quinta-feira, 29 de junho de 2017

ENFIM O STF DECIDIU O ÓBVIO - RAFAEL BRASIL

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Depois de muito juridiquês, ou seja, papo furado,o STF decidiu o óbvio. Se os delatores não cumprirem o acordo, o mesmo pode ser revisto. Três dias de  conversa para chegar a essa conclusão. Óbvio Ululante, como diria Nélson Rodrigues. Mas nesses dias difíceis, dizer o óbvio é sinal de inteligência.
Na verdade, este jogo de palavras esconde a intenção de melar as investigações e protelar ao máximo a sobrevivência da canalha política. Os empresários acham de bom tamanho o ajuste econômico em troca da moralidade. Afinal, dada as relações quase sempre promíscuas do empresariado, que vive das benesses do estado mastodôntico, com os agentes do estado, que vão ao inferno das cuias coisas como a moralidade e a ética. Assim pensa nossa dita burguesia, mais notadamente a paulista. Afinal, nossa burguesia só pensa em se fartar, e ser protegida pelo estado burocrático. Competir que é bom, nada.
Como nosso judiciário, principalmente as altas cortes,sempre foi subserviente aos poderosos, haja enrolação para manter esta canalha política impune. Dizem que as investigações vão atingir juízes, advogados, e muita gente deste até agora intocável poder. A conferir.
Só que agora é tudo aberto. Todos acompanham a TV justiça, e as redes sociais não param. Muitos não podem mais fazer nada escondido. Em poucas palavras, estamos noutra época. O estado patrimonialista resiste assim como seus agentes. Mas quem pode, além de Deus,impedir um maremoto? Eis a questão.

JUDICIÁRIO DE MERDA - RAFAEL BRASIL

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Dentre os poderes da nossa malfadada república  o judiciário é um dos mais corruptos. Lá existe nepotismo, marajás em pencas,e o escambau. A corrupção anda solta, e nada acontece com seus membros. Além de um dos judiciários mais caros do mundo, é um dos mais burocratizados e ineficientes. O povo odeia o judiciário, além de toda a gigante e ineficiente burocracia estatal. É o estamento burocrático do estado contra o povo. Temos um estado extremamente caro e corporativista, uma vergonha para a nação. É preciso uma verdadeira revolução para mudar este triste quadro.
Aliás foi Raymundo Faoro quem apontou que no Brasil a questão não é a luta de classes, tão  apregoada pelos marxistas malucos e ignorantes, além de psicopatas sociais. É a luta do povo contra o estamento burocrático do estado. A ineficiência da educação, saúde, segurança e tudo o mais tem origem nesta verdadeira praga nacional. E no judiciário,ninguém pode falar. Os nossos juízes, com raras exceções, não se acham deuses. Tem certeza que o são. Quantos bandidos de toga existem e morrem na luxúria e na impunidade? E a justiça do trabalho, quanto custa, e pra que serve? Temos excrescências como a tal de justiça eleitoral, outra vergonha nacional. Seria preciso uma verdadeira revolução popular para acaber com isso.
Enquanto escrevo, vejo os juízes das chamadas supremas cortes enrolando o povo com um linguajar nojento, o conhecido juridiquês, para defender políticos mais do que safados, como Sarney, como fez ontem Gilmar Mendes. Como sempre, foram e são serviçais dos poderosos e contra o povo.
Agora que as investigações ameaçam o judiciário, a gritaria é geral. Gritaria com a empolação empulhativa de um linguajar quase incompreensível para todos os cidadãos. Na verdade são, e sempre foram subservientes aos poderosos de plantão,em toda a nossa história. Nunca serviram ao estado nem ao povo, mas aos poderosos.
Na verdade o Brasil precisa de uma revolução. Liberal e democrática. Uma mudança total no estado. Ainda estamos muito longe disso. Não temos  lideranças. e o povo está cansado e desiludido. Pobre Brasil. Pobre povo brasileiro.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

TEMER: DE PATO MANCO A DEFUNTO POLÍTICO - RAFAEL BRASIL

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Os norte americanos costumam chamar de pato manco àquele político que está em estado terminal. Temer ao assumir já era um deles. Agora virou um defunto político que se agarra ao poder juntamente com muitos outros, como Lula e companhia, para se livrar da justiça e da cadeia. Para isso procura o apoio do empresariado, para o qual, algumas reformas liberalizantes, pagam quaisquer pecados morais e éticos.
Enquanto se defende, atacando a procuradoria geral da república, outro antro de cabras safados, como ademais a grande maioria do nosso também putrefato judiciário, tentando se defender do indefensável. Afinal, as gravações dos irmãos da JBS são mais do que claras. As gravações mostram o conluio podre das grandes transações na nossa republiqueta de merda. E o povo assiste a tudo,pelo menos momentaneamente, bestializado. Sem lideranças à altura, só restaria uma solução. O povo cercar Brasília,e botar à força toda esta canalha para fora. Porém, faltam lideranças. A destruição da cultura e da educação, juntamente com a corrupção desenfreada, acabou com as possíveis lideranças políticas.
E economia funciona apesar desses políticos.O povo trabalha, e aos trancos e barrancos o país está andando. Apesar da falência do estado e da situação quase terminal das instituições democráticas. 
Muitos apontam a semelhança com o desgoverno Sarney, que contra toda a nação passou mais um ano no governo, saindo de uma forma lamentável, odiado pelo povo.
Enquanto a crise aumenta,Lula  e o PT tentam jogar para a população a  idéia de eleições diretas, já. Só jogo de cena, pois apesar de liderar as pesquisas de opinião a rejeição de Lula e do petismo beiram quase 50% do eleitorado. Se Temer é um defunto  político, Lula não passa de uma múmia a assustar a nação. Afinal, como é que um ainda tem cerca de 30% do eleitorado? São os votos do lumpesinato, turbinado pela compra de votos dos chamados programas sociais, e os esquerdistas de sempre,agora perdidos e sem discurso. Além de sem empregos no estado. É isso aí.Será que o povo vai ter que aguentar essa gente até as próximas eleições? A conferir.

