quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ligando os pontos - Hélio Schwartsman


- Folha de S. Paulo

Em apenas 19 dias de gestão, o presidente interino Michel Temer já perdeu dois ministros. Surpresa? Não exatamente.

Temer optou por formar um governo "parlamentarista", isto é, entregando nacos de poder -ou seja, cargos- às principais lideranças no Congresso. Aí é só ligar os pontos. Como boa parte de nossos parlamentares, em especial os mais influentes, são gente enrolada, eu até arriscaria prever que novas baixas virão.

Pelas contas do "Congresso em Foco", 24 dos 81 senadores (29,6%) respondem a acusações criminais no Supremo Tribunal Federal. O chefe da Casa, Renan Calheiros, acumula a invejável marca de 11 inquéritos. Na Câmara a situação é praticamente idêntica. Até o final do ano passado, 148 dos 513 deputados federais (28,9%) tinham pendências no STF.


Assim, não apenas não é surpreendente que ministros caiam feito abacates maduros como também que a Lava Jato não seja algo muito bem quisto em meio a esse público. Se uma fração do que dizem os rumores sobre as novas delações premiadas se materializar, o número de políticos encrencados vai aumentar significativamente. Se pudessem, praticamente todas as lideranças "mainstream" parariam ontem as investigações. Felizmente, não é tão fácil.

A moral da história é que a dimensão judicial da crise está longe de encerrar-se. Vai durar anos ainda. Nesse meio tempo, é preciso seguir cuidando da lojinha e evitar que a economia degringole ainda mais. Isso exige medidas duras, que terão de ser apreciadas por este Congresso. Ele está mais sujo do que pau de galinheiro, mas é o único que temos.

É perfeitamente possível, dentro da lei e das regras democráticas, livrar-se de um presidente fracassado. Desgraçadamente, não dá para fazer o mesmo com 494 parlamentares e permanecer no reino da democracia.

O governo Temer é ruim e pode piorar, mas o Congresso, que sob Dilma travara, talvez volte a funcionar.

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