quinta-feira, 28 de maio de 2015

‘Dilma perde ou Dilma perde’ e outras seis notas de Carlos Brickmann



CARLOS BRICKMANN
Por que, excetuando-se os gritos de “Fora, Dilma”, os principais movimentos de oposição se afastaram do impeachment e entregaram à Justiça, mais lenta que a Política, a tarefa de pressionar a presidente por eventuais irregularidades?
Porque, para a oposição, o PMDB e boa parte da base governista, a situação está ótima. Se o governo der certo, os responsáveis serão Joaquim Levy e Michel Temer; se der errado, a responsável será Dilma. Se Levy sair do governo, a culpa será de Dilma. Se ficar, e seu plano não funcionar, terá sido o pessoal de Dilma que atrapalhou. Se o combate à corrupção for bem, os responsáveis terão sido as CPIs, a imprensa e o juiz Moro. Se for mal, a culpa é de Dilma, que sabotou a investigação. Para que afastá-la e colocar Michel Temer no governo, com a responsabilidade de consertar o estrago? É bem melhor se queixar da falta de condições de trabalho, sabendo que a vitória está garantida.
Hoje, o mundo político se divide entre a turma do “não” e o grupo do “não, senhora”. E, se alguém acha que Lula irá ajudá-la, é bom lembrar que José Dirceu, o capitão do time, o competente coordenador de sua chegada ao poder, ficou a pão e água. Lula estimulou Lindbergh Farias a desafiar o PMDB. Lindbergh agora joga contra Dilma e o ajuste econômico. Não é difícil imaginar quem dá fôlego ao velho cara-pintada. Lula está convencido, como De Gaulle, de que uma das maiores virtudes do estadista é a ingratidão. Lula será o primeiro a ajudar Dilma quando ela não precisar de ajuda.
Até lá, como De Gaulle, será virtuoso.
Eles ganham ou ganham
O caro leitor antipetista ficou feliz com essas observações? Não fique: os vitoriosos nesse braço de ferro são Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Ambos são políticos hábeis, conhecedores do caminho das pedras. Eduardo Cunha, além disso, é estudioso e muito trabalhador. São belas virtudes, mas ninguém ousaria insultá-los chamando-os de gente do bem. São políticos, ponto.
Acham que o que é bom para eles é bom para todos. E, sendo bom para todos, é tudo deles.
A folia federalO grupo pró-impeachment, que marchou a pé de São Paulo para Brasília, lidera as manifestações antigoverno, com apoio de prefeitos que se sentem sufocados com a falta de verbas. O PT acusa o PMDB de inflar as despesas públicas numa época em que é preciso conter os gastos; mas o PT tem Lindbergh Farias e Paulo Paim abrindo fogo contra o controle de despesas.
Michel Temer foi escolhido por Dilma para ser seu coordenador político, mas ela não o convida para suas reuniões de coordenação (e não cumpre as promessas de entrega de cargos que ele, com sua autorização, faz em nome do Governo).
E a oposição oficial? Deve se manifestar assim que terminar a temporada de homenagens no Exterior e quando chegar um novo carregamento de trufas brancas da Itália, o que lhe permitirá reunir seus líderes em bons restaurantes e discutir, entre citações e análise de vinhos, qual sua função na atual conjuntura.
PMDB velho de guerraNão é todo mundo que acredita em divergências entre Renan e Eduardo Cunha. Há quem ache que os dois combinam os papéis: às vezes um é o bonzinho, às vezes é o outro. E, em certas questões, estão totalmente de acordo: não querem, por exemplo, nem ouvir falar de Moreira Franco, apadrinhado por Temer. Lembram que, nos cargos que ocupou, Moreira Franco nunca atendeu à bancada. Cunha vai mais longe: lembra que nenhum secretário de Moreira Franco no Rio conseguiu ser eleito no final do mandato do governador.
Dinheiro não importaA declaração é de Arthur Chioro, o ministro da Saúde: diz que os cortes no Orçamento não afetam os programas de seu Ministério. Dito isso, pergunta-se:
1 – Se os cortes não afetam os programas, por que havia no Orçamento as verbas extras que acabaram sendo cortadas? Era dinheiro desperdiçado, apenas?
- Se o orçamento disponível, mesmo cortado, é suficiente para o Ministério da Saúde, por que a insistência em querer cobrar a CPMF, o imposto do cheque, para financiar a saúde? Se o dinheiro extra é desnecessário, por que o pedem?
Nós pagamos, eles lucramUma notável reportagem do respeitado jornalista Leão Serva, na Folha de S.Paulo, revela algo muito estranho: o prefeito Fernando Haddad está lançando uma Parceria Público-Privada, PPP, para reformular toda a iluminação paulistana. O estranho é que a Prefeitura faz o investimento, com verba da Cosip, o imposto que pagamos pela Iluminação Pública, e o parceiro privado fica com os lucros durante uns bons vinte anos.
Parceria assim este colunista também quer.
Acredite se puderDilma Rousseff concedeu longa entrevista, no México, ao jornal La Jornada: confundiu as cores da bandeira do México, afirmou que o mojito, tradicional coquetel cubano, é mexicano, confundiu toltecas e astecas, colocou os incas e seu império sul-americano dentro do império asteca da América do Norte, achou curiosíssimo o nome de um quadro,Natureza Morta.
Não duvide: a transcrição oficial da entrevista, na íntegra, está emwww.brickmann.com.br/artigos.

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