terça-feira, 27 de junho de 2017

O PT AMEAÇA IR ÀS RUAS BRIGAR SE LULA FOR CONDENADO E PRESO - RAFAEL BRASIL

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Uns malucos do PT capitaneados por um tal de Quaquá, prometem ir às ruas quebrar o pau, se Lula for condenado e preso. Ridículo. Como bem diz um antigo ditado grego, quando os Deuses querem acabar com uma pessoa, o enlouquece. E os petistas, perderam completamente a noção da realidade. Estão descendo a ladeira, e vão continuar assim, até o mais completo ostracismo. Mas afinal, é o que muitos sonham. O povo em massa, defendendo  seu líder das garras da justiça capitalista e burguesa.
E é o que Lula e a cúpula do partido em frangalhos e desmoralizado, sonham, sobretudo depois do depoimento de Lula na justiça federal de Curitiba. Esperavam cinquenta mil pessoas,e nem mil tiveram coragem e disposição para enfrentar a polícia nas ruas. Delírio puro de quem não tem mais saída.
Agora tentam chantagear o povo e a justiça com as pesquisas eleitorais, que apontam Lula como líder,com cerca de 30% das intenções de voto. São os votos históricos do PT quando ainda não tinham o apoio da classe média, classificada como fascista pela intelectual maluca Marilena Chauí. Que ganha uma fortuna como professora da USP, para falar estas sandices.
Enquanto a casa cai, a esquerda tenta se reunificar, com partidos como o PSOL, outra desgraça. Um partido que apoia a ditadura venezuelana não tem futuro. Mas desesperadamente tentam reconstruir um discurso mais do que furado. O povo não aguenta mais, Aliás Lula só foi eleito depois de desmanchar o discurso radical para ganhar o apoio da classe média. Colou, mas com o resultado da "obra", o Brasil falido, atolado em corrupção, e com cerca de 14 milhões de desempregados, fica difícil. E Lula tem a  maior rejeição. Cerca de 50% não votariam nele de jeito nenhum. Seu principal objetivo agora é escapar da cadeia. Assim como todos os políticos dessa república de merda. Muito piorada por mais de uma década de esquerdismo. Alguém duvida? Só os malucos esquerdistas mesmo. Os idiotas de sempre e os que perderam suas infindáveis boquinhas no governo.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

PGR: GOVERNO E CÚPULA DO PMDB DA CÂMARA FORMARIAM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA - com O Antagonista

PGR: GOVERNO E CÚPULA DO PMDB DA CÂMARA FORMARIAM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA


Na denúncia de Rodrigo Janot, a cupula "PMDB da Câmara", o Presidente da República e possivelmente os seu principais ministros integram um organização criminosa:
"Quando da instauração do inquérito no 4327, vislumbraram-se como potenciais componentes dessa organização criminosa ANÍBAL GOMES, EDUARDO CUNHA, HENRIQUE EDUARDO LYRA ALVES, ALEXANDRE SANTOS, ALTINEU CORTÊS, JOÃO MAGALHÃES; MANOEL JUNIOR, NELSON BOURNIER, SOLANGE ALMEIDA, ANDRE ESTEVES, FERNANDO ANTÔNIO FALCÃO SOARES, ANDRE MOURA (filiado ao PSC); ARNALDO FARIA DE SÁ (filiado ao PTB), CARLOS WILLIAN (filiado ao PTC) e LÚCIO BOLONHA FUNARO.
As investigações conduzidas no bojo do Inquérito n. 4.483 indicam não apenas a continuidade da atividade da organização criminosa, como também a participação de MICHEL TEMER, RODRIGO LOURES, ora denunciados, bem como possivelmente do ex-deputado federal e ex-Ministro de Estado GEDDEL VIEIRA LIMA, apontado como homem de confiança de MICHEL TEMER para o trato de negócios escusos, de WELLINGTON MOREIRA FRANCO, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, e de ELISEU LEMOS 

Amargo regresso | Ricardo Noblat


- O Globo

Estamos na maior crise política da nossa história contemporânea” JOSÉ SERRA (PSDB-SP), senador 

Esqueçamos a Federação Russa, um dos lugares mais corruptos do planeta. O que Michel Temer foi fazer na Noruega, o país mais honesto do mundo junto com seus vizinhos escandinavos? Foi levar uma carraspana da primeira-ministra, preocupada com os destinos da Lava Jato? Foi ouvir o anúncio do governo norueguês de que cortaria parte do dinheiro investido na preservação da devastada floresta amazônica?

OU TEMER FOI PARA SE reunir, como disse, com o Rei da Suécia que não mora na Noruega? Ou como parece mais certo, Temer foi para fugir da crise política que o ameaça desde que se soube do seu encontro no porão do Palácio do Jaburu com o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, provedor de campanhas eleitorais do PMDB? Pode ter tentado fugir da crise, mas ela não fugiu dele. Carrega seu nome.

