A
convite do professor Rafael Brasil, amigo de longas datas, mesmo ele
sendo hoje confessadamente de direita, enquanto me inclino mais à
esquerda, estive hoje na Serra do Tará, que se não estou enganado está
praticamente na divisa dos municípios de Caetés e Venturosa. A fazenda
de Faé, herdada do seu velho pai, fica próxima a estrada que liga
Garanhuns/Arcoverde, num terreno íngreme cheio de pedras e uma bela
visão do que é o semi-árido nordestino. A serra é um lugar tão
encantador e meio mágico, em nossa paisagem, que foi escolhido para as
cenas iniciais do filme "Lula, o Filho do Brasil". O professor não gosta
de Lula nem um pouco e por isso detesta a obra cinematográfica sem
precisar assistir. Devia conferir só para comprovar que sensação boa é
ver um lugar assim, podemos dizer "da gente", eternizado no cinema. Mas
isso não vem ao caso, independente de posições ideológicas, sétima arte
ou qualquer outra coisa conservo pelo meu amigo o mesmo afeto dos tempos
de Olinda, quando passávamos tardes inteiras conhecendo as novidades da
MPB dos anos 70, como Fagner, Belchior, Zé Ramalho, Amelinha. Éramos
jovens e sonhávamos com o fim da ditadura de Ernesto Geisel e depois
João Batista Figueiredo.
O Rafael Brasil Filho era comunista neste tempo. Alguém imagina uma coisa dessas?
O professor e sua esposa,
Josinete, receberam este escriba - devidamente acompanhado de Tereza e
Carolina - com aquele sorriso e nos serviram uma excelente buchada de
bode, acompanhada de todos aqueles apetrechos que fazem deste prato um
dos mais saborosos e interessantes da culinária nordestina. Depois de
comer, Faé soltou o verbo e disse o que queria de Lula e Dilma,
criticou o PT e as esquerdas em geral e não escondeu sua admiração pelo
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Depois falou abertamente dos
problemas de Caetés batendo sem dó na administração municipal. Disse que
seu município é um escândalo e sem medo de ser acusado de homofobia
insinuou que o prefeito é homossexual: "O namorado dele está de carro
novo", reclamou, só faltando dizer que o dinheiro do veículo saiu dos
cofres municipais. "Pode publicar que eu, Rafael Brasil, assumo",
recomendou o professor.
Como outros integrantes da
oposição de Caetés, Faé está desconfiado de que Lindolfo fez algum
acordo com Zé da Luz. A seu ver, o município precisa de mudança e está
na hora de testar um nome novo. Acha que uma chapa formada pelo
ex-vereador Neguinho (não soube informar o nome do político porque todos
só o chamam assim) e Carlos do Correio teria condições de empolgar os
caeetenses.
O filho do ex-prefeito sabe que
as oposições devem estar unidas. Armando, Galego, Severino Gordo, Dra.
Gisele e outras lideranças devem dar as mãos e pensar num projeto para
Caetés. Ou fazem isso ou Zé da Luz elege novamente quem quiser.
Todo esse papo sobre política -
nacional e regional - teve como fundo musical o alagoano Djavan. As
canções mais bonitas desse excepcional artista foram executadas no som
do dono da casa e da sala o repórter via uma parte da serra,
naturalmente atento tanto às conversas quanto à música de qualidade com
que era brindado.
Ainda falei com Ricardo, irmão
de Rafael, um sujeito boa praça a quem a gente sempre vê de bom humor.
Estava com Rodrigues, um cara de cor escura e sorriso claro, gente boa.
Lembro dele moço, jogando nos times de futebol de Caetés, de Capoeiras e
também na AGA. Era um craque.
Outro que estava lá era o
professor Carlos Eduardo, hoje funcionário da Secretaria de Educação de
Capoeiras e uma das pessoas de confiança da secretária Josevalda
Cavalcanti. Edu chegou na sala, de surpresa e durante quase 3 ou 5
minutos declamou uns versos muitos bonitos. Sinto não tê-los guardados
na memória, contudo garanto que era uma poesia bem construída. E ele tem
talento para declamar. Fiquei curioso para saber o autor, Josinete
também e quando ela perguntou o mistério se desfez: "Os versos são
meus", disse.
Depois
disso tudo ainda passei em Capoeiras, dei benção a minha amada mãe
Maria das Neves, cumprimentei meu irmão rubro-negro, o Júnior e dei uma
passada na Loja de Linda Almeida. Estava lotada, muita gente jovem,
aquela atenção de sempre dos funcionários e é impossível não comprar
alguma coisa.
Uma tarde assim, para conversar
com os amigos, comer buchada, discutir política, ouvir música, apreciar
poesia e fazer compras não é todo dia, não é mesmo? A gente tem mais é
de agradecer a Deus.
Avisei
a Josinete, a mulher de Faé: "Eu sofro de uma doença. Estou aqui, mas o
texto já está pronto na cabeça. Quando chegar em casa vou relatar este
momento no blog". Ela com muita generosidade disse não se tratar de
doença nenhuma e sim de um talento. Pode ser. Espero que alguns leitores
concordem com ela e mesmo que falte o talento anunciado aprovem a
postagem. Seja pela poesia, pela música, a parte política ou pelo menos
pela buchada. (A foto da Serra do Tará é do Elio Rocha).
Texto de Roberto Almeida.
Perdi uma grande farra Rafael, fui "inventar" de extrair um dente!
ResponderExcluirFica para a próxima, a serra do Tará que me espere!!!!!