domingo, 27 de janeiro de 2013

MUDOU SIM, E NÃO FUNCIONA


Mudou, sim. E não funciona

25 de janeiro de 2013 
Autor: Carlos Alberto Sardenberg
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Carlos Alberto Sardenberg2
Trata-se de uma quase unanimidade. Tirante os economistas do Banco Central, praticamente todos os demais acham que a inflação brasileira não alcança a meta oficial (4,5%, pelo IPCA, índice do IBGE) nem neste ano, nem no próximo, nem sabe-se lá quando.
Mas depois desse consenso, as opiniões começam a se dividir. Uma turma acha que isso é grave, que não se pode brincar com a inflação no Brasil e que a alta de preços é um imposto contra os mais pobres. Aliás, a inflação das famílias mais pobres está mais elevada do que a dos ricos.
Outra turma, dos economistas do governo ou aliados, acha que não tem nada demais numa inflação de 6,5% ao ano, número que estaria dentro da meta. Não é bem assim. Convém explicar: a meta, fixada pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% ao ano. Admite uma margem de tolerância (ou de erro, se quiserem) de dois pontos abaixo ou acima, isso para situações excepcionais, fora do controle do Banco Central.
Mas três anos seguidos com inflação na média de 6% ao ano não podem ser chamados de excepcionais. Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, a inflação corrente subiu de novo para os 6%. Ou seja, este é o ritmo de alta de preços no Brasil, acima da meta, abusando da margem de tolerância.
E isso apesar dos truques, como aquele, quase permanente, de segurar o preço da gasolina e outro, mais recente, de acertar com os prefeitos do Rio e São Paulo o adiamento do reajuste das tarifas de ônibus, previsto para este mês. No primeiro caso, estraga as contas da Petrobrás. No segundo, das prefeituras. É a maldição: em política econômica, toda gambiarra gera uma contra-gambiarra.
Mas todo esse debate poderia ser resolvido de modo muito fácil, dizem aliados do governo. Basta dizer que a meta de inflação agora é de até 6,5%. Mesma coisa que esses mesmos economistas estão propondo para o superávit primário. Em vez de o governo roubar nas contas para atingi-lo, basta reduzir o alvo.
Por que o governo não fez isso?
Reparem que é o mesmo padrão no caso do dólar, tratado aqui na semana passada. Todo mundo sabe que o real foi deliberadamente desvalorizado pelo governo e que a cotação agora varia numa banda de R$ 2,00 a 2,10 por dólar. De novo, críticos e aliados da presidente Dilma concordam nessa constatação, os primeiros, claro, achando errado, os segundos, certo. Mas o governo jura que não tem banda e sim uma clássica de taxa de câmbio flutuante.
É a maldição: em política econômica, toda gambiarra gera uma contra-gambiarra
Economistas ligados à linha desenvolvimentista (alguns preferem neo-desenvolvimentismo, sabe-se lá por que) sempre sustentaram que um país emergente terá inflação mais alta que os desenvolvidos e estáveis. Não haveria problema com alta de preços de 10% ou até 15% ao ano, se esse fosse o custo para uma expansão acelerada. Mais inflação em troca de mais crescimento, tal é o mote.
Acrescentam-se a essa receita a moeda desvalorizada e gastos públicos elevados.
Se o governo Dilma não está fazendo isso, então faz algo muito parecido. Mais ainda: havia mesmo a expectativa de que a presidente fosse pouco a pouco alterando os parâmetros da política econômica herdados da era FHC e que haviam sido mantidos por Lula por necessidade e não por convicção.
Assim, resultam duas possibilidades. Ou a política não mudou, apenas estaria sendo, digamos, mal executada. Ou mudou e o governo não quer admitir isso para não criar expectativas negativas, sobretudo lá fora, ou porque a mudança não está funcionando.
Afinal, temos inflação elevada e baixíssimo crescimento. O governo aumenta seus gastos e as obras não aparecem. O real foi desvalorizado, mas as importações crescem e os brasileiros continuam torrando dólares lá fora (US$ 22 bilhões no ano passado!).
Até aqui pelo menos, os fatos dizem o seguinte: a política mudou e não deu certo. Que fazer? Voltar ao padrão clássico ou aumentar a aposta neodesenvolvimentista?
Pode ser também que o governo não tenha uma política, mas apenas alvos. E cada vez que atira em um, acerta no que não devia. Um exemplo da hora: a redução das tarifas de energia vai estimular famílias e empresas a consumir mais, lógico. Isso em um momento em que os reservatórios das hidrelétricas, a energia mais barata, estão em ponto crítico, exigindo o auxílio das usinas termoelétricas, mais caras. O processo ainda retira recursos das companhias hidrelétricas, diminuindo sua capacidade de investir em novas fontes.
O pior de tudo é que o Brasil já viu isso nos anos 70 e 80

5 comentários:

  1. Sos observe a matéria citada acima e diga se podemos confiar num governo desses ?

    À mudança é algo inevitável ?

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  2. É
    Sr. Pedro,
    Realmente não da para confiar, mas me lembro que na fase final de campanha para presidente em 2002 o dólar foi a quase 4,50 R$ e de quem era culpa? Desde o então só vejo esse governos favorecer o bancos privados e bancos do próprio governo, e o cidadão que se ferre. Se queremos financiar uma casa, maior burocracia e juros absurdos a longo prazo, carro pior ainda compramos 1 e pagamos 3 ou 2. Realmente não mudou nada. Por isso falo pra você que são todos da mesma coja. Então meu amigo, a receita todos tem. Mas a coragem é de poucos.

    Abraços e boa semana sempre...

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  3. Não pense assim , á mudança deve acontecer , mesmo que não surta o efeito esperado. Não pode-se aceitar um lado só no poder, devemos usar nossa capacidade de mudança, ou , o país regressará ao tempo da ditadura.

    Boa noite Sos e desculpe os excessos .

    JUCATI- PE

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  4. Realmente, é preciso coragem, e muita força de comunicação com a sociedade, além de articulação política, para mudar. Ou seja, precisamos urgentemente de um verdadeiro estadista, o que não temos há décadas. O único que tivemos realmente foi Getúlio Vargas, cujo legado deve ser destruído. Pode ter sido importante nos anos trinta do século vinte. Não é mais, embora as forças políticas que estão no poder, inclusive o PSDB, façam de tudo para manter o paciente permanentemente na UTI. Até quando?

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  5. Gostei SOS. Você está fazendo bons comentários, sem arrogância nem provocações. Críticas sim, esculhambação, não. Saudações democráticas. Gostaria que você se identificasse. Mas se não, tudo bem. Um abraço.

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