TRISTE REGRESSO. Hoje ou amanhã, a Procuradoria-Geral da República denunciará Temer por crime de corrupção passiva, Mais tarde por crime de obstrução da Justiça. Em seguida, por organização criminosa. Temer entrará para a História por ter sido o primeiro presidente da República investigado e denunciado por corrupção. Para salvar-se, se agarrará a um Congresso povoado de bandidos.

DAVA-SE COMO PROVÁVEL no início da semana passada o arquivamento pelo Congresso das denúncias contra Temer. Mas como desde então os fatos só agravaram a situação dele, e como novos fatos estão por vir, ninguém mais se arrisca no Congresso ou fora dali a fazer previsões. O cenário mais favorável a Temer – e o pior para o país – seria o de ele vagar como um fantasma até concluir seu mandato. Adeus reformas!

ELAS FORAM E CONTINUARÃO a ser desidratadas à medida que Temer mais se enfraqueça como seus aliados receiam. A da Previdência se resumirá à fixação de uma idade mínima para aposentadorias, o que de toda forma representaria um ganho. Se antes, a exemplo da ex-presidente Dilma no seu segundo governo, Temer só comparecia a eventos fechados ao distinto público, daqui para frente tomará ainda mais cuidado.

TEMOS UM PRESIDENTE INTERDITADO como o anterior, ostensivamente rejeitado pela larga maioria dos brasileiros como conferiu a mais recente pesquisa de opinião do instituto Datafolha. Sua aprovação de apenas 7% é a menor de um presidente nos últimos 28 anos. Seu governo é avaliado como ruim ou péssimo por 69% dos entrevistados, um recorde. E 65% acham que sua saída seria o melhor para o Brasil.

QUASE 80% DEFENDEM A renúncia de Temer. Pouco mais de 80% são a favor da abertura de um processo de impeachment para tirá-lo do cargo. Se ele renunciasse ou fosse derrubado, um novo presidente deveria ser eleito pela população, segundo 83% dos consultados pelo Datafolha. Em abril último, 58% diziam não confiar na presidência da República. Agora, 65%. Desconfiança maior só merecem os partidos – 69%.

APESAR DISSO, NÃO HAVERÁ solução fora da política. Sim, com esses mesmos políticos e com esses mesmos partidos de hoje até que se produza nas eleições gerais do próximo ano uma desejável e radical mudança no sistema apodrecido que temos. Por ora, políticos e partidos ainda preferem manter Temer onde está – o PT, por exemplo, para que a crise se aprofunde e ele possa se recuperar. Quanto ao PSDB...

O PARTIDO MAIS ATRELADO aos interesses dos grandes grupos econômicos e financeiros espera a ordem dos patrões para decidir o que fazer.

A rebeldia suburbana de Lima Barreto - Alexandre Rosa

Homenageado na Flip, escritor emerge sempre que o País entra em crises éticas ou institucionais


Autor de 'Triste Fim de Policarpo Quaresma' ganha reedições, biografia e homenagens

Alexandre Rosa*, O Estado de S. Paulo / Aliás, Cultura

A escolha de Lima Barreto (1881-1922) como homenageado na 17.ª edição da Flip vem corroborar a tese segundo a qual o seu nome emerge sempre que o Brasil afunda em crises institucionais, morais, éticas, políticas. Curiosa gangorra. Isso porque, em cenários como este, o componente crítico-social da literatura ganha enorme relevo, bem como sua capacidade de fomentar debates sobre os problemas do país.

Consta na programação da Flip vários títulos a serem lançados: a nova biografia do escritor, preparada por Lilia Schwarcz, Lima Barreto, Triste Visionário (Companhia das Letras, 704 páginas, R$ 69,90); uma reedição de Cemitério dos Vivos e do Diário do Hospício, livros póstumos do autor, organizados, agora, por Augusto Massi, também pela Companhia das Letras; uma edição especial de Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá(1919), programada pela coleção Clássicos Ateliê, são alguns títulos que chegarão às livrarias no segundo semestre do ano.

Vista por alguns como um grande painel autobiográfico e por muitos como testemunho vivo de um período histórico turbulento, a obra de Lima Barreto segue despertando enorme interesse. Sérgio Buarque de Holanda decretou que a admiração por Lima Barreto viria antes de tudo por motivações extraliterárias; a confissão, o inconformismo, a dicção panfletária de sua obra, que não receberam tratamento artístico aprimorado, ficando a meio caminho entre o documental e o desabafo.

O próprio Antonio Candido avaliou com muitas ressalvas a obra de Lima Barreto, tendo-o como um narrador menos realizado Muitos o consideraram um autor um tanto quanto descuidado. Mas, a questão fundamental é: um desleixado sobreviveria tanto tempo a ponto de se tornar canônico?

Francisco de Assis Barbosa, grande biógrafo do escritor, já chamava atenção, em 1952, para a necessidade de se encarar a literatura de Lima Barreto para além do drama íntimo nela incorporado – drama que o perseguiu por toda a vida, fruto do racismo, da pobreza, do uso imoderado do álcool – pois existe, também, uma “filosofia estética” operando em toda produção do autor.

