Ninguém é torturado hoje para confessar um crime. E se for, diante do juiz poderá alegar que só confessou mediante tortura
Ricardo Noblat
Dilma pisou feio na bola em dois momentos da entrevista à Folha de S. Paulo. No primeiro quando disse:
- Olha, não costumo analisar ação do Judiciário. Agora, acho estranho. Eu gostaria de maior fundamento para a prisão preventiva de pessoas conhecidas. Acho estranho só.
E no segundo:
- Não gosto desse tipo de prática. Não gosto. Acho que a pessoa, quando faz [delação], faz fragilizadíssima. Eu vi gente muito fragilizada [falar]. Eu não sei qual é a reação de uma pessoa que fica presa, longe dos seus, e o que ela fala. E como ela fala. Todos nós temos limites. Nenhum de nós é super-homem ou supermulher. Mas acho ruim a instituição, entendeu? Transformar alguém em delator é fogo.
No primeiro: por que ela gostaria que houvesse maior fundamento para a prisão de pessoas conhecidas? Por que só para a prisão de pessoas conhecidas?
Ou se pede maior fundamento para a prisão de pessoas em geral ou não se pede só para um tipo de pessoas.
No segundo: Dilma não disse que foi ela quem sancionou a lei que permite a delação. A lei carrega a assinatura dela. Se a delação não fosse possível, casos de corrupção jamais seriam esclarecidos. Não só casos de corrupção.
A delação, conforme a lei da Dilma, nada tem a ver com a delação da época em que Dilma, presa e torturada, resistiu e não entregou os companheiros.
Ninguém é torturado hoje para confessar um crime. E se for, diante do juiz poderá alegar que só confessou mediante tortura.
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