sexta-feira, 6 de março de 2015

O “Estado islâmico” em ação: a morte da civilização


ORDENS DE MAOMÉ — Membro do Estado Islâmico com furadeira destrói touro alado da antiga civilização assíria, em Mosul (Foto: Reprodução/vídeo)
ORDENS DE MAOMÉ — Membro do Estado Islâmico com furadeira destrói touro alado da antiga civilização assíria, em Mosul (Foto: Reprodução/vídeo)
A MORTE DA CIVILIZAÇÃO
Os terroristas do Isis atacaram um museu no Iraque. Para eles, assassinar pessoas e destruir culturas serve ao mesmo propósito
Reportagem de Paula Pauli publicada em edição impressa de VEJA
Ao conquistarem a França e a Bélgica durante a II Guerra, os nazistas saquearam as obras de arte de famílias ricas, museus, palácios e igrejas. Quadros e objetos variados foram fotografados, catalogados e depois guardados em minas de sal com desumidificadores para que não sofressem com os bombardeios. As obras-primas preferidas por Adolf Hitler seriam expostas após a guerra em um museu na Áustria, seu país natal.
Os terroristas do Estado Islâmico, grupo que desde o ano passado ocupa vastas áreas da Síria e do Iraque, são de uma linha diferente de genocidas. Na semana passada, quebraram a marretadas inúmeras peças do Museu de Mosul, no Iraque. Em um sítio arqueológico nos arredores da cidade, destruíram com furadeira estátuas de touros alados e com cabeça humana que guardavam as portas da cidade de Nínive, na antiga Assíria, entre o século IX a.C. e o VII a.C.
O touro alado de Mosul, na foto acima, era uma divindade que, na crença dos povos babilônicos, protegia as cidades de forças demoníacas. Enquanto os nazistas queriam substituir uma civilização por outra, o Estado Islâmico almeja expurgar qualquer vestígio civilizatório.
Na ideologia desse grupo, que tem um inegável aspecto religioso, devem-se seguir à risca os passos e as palavras de Maomé, que viveu nos séculos VI e VII. Na alucinante justificativa do militante que aparece no vídeo da destruição divulgado na internet, na quinta-feira passada, “o profeta nos ordenou que nos livrássemos de todas as estátuas e relíquias, e seus companheiros fizeram o mesmo quando conquistaram países depois dele”.
Segundo os fundamentalistas, não deve haver nenhum objeto que sirva de culto, mesmo sendo esse de uma sociedade extinta há milênios. O raciocínio é o mesmo usado pelo Talibã, que em 2001 destruiu com dinamite e mísseis duas magníficas e enormes estátuas de Buda em Bamiyan, no Afeganistão. O que vem a seguir, de acordo com os membros do Estado Islâmico, é uma guerra contra “Roma”.
(Foto: Reprodução/vídeo)
Com marretadas, os terroristas do Isis destruíram réplicas de obras de arte expostas no Museu de Mosul (Foto: Reprodução/vídeo)
Na falta de um papa com um exército, a palavra poderia ser interpretada como sendo Turquia, os Estados Unidos ou a Europa. A vitória islamista nessa guerra, que, segundo a propaganda religiosa feita pelo Isis na internet, acontecerá em uma cidade perto de Aleppo, na Síria, dará início à contagem regressiva para o fim do mundo. Dar início ao apocalipse – esse é o objetivo do Estado Islâmico, e não a construção de uma nova sociedade. Daí a investida sem tréguas contra qualquer civilização, antiga ou moderna.» Clique para continuar lendo e deixe seu comentário

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