Atualmente, o debate acerca de sua obra parece ter atingido também este patamar: em função de sua militância – estética e política – Lima Barreto profanou o sagrado templo da forma e da linguagem até então sob a custódia dos acadêmicos posteriores a Machado de Assis.

A reação de Lima contra o academicismo ornamental em nossas letras se deu através da constatação sobre a articulação entre literatura, o gosto duvidoso das elites da época e a ideologia que as sustentavam; um bloqueio estético-ideológico, em que as instâncias de poder se entrosavam numa harmoniosa celebração na República das Letras, cujo desdobramento prático eram as reuniões na ABL, os saraus literários em Botafogo, o mundanismo das crônicas sociais de João do Rio e Figueiredo Pimentel; a literatura havia se tornado o “sorriso da sociedade”, num país recém-saído da escravatura.

Um dos melhores resultados deste novo debate sobre a obra barretiana é o recente livro Belle Époque: Crítica, Arte e Cultura (Editora Intermeios, 383 pág., R$ 58), organizado por Carmem Negreiros, Fátima Oliveira e Rosa Gens, que traz o importante “Dossiê Lima Barreto”, com ensaios de diversos especialistas sobre o autor.

Como jornalista, Lima Barreto combateu os desmandos do governo, a corrupção dos políticos, o descaso para com os pobres, a truculência policial. Mas havia, também, o Lima Barreto escritor, esteta, preocupado em arrancar a Musa do sagrado altar e colocá-la para andar de bonde, visitar os subúrbios, conhecer a gente pobre.

Evidente que pagou caro por tamanha ousadia. Poucas obras no Brasil expressam de maneira tão gritante a angústia formal que atormenta os escritores dispostos a romper com a tradição, quando esta deixa de ser a expressão viva de uma realidade e passa a referendar um estado de coisas que precisa urgentemente ser mudado. Com Lima Barreto, nosso realismo se tornou mais democrático.
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*Alexandre Rosa é escritor, educador, pesquisador da obra de Lima Barreto e mestre em Literatura Brasileira pelo IEB/SP

domingo, 25 de junho de 2017

6 motivos que explicam por que você paga tão caro por um carro zero no Brasil - Felippe Hermes

6 motivos que explicam por que você paga tão caro por um carro zero no Brasil

Sonho de qualquer brasileiro acostumado a utilizar nossos serviços de transporte público, o carro próprio tornou-se quase um item folclórico. Para a revista americana Forbes, apenas rodas folheadas a ouro justificariam o preço que pagamos por aqui. Na prática, o buraco é muito mais embaixo. Nosso setor automotivo é uma eterna festa, onde montadoras e governos lucram e se divertem e você, como sempre, paga a conta.
Para qualquer governante de plantão, incentivar o setor automobilístico é quase um sinônimo de incentivar a economia e, claro, arrecadar. A lógica, por trás desta ideia não é difícil de entender. Cada carro a mais nas ruas é um incentivo para o setor de autopeças, que, sozinho, fatura R$ 100 bilhões por ano, quase duas vezes o que a JBS fatura por aqui, mais seguros contratados, mais consumo de gasolina (aquela que você paga 54% de impostos para abastecer), mais pagadores de IPVA, além de inúmeras fábricas construídas para atender às demandas das próprias montadoras.
 
Esta não é nem de longe uma festa recente. Há quase seis décadas optamos por tratar a indústria automobilística como sinônimo de progresso. Chamamos para cá montadoras asiáticas, europeias e americanas, dando a elas a certeza de pouca ou nenhuma concorrência com o setor externo, garantindo que importar um carro seria um desafio tão grande que qualquer espertinho logo desistiria.
Sem opções e vendo as grandes cidades crescerem sem alternativas eficientes de transporte público, a maioria dos brasileiros tornou-se refém deste modelo e acabou tendo de engolir carros de padrão inferior ao internacional, a preços muito mais elevados.
Ao contrário do que querem fazer crer as próprias montadoras, porém, esta não é uma consequência exclusiva dos impostos escorchantes cobrados por aqui, mas um acúmulo de fatores, muitos dos quais montadoras e governantes não parecem nem um pouco dispostos a mudar. Abaixo, resumimos alguns deles pra ajudar a entender melhor essa história.

