Pílula do dia seguinte
Com robusta experiência em derrotas eleitorais, arrisco-me a prescrever esta pílula do dia seguinte.
Um dos primeiros aprendizados na derrota é superar qualquer impulso de culpar os eleitores ou regiões inteiras pelo resultado das urnas. É preciso examinar as políticas que nos levaram a esse resultado, os erros que cometemos ao longo do caminho.
Outra ilusão é supor que, eleito, o adversário vá realizar a política de quem perdeu. Muitos esperam mudança na política econômica de Dilma. Sou mais cético, embora reconheça a força da realidade, a enorme pressão que os próprios fatos vão exercer sobre seu governo.
A política econômica de Dilma não nasceu apenas de sua cabeça. Ela tem uma base teórica que sempre foi bastante influente entre os economistas e acadêmicos. O centro do debate é o papel do Estado na economia. Até a crise de 2008 era uma visão na defensiva na própria conjuntura mundial. Como casais condenados a viver juntos, era preciso rediscutir a relação Estado e mercado, o peso que teriam na nova pós-crise.
Isso aconteceu até nos Estados Unidos, onde Obama lançou um plano de recuperação na economia, que agora chega a seu fim, atingindo o objetivo. Caminhos teóricos distintos levaram a escolhas distintas. Na compreensão de Obama, o Estado precisava impulsionar a economia porque é dele que depende sua sobrevivência.
A intervenção do Estado na economia brasileira, em linhas gerais, enfraqueceu o papel do mercado, pelo fortalecimento da intervenção do governo. No campo da energia, as intervenções de Dilma para baixar o preço da eletricidade, voluntariosamente, e conter o preço da gasolina são evidências de que superestimam o papel do Estado. Aliadas, é claro, a uma grande vontade de ganhar as eleições. Os estímulos à indústria automobilística foram uma faca de dois gumes. Eles agravaram o problema da mobilidade urbana, que era um dos motores das manifestações de 2013. Essa política é uma contradição ambulante. Além disso, valeu um processo de protecionismo na Organização Mundial do Comércio.
No meu ponto de vista, o governo esteve sempre mais preocupado com a área da economia que domina: estatais e, indiretamente, a constelação de empresas que giram em torno delas. Houve estímulos via BNDES criando uma órbita em torno do governo. Uma órbita favorecida: toma-se dinheiro público coberto pelo sigilo bancário.
A conclusão oficial foi expressa por Guido Mantega: nossa política econômica foi aprovada nas eleições. A alguns quilômetros dali, Dilma afirmou que a mudança foi a palavra mais ouvida na campanha. Não vi contradição entre os dois, porque Dilma jamais associou a palavra mudança à economia, sempre afirmou que estava no caminho certo, que seu modelo era exemplo universal de como atravessar uma crise sem perda de salário ou emprego.
Durante esse período de exaltação do próprio desempenho, o governo jogou para baixo do tapete dados essenciais. Dois deles já vieram à tona: o rombo de R$ 20 bilhões nas contas públicas e o da redução da pobreza. Outros esperam no pipeline: índice de desmatamento na Amazônia, redução da pobreza, performance no ensino.
Dilma afirma querer esclarecido, em todos os detalhes e nomes, o escândalo de corrupção na Petrobrás. Tenho inúmeras razões para duvidar. O governo tentou bloquear a CPI, os vazamentos indicaram que a própria base do governo está envolvida; Lula e Dilma foram mencionados pelo doleiro Alberto Youssef. A realidade é que o governo vai considerar estratégico desqualificar as investigações. E não está sozinho nisso. As grandes empresas envolvidas contrataram poderosos advogados que fracassaram no mensalão, mas ganharam experiência para o novo confronto: o petrolão.
O Supremo terá 10 dos 11 ministros indicados pelo PT. Claro que alguns deles sabem que o PT passa e o Supremo fica. Mas sua gratidão será cobrada, como foi intensamente cobrada de Joaquim Barbosa. Esse processo do escândalo na Petrobrás será uma intensa luta entre quem quer saber e punir e quem quer esconder e inocentar. Não creio no êxito da tentativa de esconder. O escândalo ultrapassou as fronteiras: auditorias internacionais serão realizadas e as leis americanas são difíceis de driblar.
