terça-feira, 19 de agosto de 2014

O MODELO DA MACROMÉTRICA E A PESQUISA DATAFOLHA - POR MAURICIO ROMÃO

O MODELO DA MACROMÉTRICA E A PESQUISA DATAFOLHA

19/08/2014
Maurício Costa Romão
 A Macrométrica, consultoria do ex-presidente do Banco Central, Chico Lopes, elaborou um modelo estatístico que faz projeções sobre resultados de eleições presidenciais.
Segundo matéria do jornal Valor Econômico, escrita por Sérgio Lamucci, em 12/08/2014, sob o título “Macrométrica projeta vitória do PSDB com modelo de estatístico americano”, para fazer projeções a consultoria: 
“… usou o esquema de análise de Nate Silver, o editor-chefe do site “FiveThirtyEight”. Silver ficou famoso por ter acertado o resultado de todos os 50 Estados na eleição presidencial americana de 2012, quando Barack Obama se reelegeu, ao vencer Mitt Romney”.
Aplicando esse modelo da Macrométrica à pesquisa do Datafolha dos dias 14 e 15 de agosto do corrente ano, têm-se os seguintes resultados, projetados na suposição de que as eleições se realizassem agora:
Intenções de voto na pesquisa do Datafolha
Primeiro turno: Dilma Rousseff 36%, Marina Silva 21%, Aécio Neves 20%, outros 6%, brancos e nulos 8% e não sabe/não respondeu 9%.
Segundo turno – Cenário A (Dilma X Marina):
Dilma 43% e Marina 47%, votos brancos e nulos 6% e não sabe/não respondeu 4%.
Votos não comprometidos com essas duas candidaturas (VNCa) no primeiro turno: 43% (votos de Aécio + outros candidatos + brancos + nulos + indecisos).
Segundo turno – Cenário B (Dilma X Aécio):
Dilma 47% e Aécio 39%, votos brancos e nulos 9%, não sabe/não respondeu 5%.
Votos não comprometidos com essas duas candidaturas (VNCb) no primeiro turno: 44% (votos de Marina + outros candidatos + brancos + nulos + indecisos).
Aplicação do modelo
Na passagem do primeiro para o segundo turno os VNCa diminuíram em 33 pontos (43% p/ 10%).
Logo, esses 33 pontos foram apropriados pelos dois candidatos que estão no segundo turno, Dilma e Marina. E como foram distribuídos entre eles? Dilma recebe 7 pontos (passa de 36% p/ 43%) e Marina fica com 26 pontos (passa de 21% p/ 47%).
Em termos de proporção, Dilma ganha 21,2% e Marina 78,8% dos votos dos não comprometidos, osVNCa . Estas proporções são chamadas de fatores de conversão.
Até aqui os dados são diretamente extraídos da pesquisa.
Observação
Como é de praxe ao final de cada eleição, no segundo turno, os votos não comprometidos sempre diminuem: os indecisos se decidem e só fica uma pequena parte de votos brancos e nulos. Por exemplo, na eleição de 2010, as urnas registraram 6,7% de votos brancos e nulos no segundo turno.
Suposição
A partir de agora, assim como faz a Macrométrica, supõem-se que os não comprometidos sejam da ordem de 7%, no segundo turno.
Ora, se só existem 7% de VNCa no segundo turno, então, vão ser distribuídos 36 pontos entre os dois candidatos (43% menos 7%).
E como será feita esta partição? Na mesma proporção anterior (outra hipótese): Dilma fica com 21,2% e Marina com 78,8% dos VNCa (deduzidos os 7 pontos mencionados).
Logo, Dilma obtém 7,6 pontos dos 36 e Marina, 28,4 pontos. Ou seja, Dilma fica com 43,6% dos votos e sua concorrente com 49,4%, sendo que os brancos e nulos, por construção, somam 7%.
Arremate
Como a apuração oficial do TSE é feita em votos válidos (sem os 7%), o resultado da eleição no segundo turno será a vitória de Marina por 53,1% contra 46,9%, uma diferença de 6,2 pontospercentuais.
Se a hipótese de 7% de brancos e nulos é modificada para 8% (mais representativos, talvez, do sentimento antipolítica que grassa na sociedade pós-manifestações de junho do ano passado), a vitória de Marina dar-se-ia por uma margem menor: 52,8% a 47,2%, uma diferença de 5,6 pontos, considerando-se as mesmas taxas de conversão.
Pode-se fazer também a suposição de que a parte da alienação eleitoral que corresponde aos votos brancos e nulos contrarie as previsões nesta eleição de 2014.
Imagine-se, por exemplo, que os votos brancos e nulos sejam até menores que em 2010, algo como 6%. Aí se amplia ligeiramente a margem pró-Marina e ela colocaria uma frente de 6,8 pontos, saindo vencedora do pleito por 53,4% a 46,6%, dadas as taxas de conversão.
O raciocínio a ser empregado no cenário em que aparecem Dilma e Aécio no segundo turno é o mesmo deste em que figuram a presidente e Marina.
Na hipótese de o segundo turno acontecer com Aécio, ele ficaria com 46,7% dos votos válidos e Dilma asseguraria a vitória com 53,3%.
Considerações finais
O modelo da Macrométrica parece não precisar da sofisticação das estatísticas de Nate Silver, pelo menos enquanto usado em uma só pesquisa. Na verdade, trata-se de um modelo simples, que depende das taxas de conversão extraídas das pesquisas (21,2% para Dilma e 78,8% para Marina, nesta pesquisa do Datafolha, por exemplo,) e da hipótese sobre quantos por cento serão os votos brancos e nulos no segundo turno.
Apesar da sua simplicidade, trata-se de ferramenta muito útil para estrategistas e analistas eleitorais.
O modelo mostra uma importante conclusão: quanto maior o total de brancos e nulos, dadas as taxas de conversão, mais diminui a distância entre a presidente e Marina e mais a petista se afasta de Aécio.
Neste modelo, portanto, se estabelece um paradoxo: as inquietudes de junho de 2013, que ensejaram sentimentos apolíticos e antigovernos, tendo o governo federal como alvo mais destacado, podem provocar aumentos nas taxas eleitorais de indiferença (votos em branco) e de protesto (voto nulo) que beneficiam o próprio governo!
Outra dedução interessante é sobre as taxas de conversão. Se as taxas de conversão de Marina e Aécio diminuírem (quer dizer, quanto menos receberem votos dos não comprometidos na passagem do primeiro para o segundo turno), mais Dilma tem chance de vencer a eleição.
Um elemento importante por trás dessas possibilidades que dão musculatura numérica a Dilma Rousseff é o seu “estoque” de votos no primeiro turno, etapa em que lidera a corrida presidencial bem à frente de seus concorrentes mais diretos.
Com efeito, na passagem do primeiro para o segundo turno, a presidente agrega poucos votos proporcionalmente, quer dizer, tem baixa taxa de conversão, mas carrega consigo um robusto estoque de votos, o que se constitui numa grande vantagem no confronto final.

Por outro lado, quanto mais se estreitar a diferença de intenção de votos no primeiro turno entre a presidente e os seus oponentes, mais chances têm a oposição de ganhar o pleito no segundo turno.

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