1) Produzir no Brasil é mais caro

“Custo Brasil” é daquelas expressões que, a despeito do caráter técnico à primeira vista, têm uma explicação das mais simples possíveis, e os motivos pra isso você provavelmente já sacou: todo brasileiro já sentiu na pele o quanto nosso país parece viver um romance inabalável com a burocracia, a desconfiança por parte do setor público, a instabilidade jurídica e os custos raramente justificáveis para empreender ou simplesmente fazer negócios.
Uma logística deficitária, energia elétrica cara – a despeito da abundância de geração relativamente barata na nossa matriz energética (em especial por parte de hidrelétricas) – leis trabalhistas que muitas vezes inviabilizam o custo de contratar alguém (nunca é demais lembrar que pagamos por aqui as maiores taxas de impostos sobre o trabalho no mundo, ou R$ 57,56 em impostos a cada R$ 100 pagos por qualquer empresa) ou simplesmente a demora atípica para iniciar um negócio são problemas inescapáveis, ainda que você seja uma grande empresa e acredite poder compensar tudo isso com a mão amiga dos empréstimos subsidiados do BNDES.
Segundo a ANFAVEA, associação que reúne as montadoras em território nacional, fabricar um carro por aqui é até 60% mais caro que em outros países emergentes, e razões para isso não faltam.
Ainda que as montadoras tenham benefícios tributários para produzir, toda a cadeia que atende o setor e produz as autopeças está sujeita a este mesmíssimo custo, com o agravante de que os custos tornam-se cumulativos.
As chamadas sistemitas, empresas que produzem as peças necessárias para o processo final nas montadoras, enfrentam problemas comuns a qualquer empresa do país, tendo em vista o alto custo de nossas matérias primas, logística deficiente e a quase impossibilidade de se importar estas mesmas peças.
Segundo estudo da mesma ANFAVEA, o custo dos insumos produzidos aqui é até 40% maior do que na média mundial. Para cada US$ 100 que se gasta para montar um carro na China, são gastos US$ 160 no Brasil, ou US$ 120 no México.
Graças ao lobby de nossas siderúrgicas, que defendem suas práticas alegando gerar empregos vitais ao país, nosso aço é um dos mais caros do planeta e a importação é praticamente impossível.
Na prática, produzir um carro aqui consome em média 5,3 horas de trabalho, contra 2,6 horas no México. Some isso ao custo da nossa mão de obra e o resultado é um custo crescente, em nome da proteção do emprego nacional. Concorde ou não que devamos incentivá-los por estes meios, na ponta do lápis você paga por cada protecionismo, do operário de uma montadora ao grande grupo siderúrgico nacional, além do seu carro, um brinde de compensação.

2) A margem de lucro

Operar em um dos mercados mais fechados do planeta poderia ser algo desagradável para o setor. Afinal, impede que montadoras de médio porte cheguem por aqui e apreciem a festa, desfrutada em boa parte por quatro montadoras que concentram 53,33% do mercado.
Nada disso desanima as novatas, como a Hyundai, que recentemente entrou para o grupo dos quatro maiores vendedores nacionais de veículos. Ainda que não sejam públicas, dado que as montadoras não são nacionais e portanto seus balanços são publicados apenas no exterior, sem fazer distinção entre vendas aqui e nos Estados Unidos por exemplo, estima-se que a média de lucro das companhias aqui instaladas chegue a 10%, contra 2% nos Estados Unidos e 5% na média mundial.
Some a isto a margem maior por parte de revendedoras, e o lucro ganha papel relevante no preço final.

3) Os impostos

Se o lucro das montadoras assusta, a participação do Estado na brincadeira não sai por menos. Nossas taxas médias de impostos variam entre 48% e 53% do preço final, contra 21% na Argentina, 22% na Itália, 7,5% nos Estados Unidos, 5% no Japão ou 19% na Alemanha. Por onde quer que se olhe, somos campeões neste aspecto.
Ao contrário do que possa parecer, boa parte dos impostos não sai exatamente do bolso das montadoras, mas se acumula ao longo da cadeia de produção. Imagine por exemplo que uma empresa de aço pague 42% de impostos sobre seus produtos. Ao ser tributada, a montadora terá de pagar uma taxa similar com base no valor do aço comprado, já embutido no custo, e, sobre o custo do veículo, pagar os impostos. Em outras palavras: nosso imposto assume um efeito cascata, tornando produtos mais complexos – e com maior número de processos de produção – os mais taxados.
Na média, a cada R$ 100 faturados pela indústria, R$ 42 são impostos, em boa parte graças a este efeito cumulativo.
Em alguns dos casos mais bizarros, era possível – até decisão recente do STJ – que o governo cobrasse impostos sobre impostos, tudo porque, ao calcular quanto do ICMS uma empresa deveria pagar, os valores de PIS/Cofins entravam na base de cálculo.
Assuma por exemplo que um produto custe R$ 20, sobre os quais deverão ser cobrados 20% de ICMS. Até bem pouco tempo, era completamente legal que os governos estaduais cobrassem impostos não sobre os R$ 20 do custo do produto, mas sobre R$ 20 + R$ 2 de PIS/Cofins, fazendo você pagar 20% de imposto sobre os R$ 2 também.
Práticas como essa não são exceções, mas uma consequência da confusão tributária vivida no Brasil há décadas. Gastamos em média 2600 horas para pagar impostos, isto é, para garantir junto à receita que nossos impostos estão OK. No México, o gasto era de 286 horas em 2015, enquanto na Argentina ficava em 405 horas.

4) A demanda crescente

O brasileiro paga o preço da vaidade
Você já deve ter se deparado com afirmações desse tipo e não é difícil cair em algo assim. Afinal, em um país tão desigual, o apelo de ter maior independência com um carro próprio ou o celular top de linha pode pegar, e muito. Na prática, esta é uma parte pequena do valor final. Nossos desafios rotineiros e incentivos perversos acabam sempre pesando mais.
Note por exemplo que, das dez cidades com maior renda per capita do país, metade não possui sequer metrô subterrâneo, e não estamos falando apenas de cidades com desenvolvimento recente.
Nem a nossa empolgação com a Copa foi capaz de destravar obras urbanas tão relevantes em cidades como Curitiba. Em outras capitais, a escolha por BRTs se sobressaiu aos metrôs por questões meramente financeiras (sem contar aí os ganhos com externalidades de se ter menos carros circulando, poluição ou menos acidentes).
Pode parecer lógico, já que incentivar o transporte público voltado aos ônibus impacta a vida de milhões de pessoas. Em longo prazo, porém, com concessões sempre destinadas a meia dúzia de cartéis já estabelecidos, repetimos um erro de acreditar que modais neste estilo sejam capazes de convencer a população a migrar do seu automóvel para outros meios de transporte.
Ironicamente, foi justamente um dos meios mais travados pelos governos municipais nos últimos anos quem iniciou uma mudança. Coloque na ponta do lápis o custo de se ter um veículo hoje, incluindo gasolina, seguro, estacionamento, depreciação, e não é raro encontrar vezes em que um aplicativo de caronas possa sair mais vantajoso.
Justamente aí, na parte de incentivos, como alternativa em relação às tão frequentes multas da indústria arrecadatória, é que o gosto do brasileiro pode, enfim, mudar e impactar também o custo em longo prazo.

