode abrir mão dele;
- atacar a Lava Jato, pauta que une petistas e governistas que a acusam de ressuscitar o petismo.
Quando o impeachment de Dilma Rousseff (PT) ainda não era uma realidade, franjas do petismo como a UNE, MST, MTST e CUT prometiam tocar o terror caso o afastamento da presidente se consolidasse. O PT ainda era o terceiro maior partido em número de prefeituras e tudo o que ocorreu foi a queima de alguns pneus em avenidas. O PT não tem força para enfrentar o Brasil. Sua força depende mais de uma projeção de poder do que poder de fato.
Nas eleições de 2018 Lula tem que estar preso. A sociedade não pode ter medo de Lula ou do PT.
Essa é a real situação de Lula e do PT. Esse é o verdadeiro legado da Lava Jato.
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