O assalto à Petrobrás e a política econômica se entrelaçam e podem nos levar a um debate um pouco mais concreto sobre este capitalismo de Estado que o PT impulsiona. A corrupção instalou-se no cofre da maior empresa estatal e se estendeu para toda a constelação que gira em torno dela.
Dilma afirmou que vai entregar o Brasil pronto para um novo ciclo de crescimento. Obama fala como se tivesse concluído a tarefa. Alguém perdeu tempo nestes cinco anos.
Nunca tive a experiência de uma vitória em eleição majoritária. Mas havia uma questão temível esperando o vencedor na manhã seguinte: como fazer tudo o que prometi?
Os anos serão duros para Dilma. Seca no Sudeste, seca de ideias sobre política de recursos hídricos, economia estagnada e uma tentativa de provar que vivemos na realidade dos programas de televisão da campanha. Será preciso um grande plantel de macunaímas para o governo escapar ileso dos fatos, das leis da economia e de um bilionário processo de corrupção. E não podem dizer como o nosso herói sem nenhum caráter: ai, que preguiça!
O desdobramento de uma política econômica fracassada e o desenrolar do maior processo de corrupção da história do País devem produzir um debate muito mais próximo da realidade do que uma fantasia novelesca da agenda eleitoral. Minha esperança é que as pessoas olhem bem para a falência da economia e a gravidade da corrupção na Petrobrás. E esqueçam um pouco quem foi parado na Lei Seca, quem estava preparando tirar a comida da mesa dos pobres para depositá-la no Banco Central independente. Assistimos a uma ficção da pior qualidade. Precisamos voltar à realidade cotidiana. O assalto à Petrobrás foi uma audácia. Audácia maior é o assalto à nossa lucidez.
Caro Professor,
ResponderExcluirDesculpe outra vez usar seu blog para comentar um postagem de outro blog. No caso o do Roberto Almeida que lançou um texto elogiando o Mais Médicos, como se a Dilma ganhando o programa tivesse se tornado a salvação do nosso sistema de saúde, arrasado pelo PT:
"Aconselho-o, nobre e patriota blogueiro a só se consultar com um cubano. A Dilma ganhou mas as imposturas que ela construiu para fazer continuam como antes. Este programa Mais Médicos é um vergonha internacional. Além de financiar uma ditadura horrorosa, os médicos são apenas agentes políticos ou dominados por eles. É uma desonra para o PT que depois de 12 anos de governo tem que usar um programa desses para ganhar as eleições.
E é de uma desfaçatez imensa levar os leitores a pensar porque a Dilma ganhou as eleições o Mais Médico é um programa decente. Pergunte a votação do Padilha em São Paulo, o criador do programa."
Acho que a Dilma tera muitos problemas no proximo Governo. A Dilma herdounda Dilma um pais
ResponderExcluirdestrocafo.
OS PROBLEMAS EXISTEM, OS ACERTOS E ERROS IDEM.TODOS OS ELEITOS E DERROTADOS TEM SIM RESPONSABILIDADE PARA COM O PAÍS.
ResponderExcluirGANHAR OU PERDER FAZ PARTE DO PRÓPRIO PROCESSO POLÍTICO. AGORA, POUCOS OLHAM PARA O PASSADO E CONSEGUEM ENXERGAR DE QUEM TEM O PODER DE APROVAR OS SALÁRIOS DELES PRÓPRIOS E DE UMA CATEGORIA QUE GANHA MUITO BEM.
AONDE ESTAR OS MAIORES ESCÂNDALOS OCORRIDOS NESTE PAÍS ? NO SEARA CHAMADO DE POLÍTICA ELEITORAL PARTIDÁRIA. EM DEZEMBRO DE 2010 OS GRANDES PARTIDOS [PMDB-63; PSDB-43; PP-31-;PR-19-PTB-14;PSB-15; PT-34; DEM- 25 ;FORA OS OUTROS PEQUENOS] FORMARAM UM BLOCO DE 280 DEPUTADOS FEDERAIS E APROVARAM A ISONOMIA SALARIAL.