5) O mercado fechado

A popularização de marcas estrangeiras no setor na última década foi um daqueles fenômenos raros. Com o Brasil em alta, marcas de todo o mundo decidiram se instalar por aqui, incluindo nomes como Hyundai, que hoje figura no top 4 de maiores vendedores brasileiros.
Como de costume, o governo acabou enxergando nisso uma oportunidade para medidas um tanto quanto controversas. Por meio da lei de conteúdo nacional, incentivou empresas estrangeiras a virem produzir aqui e ampliou os custos de se importar.
Na teoria, a ideia faz bastante sentido. Empresas como CAOA ganharam escala ao importar veículos e revendê-los a um preço competitivo. Com a lei, acabaram construindo indústrias aqui, gerando emprego, renda e um eleitorado bastante feliz.
Produzir localmente algo que sairia mais barato importar porém, é uma decisão via de regra política, e como tal, tem seu custo diluído pela sociedade.
Justamente por nos prendermos a um debate sobre a importância de alguns setores como estes, que agreguem valor à economia, ou cerca de 21% do nosso PIB industrial hoje, acabamos drenando recursos de áreas em que poderíamos ser mais competitivos, não estivéssemos presos ao baile eterno que é a relação entre governo e montadoras.
Como na parábola do que se vê e o que não se vê, temos os empregos gerados pela indústria na parte visível, e os empregos que deixariam de ser criados ao gastarmos menos com coisas do tipo, e poupar para outros bens. O resultado é uma poupança menor do brasileiro, habituado a pagar mais caro em tudo, colaborando com problemas que se estendem bem além da indústria automobilística.

6) A falta de poupança do brasileiro

“Pague 2 e leve 1” é daquelas promoções rotineiras na vida de todo brasileiro. Ao contrário destas, onde o outro produto que você não leva é também chamado de imposto, no caso de bens como automóveis – rotineiramente financiados em parcelas a perder de vista – a conta pode chegar a números ainda mais grotescos. Falamos aqui de pagar entre impostos e o custo de financiamento até seis vezes o valor original de um veículo.
Motivos pra isso não faltam. A falta de poupança do brasileiro é um sintoma grave que quando aliado a um governo que não cabe dentro do seu próprio orçamento, torna-se um problema em qualquer área. A conta, entre poupança e crédito deveria, em tese, sempre fechar, não fosse um mero detalhe: 72% do crédito do país é consumido pelo próprio governo para se refinanciar.
 
No dia a dia, ao comprar um carro parcelado, você precisa literalmente disputar este empréstimo com as atrativas taxas pagas pelo governo para se refinanciar. O resultado é um custo quase invisível, mas bastante sensível no bolso. Some a isto o fato de que as empresas que necessitam ampliar sua produção para atender à demanda estão sujeitas às mesmas práticas e, no final das contas, parte considerável do seu veículo vem desta irresponsabilidade fiscal.
Custos maiores para produzir peças, custos maiores para financiar veículos etc. Nada escapa da lógica irresponsável de incentivar o país apenas por meio do gasto.

O futuro dos predadores | Fernando Gabeira


- O Globo

Os bandidos comem, por ano, 2% do PIB. Sempre que ligo a tevê no noticiário político, o PSDB está deixando o governo ou decidindo ficar com ele. O partido não conhece aquela teoria da dissonância cognitiva. Ela afirma que, uma vez feita uma escolha, a tendência é reforçá-la com racionalizações. Se escolhemos rosas brancas no lugar das amarelas, tendemos a ressaltar a beleza das brancas e a enfatizar os defeitos das amarelas. O PSDB ou está saindo ou ficando. Se decide ficar, faz precisamente o contrário do que acontece na dissonância cognitiva: começa a refletir sobre as vantagens de sair. No momento em que toma a decisão do desembarque, certamente vai falar muito das vantagens de ficar no governo. Enfim, parece ter uma permanente incapacidade de tomar decisões e seguir com elas.

O drama do PSDB se acentuou com as denúncias contra Aécio Neves. Sua tendência quase genética a subir no muro torna-se mais compulsiva no momento em que tem de escolher entre a Lava-Jato e o sistema político em colapso.

O interessante é observar como a existência das investigações mexe com a sorte dos partidos. O PT, por exemplo, torce para que Aécio Neves não seja preso, pois isso destruiria o argumento de que o partido é, seletivamente, perseguido. A prisão de Aécio pode tornar mais fácil a de Lula. Ambos olham com esperança para Temer, não porque o admirem e sim porque é o único com instrumentos potencialmente capazes de salvar todo mundo.

Escolha de Procurador Geral, mudanças na direção da PF — o sonho de consumo das estruturas partidárias cai nas mãos de Temer, por sua vez, preocupado com sua própria situação, sobretudo com o avanço das delações premiadas.

