quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O ditador comunista e o “frei” cristão: o que não foi dito - POR RODRIGO CONSTANTINO


O ditador comunista e o “frei” cristão: o que não foi dito

“Frei” Betto foi uma vez mais visitar o “paraíso” comunista na ilha caribenha, e acabou convidado para uma conversa de uma hora e meia com o dono do pedaço, que transferiu a gestão da ilha para o irmão mais novo como quem deixa o caçula brincar com seus brinquedos (no caso, estamos falando da vida de 11 milhões de pessoas, mas deixa isso pra lá). O resultado foi esta breve entrevista divulgada no GLOBO, jornal que tem o “frei” como colunista.
Por meio dela, ficamos sabendo que Fidel Castro é um “entusiasta” de Obama, o presidente esquerdista americano, e que tece elogios ao Papa Francisco também. Betto, que já pegou em armas para ajudar na revolução comunista, é muito amigo do ditador cubano, e não parece ver nada de contraditório entre essa amizade e sua suposta mensagem de paz cristã.
Deus não tolera um Bolsonaro da vida, mas, pela ótica do “frei”, o ditador assassino deve ter um lugar garantido no céu – talvez um grande e privilegiado lugar, para continuar oprimindo e matando milhares de súditos. De lá, esses ingratos tentarão navegar em nuvens rumo ao inferno, como fazem hoje os “balseiros” desesperados para chegar a Flórida.
O “frei” vermelho disse que seu camarada é muito detalhista: “A cabeça está perfeita. O Fidel é muito detalhista, anota tudo. Quis saber onde estou hospedado, o que eu fiz, com quem falei, e sempre anotando. Ele é o homem do detalhe”. Sim, ele tem mesmo essa mania de querer saber de tudo, onde as pessoas ficam, o que pensam e falam, com quem conversam. E para garantir a precisão das informações, mantém um exército de fiscais e delatores informais. Muita curiosidade e mania de detalhes…
Ainda segundo nosso “frei”, Fidel quer mesmo mais “diálogo” com os “malditos ianques”, e eis como o comunista brasileiro coloca a coisa: “Comentei sobre a carta que ele mandou para a Federação dos Estudantes Universitários, em que aborda o reatamento das relações com os Estados Unidos. Eu disse que o diálogo é importante, é o encontro do caminhão consumista com o Lada (marca de veículos russos) da austeridade. Por enquanto, vai ser muito difícil a sintonia, porque um fala em FM e outro em AM. Ele concordou”.
O “caminhão consumista” é um dos países mais ricos e livres do mundo, com ampla e sólida classe média, e claro, com uma democracia que vem desde sua independência sem grandes choques, sob uma Constituição que sofreu poucas emendas e ainda é essencialmente a mesma. Já o “Lada da austeridade” é uma ilha miserável, com escravos em vez de cidadãos, e um regime totalitário que mantém o mesmo senhor feudal no poder há meio século. Mas é preciso “dialogar”, sabe?, como se cada um tivesse algo de bom para colocar na mesa…
Sobre o presidente esquerdista americano, eis o que Fidel pensa, segundo o “frei”: “Ele é um entusiasta do Obama e acha muito positivo o que o presidente americano vem fazendo. Mas, ao mesmo tempo, diz que o processo é muito longo. Os EUA tomaram uma série de medidas contra Cuba, que precisam ser canceladas”. E eu poderia jurar que quem tomou medidas contra o outro foi Cuba, ao encampar e expropriar empresas americanas e depois apontar mísseis soviéticos para a Flórida…
Perguntado se conversaram sobre as mudanças internas na ilha, “frei” Betto disse: “Não. Abordamos muito política a internacional. Falamos sobre o atentado na França e ele disse que gostou muito da reação do Papa Francisco. Concordou com Francisco e disse: “A liberdade de expressão tem limites. Você pode se expressar, mas não tem o direito de humilhar ou ofender”. Fidel elogiou a atitude do Papa, quando disse que se xingassem sua mãe, devolveria com um murro”.
De limitar a liberdade de expressão Fidel entende, e muito! Para o “frei”, Fidel e o Papa Francisco concordam nesse assunto, como se o Papa fosse endossar a opressão total existente em Cuba. Ninguém teria o direito de humilhar ou ofender, e isso, em Cuba, significa criticar o governo. Claro: Fidel tem o total direito de não se sentir ofendido. É por isso que 11 milhões de cubanos não podem dizer abertamente o que pensam dele. A liberdade de expressão deve ter limites…
O “garoto de recados” da ditadura cubana disse ainda: “Os cubanos, em geral, estão otimistas e ao mesmo tempo apreensivos. Sabem que será um grande choque cultural. Às vezes eu pergunto se estão preparados para a tsunami e recebo de volto uma pergunta: será que estamos preparados? A questão agora é saber como os valores da revolução serão preservados”.
Valores? Quais? Só falta dizer a “educação”, um mito ridículo num país em que todos são doutrinados ideologicamente e engenheiros dirigem táxis enquanto prostitutas possuem diplomas. Ou, quem sabe, a “saúde”, outra brincadeira de mau gosto num país em que falta o básico do básico. Que valores são esses que Cuba deveria preservar? Eu gostaria de saber…
Não sei com quem o “frei” conversou, mas parece ter sido com os membros da nomenklatura apenas, pois disse: “Eu noto que Cuba vive um momento de euforia, o prestígio de Raul é impressionante. Ouvi várias vezes frases do tipo: “A nossa sorte é que os dois estão vivos, pois sabem como conduzir esse momento”. O processo de abertura econômica é inicial, está começando. Mas sinto otimismo de que isso vai melhorar as condições de vida do país”. 
Será que o “frei” acha que somos tão idiotas a ponto de acreditar que o “povo” cubano se considera sortudo por ter Fidel e Raúl no comando da nação? O povo cubano não vê a hora de ir ao enterro de ambos, isso sim! Mas o “frei” não foi “escalado” à toa, não é mesmo? Fui a Cuba com um propósito bem claro, e posso garantir que não tem nada a ver com espalhar a voz de Deus (a menos que Deus seja Fidel).
O que o “frei” Betto não perguntou ao camarada Fidel, e o que a jornalista do GLOBO, Sandra Cohen, também não perguntou ao intermediário, eu pergunto aqui, sabendo antecipadamente a resposta: o senhor não sente vergonha de defender por tanto tempo a mais longa e assassina ditadura do continente?
Rodrigo Constantino

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