domingo, 16 de novembro de 2014

Um novo feriado simbólico no Brasil - ROSEANE OLIVEIRA


ZERO HORA - 16/11

COMO EM 2013, o aniversário da República é marcado pela exposição de uma das piores mazelas nacionais: a corrupção

Em 2013, a calmaria do feriadão de 15 de novembro foi quebrada pela decisão do então ministro Joaquim Barbosa de expedir os mandados de prisão dos réus do mensalão. Neste ano, a Polícia Federal (PF) deflagrou a sétima fase da Operação Lava-Jato na véspera do aniversário da Proclamação da República.

A coincidência na data tem uma carga simbólica: em 2013, a prisão de pesos-pesados da política, condenados por corrupção, entre os quais o ex-ministro José Dirceu; em 2014, a prisão (temporária ou preventiva) de supostos corruptores - dirigentes de empreiteiras que têm contratos com a Petrobras e com outros órgãos do governo.

A conexão com o aniversário da República foi feita - consciente ou inconscientemente - pelo procurador Carlos Fernando, doMinistério Público Federal (MPF), na entrevista coletiva realizada em Curitiba. Carlos Fernando disse que a sexta-feira era um "dia republicano" porque mostra que os alvos da Lava-Jato "não têm rosto nem bolso" e que, independentemente do posto que ocupam, estão sendo responsabilizados.

A sétima etapa da Lava-Jato colocou fermento na crise enfrentada pela Petrobras. As ações da estatal caíram no Brasil e na Bolsa de Nova York, empurradas pela desconfiança crescente dos investidores. A Petrobras é foco de investigações também nos EUA, por conta das denúncias de corrupção.

A Lava-Jato detectou indícios de uma série de crimes: formação de cartel, lavagem de dinheiro, corrupção e fraude em licitações. Embora esteja na sétima etapa, a operação está longe do fim. Falta aparecer a lista de políticos beneficiados com o dinheiro desviado da estatal e responder, com provas, a pergunta-chave para o futuro do governo: a presidente Dilma Rousseff e Lula sabiam ou não sabiam da roubalheira na Petrobras?

- A Lava-Jato vai se expandir para outros contratos com órgãos do governo - avisou o delegado da PF Igor Romário de Paula.

Essa frase acende a luz vermelha em outros gabinetes de Brasília: as empresas suspeitas de envolvimento em fraudes na Petrobras são as vencedoras da maioria das licitações para execução de obras de infraestrutura no país, incluindo aquelas em que o Tribunal de Contas da União encontrou indícios de superfaturamento.

CRISE INVADE AGENDA PRESIDENCIAL NO EXTERIOR

Segundo o ex­-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o diretor de Serviços Renato Duque era indicação de Dirceu, que nega. Costa também envolveu na história o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Uma cunhada dele foi levada para prestar depoimento.

Na Austrália, com o fuso horário de 12 horas à frente, Dilma já tinha se recolhido ao hotel quando surgiram as notícias sobre a mais impactante etapa da Lava-Jato. Em seu primeiro compromisso internacional após a reeleição, as prisões expõem presidente ao constrangimento diante dos chefes de Estado dos 20 países mais ricos do mundo. Desde a manhã de sexta-feira, o que os repórteres que cobrem a viagem menos querem saber é sobre a agenda do G-20.

INFERNO ASTRAL DE DILMA

A Operação Lava-Jato é um pesadelo a mais no cenário conturbado que tira o sono da presidente Dilma Rousseff no período de preparação para o segundo mandato. Reeleita com uma votação apertada, Dilma se viu obrigada pelas circunstâncias a fazer as maldades que dizia que seus adversários fariam, como reajustar o preço dos combustíveis e aumentar a taxa de juro. E os problemas que terá de resolver nos próximos meses não param de surgir. Veja sete obstáculos que Dilma terá de enfrentar nas próximas semanas.

1 Na esteira da crise da Petrobras e da indefinição sobre a nova equipe econômica, a bolsa cai e o dólar sobe, provocando reflexos negativos em diferentes setores da economia.

2 O resultado das contas públicas foi desastroso em 2014, e o governo está tentando aprovar uma manobra contábil para maquiar os maus resultados, com risco de perda de credibilidade.

3 Um conjunto de indicadores negativos divulgados nos últimos dias reforçou a percepção de que conquistas dos últimos anos, como o pleno emprego, estão derretendo.

4 A inflação teima em não ceder, e a economia segue estagnada, com a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caindo a cada Relatório Focus do Banco Central.

5 As relações com os partidos da base governista, normalmente tensas, se complicam na formação do novo governo. Dilma terá de conciliar as demandas dos aliados com a necessidade de montar uma equipe mais eficiente e mais confiável do que atual.

6 É crescente a ameaça de que um desafeto, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seja eleito presidente da Câmara. A presidente virar refém de um parlamentar com o perfil e o currículo de Cunha é dos piores cenários para os próximos dois anos.

7 Multiplicam-se as manifestações de rua promovidas por opositores inconformados com a derrota no segundo turno, aos quais se somam cidadãos indignados com a corrupção e golpistas saudosos do regime militar (1964 - 1985)

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