Janot deixa o cargo em setembro. Fala-se em corrida de delações. Ao mesmo tempo, fala-se num acordo para fixar a diferença entre receber dinheiro pelo caixa 2 sem oferecer nada em troca, ou receber em troca de favores oficiais. Quando setembro chegar, talvez termine o primeiro ato. O PSDB vai hesitar muitas vezes, os adversários políticos continuarão fingindo que não estão umbilicalmente ligados no barco que naufraga.

As raposas políticas trabalham para que Temer escolha um substituto amigo para Janot. É preciso ver como isto vai se passar na instituição, se ela se rende com sem luta, ou resiste ao lado da sociedade. Diz a imprensa que a candidata Raquel Dodge tem apoio de Sarney, Renan e Moreira Franco. Se a eleição dependesse do voto popular, esse apoio seria um abraço mortal.

Tudo é possível num país como o nosso. Surreal mas não o bastante para apagar de nossa consciência o gigantesco processo de corrupção que arruinou o país.

Terça-feira acordei em Curitiba e olhei pela janela do hotel: manhã fria, cinzenta e chuvosa. Pensei nos presos que estão por aqui. O inverno será duro para eles. E, certamente, alguns outros virão para cá.

Mas ainda assim, creio que uma fase esteja acabando. Ela não resolve nada sozinha. Mas abre a possibilidade do país enterrar o sistema politico partidário, buscar algo novo, ainda que questionável, como fizeram os franceses, por exemplo.

O esforço de Sarney, Renan, Moreira e outras raposas do PMDB para deter o curso das mudanças é patético.

Pessoalmente não acredito que uma procuradora de alto nível iria se prestar ao papel histórico de se tornar cúmplice da quadrilha que mantém o país oficial na lata do lixo.

Quando setembro chegar, com o ritmo intenso dos acontecimentos, o perigo de um retrocesso talvez já não esteja no ar. Qualquer substituto, minimamente decente, terá de concluir o trabalho já feito. Muitos fatos ainda devem ser desvendados. Algumas delações devem ajudar. Não creio que a de Eduardo Cunha possa ser uma delas. Cada vez que se fala em sua provável delação, é possível que ele enriqueça mais, vendendo o silêncio, inclusive para inocentes.

Mas a carta de Cunha revela uma reunião entre ele, Lula e Joesley que o dono da Friboi não mencionou sua delação premiada. Isso reforça a suspeita de que Joesley esteja escondendo jogo.

Semanas favoráveis, semanas negativas, semanas no muro, tempo vai se passando, as ruínas do velho sistema político partidário se acumulam. No entanto, o debate sobre a renovação ainda não ocupa o espaço merecido.

Com os dados que temos, é possível que as instituições que sobrevivem realizando seu trabalho e a sociedade que as apoia saiam vitoriosas dessa luta.

De nada adiantará essa vitória se não houver uma alternativa de mudança. Nem todos os bandidos serão presos e a força da inércia pode trazê-los de novo ao topo da cadeia alimentar. Eles comem, anualmente, cerca de dois por cento do PIB.

Por que mantê-los, sobretudo agora que estão se desintegrando? O preço do silêncio e da indiferença pode nos levar a perder uma nova chance de tirar o Brasil do buraco.

De prontidão | Eliane Cantanhêde - O Estado de S.Paulo



Boulos se afirma à esquerda, Etchegoyen cresce à direita em Brasília

Se Guilherme Boulos se afirma à esquerda e nos movimentos sociais, um outro personagem cresce à direita e no coração do governo em Brasília: o general de Exército (último posto da hierarquia militar) Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com sala no Planalto e presença certa em reuniões estratégicas.

Com Temer enfrentando batalhas de vida ou morte, os ministros políticos tentando sobreviver à Lava Jato, os econômicos guerreando contra a crise e o comandante do Exército doente, Etchegoyen está cada vez mais forte. Informação vale ouro, quem tem informação tem poder e o GSI controla a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), filha encabulada do SNI de péssima memória. Logo, ele sabe das coisas, e sabe a seu jeito.

O GSI substituiu a Casa Militar e esteve sempre sob comando de generais, mas a convivência entre presidentes e eles oscila entre trocas de gentileza estéreis e ostensivo descaso. FHC, filho, neto e bisneto de militares, respeitava o general Alberto Cardoso. Lula dava dois tapinhas nas costas no general Jorge Felix e depois jogava no lixo, sem ler, seus relatórios. Dilma desprezava abertamente o trabalho do general José Elito e, por fim, extinguiu o GSI nos estertores do seu governo.

Ao assumir, Temer tinha a determinação de recuperar a “normalidade” nas relações com o Congresso, os agentes econômicos, as Forças Armadas e a mídia. Não pensou duas vezes ao reativar o GSI e nomear para sua chefia um militar respeitado e com um sobrenome de grande reverberação no Exército.

Etchegoyen vem de uma área e de uma família para as quais a esquerda, não sem motivos, torce o nariz, mas ele se movimenta bem na área política e não teme jornalistas, entrevistas ao vivo, questões espinhosas. É tido como equilibrado, legalista, um bombeiro no circo pegando fogo. É assim que participa, muito à vontade, das reuniões – e decisões – de cúpula do governo Temer.