ISTO É, À PARTIR DAQUELE MOMENTO TODOS OS DEPUTADOS FEDERAIS DO BRASIL E SENADORES PASSARIAM A GANHAR IGUAIS AO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
VI E ASSISTI PELA TELEVISÃO O LULINHA DIZER PUBLICAMENTE: " É ISSO MESMO ENQUANTO O LULINHA GANHOU R$ 10.400,00 VOCÊS GANHARAM R$ 16.509,12. E AGORA PASSARÃO A GANHAR R$ 26.723,13 POR MÊS".
233 DEPUTADOS FEDERAIS SE AUSENTARAM E TRÊS DELES DO PSOL VOLTARAM CONTRA. PSDB-PMDB-DEM(PFL E PPS)FORMARAM O MAIOR BLOCO DE 1994 A 2002 E NADA FIZERAM PARA MUDAR. O PT-´PMDB-PSB-PP-PTB-PDT E OUTROS PEQUENOS FORAM TAMBÉM O MAIOR BLOCO NO CONGRESSO NACIONAL E TAMBÉM NÃO MUDARAM NADA.
QUANDO O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUISERAM ACABAR COM AS FARRAS DE OS EMPRESÁRIOS INVESTIREM MUITO DINHEIRO NOS PARTIDOS E NOS POLÍTICOS ELES MESMO FORAM CONTRA.
QUANDO A DILMA SE REUNIU LOGO APÓS OS MOVIMENTOS SOCIAIS EM 2013 E PASSOU A BOLA PARA O CONGRESSO NACIONAL DIZENDO QUE ELES PEDIAM UMA REFORMA POLÍTICA IMEDIATAMENTE ELES REPUDIARAM.
QUANDO A PRESIDENTA DILMA MAIS UMA VEZ SAI ELEITA NO SEGUNDO TURNO E LEVANTA A BANDEIRA DA REFORMA POLÍTICA O CONGRESSO NACIONAL REAGE AO CONTRÁRIO.
TODAS AS OPOSIÇÕES DO BRASIL SABEM DE COR DE QUE O MAIOR PROBLEMA DO BRASIL SE CHAMA CORRUPÇÃO ELEITORAL.SÃO BILHÕES GASTOS DOS COFRES PÚBLICOS ENTRE PREFEITOS, GOVERNADORES E PRESIDENTE, ENTRE EMPRESÁRIOS E EMPREITEIRAS, ENTRE BANQUEIROS E INDUSTRIAIS QUE, ASSUSTA QUALQUER UM.
ESSAS FIGURAS MANDAM MUITO DINHEIRO PARA OS PARTIDOS E POR DEBAIXO DO TAPETE MANDAM MUITO DINHEIRO PARA AS BASES PARA COMPRAR O ELEITORADO POBRE E MÉDIO QUE SE VENDEM MESMO.
AS ELEIÇÕES PARA DEPUTADOS ESTADUAIS E FEDERAIS, SENADORES E GOVERNADORES FORAM TODAS COMPRADAS. NÃO SEI E NÃO TOMEI CONHECIMENTO DE QUE UM PREFEITO EM PERNAMBUCO NÃO CONSEGUIU DAR A MAIORIA DOS VOTOS AOS SEUS DEPUTADOS ESTADUAIS E FEDERAIS.
O QUE FALTOU AO PSDB PARA GANHAR AS ELEIÇÕES NO NORDESTE FOI DINHEIRO E MUITO DINHEIRO. POR EXEMPLO: UM DETERMINADO CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL E FEDERAL APOIAVAM EM CAETÉS O PREFEITO ATUAL E NA MINHA CIDADE ERA CONTRA O PREFEITO ATUAL.
AMBOS APOIAVAM EM CAETÉS A PRESIDENTA DILMA E NA MINHA CIDADE TAMBÉM,MAS METIAM O PAU NO PREFEITO QUE APOIAVAM A DILMA TAMBÉM. UM FILIADO AO PSDB E OUTRO AO PSC.O CANDIDATO A PREFEITO FILIADO AO PSDB E O PREFEITO AO PSB. ATÉ HOJE EU NÃO ENTENDO ISTO SOB HIPÓTESE NENHUMA.