Atribui-se a ele a defesa do Congresso, da política e da distinção do “joio e do trigo”: punição diferenciada para os efetivamente corruptos e para os que usaram as regras do jogo, como o caixa 2, mas não enriqueceram com a política. Diz-se também que ele torce contra a prisão de Lula, em nome da preservação da instituição Presidência da República e pelo impacto interno e externo que poderia ter.

Consta que Etchegoyen é quem avalia a troca ou não do diretor-geral da PF, Leandro Daiello. Ele nega. Consta que assumirá o Comando do Exército, caso seu amigo, o prestigiado general Eduardo Villas Boas, decida voltar para casa. Ele nega. Consta que pôs a Abin a bisbilhotar os telefones do ministro Edson Fachin. Ele nega. E consta que ele está cada vez mais poderoso. Ele nega veementemente. Mas... só o fato de ter de negar tantas coisas ao mesmo tempo já diz muito.

Na superfície, bons exemplos de sua força são na segurança pública, área que, assim como a PF, é subordinada à Justiça. Quem coordena o plano de segurança para o Rio é o GSI. E quem abriu uma reunião de secretários de Segurança e chefes da Polícia Civil em Porto Alegre foi Etchegoyen, e o ministro da Justiça só falou depois. A própria Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), como a Funai, está nas mãos de um general.

Assim como muitos reagem irritados a Boulos, chove indignação quando se constata que um general de Exército com o sobrenome Etchegoyen cresce em Brasília – em meio a uma crise pavorosa e à descrença do atual modelo político. Mas fatos são fatos. O que importa agora é saber quais são as ambições e objetivos do general. Aliás, das próprias Forças Armadas.

Plano abortado | Merval Pereira


- O Globo

Plano do governo é trocar Daiello na PF. Trocar o chefe da Polícia Federal em seguida ao relatório que aponta indícios vigorosos de que o presidente da República cometeu crime de corrupção seria uma atitude acintosa de retaliação a uma instituição que, embora subordinada ao Ministério da Justiça, tem sua autonomia garantida pela tradição democrática.

É claro que o novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, tem todo o direito de nomear seus subordinados, e seria impensável que a Polícia Federal fosse intocável como o FBI de Edgar Hoover nos Estados Unidos, o que entrou para a história como exemplo de politicagem de baixo escalão. Hoover espionava todos os presidentes e os chantageava para permanecer no cargo. É claro que o presidente da República, tanto lá quanto cá, tem o direito de trocar os que dirigem suas agências de inteligência. Mas, assim como Trump arranjou problemas por demitir James Comey, então diretor do FBI, também Temer terá problemas com a desejada demissão de Leandro Daiello.

Tudo devido ao momento em que as ações foram tomadas. Nos Estados Unidos, Trump tentou paralisar investigações sobre a influência da Rússia nas eleições americanas que o levaram à presidência. A crise só aumentou, e uma investigação independente está sendo feita para saber até que ponto o presidente dos Estados Unidos tentou obstruir a Justiça, o que, se confirmado, pode levá-lo ao impeachment.

Aqui o nosso presidente já está sendo acusado de obstrução da Justiça, e o pedido da Procuradoria-Geral da República de abertura de processo contra ele chegará ao Supremo Tribunal Federal na semana que se inicia. O encontro do ministro da Justiça com o chefe da Polícia Federal no exato momento em que foi anunciado que o inquérito sobre o presidente da República foi concluído com a acusação de que houve crime de corrupção passiva, e que a perícia no áudio da gravação de Joesley Batista mostra que não houve nenhum tipo de montagem ou manipulação, é indicativo de que está havendo uma movimentação do Palácio do Planalto para tentar controlar as ações da Polícia Federal.

Se confirmada a interferência na Polícia Federal, ainda mais da maneira que está parecendo, mais um ingrediente altamente explosivo será acrescentado a essa receita de crise política. O ministro Torquato Jardim foi nomeado em um fim de semana, justamente para que o Ministério da Justiça tivesse um maior controle sobre a Polícia Federal.

Agora, em outro fim de semana, o novo ministro inicia o movimento, mas tem que recuar da decisão, que parece já tomada, de trocar o chefe da Polícia Federal. Informalmente, em uma reunião na véspera com os representantes sindicais da categoria, ele havia dito que trocar a direção da Polícia Federal está em seus planos.

O governo Temer é acusado, sem que se possa confirmar definitivamente até o momento, de ter reduzido as verbas para a Polícia Federal, no que seria um primeiro passo para inviabilizar sua atuação. Na reunião com os líderes sindicais, o ministro Torquato Jardim anunciou também que vai transferir os agentes que se dedicam à parte administrativa, como passaportes e controle de estrangeiros, para outros setores do ministério, reduzindo a parte operacional da Polícia Federal, que não poderia mais usar esses agentes em casos de necessidade. Além do mais, alegam os sindicalistas que esses agentes tratam de informações confidenciais que são úteis a investigações.

Os principais articuladores da mudança na direção da Polícia Federal seriam o ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, cujo candidato seria o delegado Rogério Galloro, o segundo na hierarquia da Polícia Federal, um policial “de perfil mais político”.

Tudo indica que o governo não se sente forte o suficiente para dar esse passo ousado de tentar controlar a Polícia Federal. Mas os planos são esses.

ANISTIA - RAFAEL BRASIL

Quando jovem, participei da campanha pela anistia. A reinvicação era que ela seria geral e irrestrita, o que foi conseguido. A campanha tinh...