Encerrada a fase das despedidas, começa a semana das festas que marcam o início das campanhas ainda sem os candidatos oficialmente escolhidos. Depois disso se inicia o período mais perigoso de todos: dois meses de limbo, até as convenções de junho.
Os candidatos ainda não são candidatos, já deixaram os cargos importantes que ocupavam, precisam se manter em atividade permanente e diária. Só que descontando jornalistas e políticos, ninguém mais está pensando 24 horas em eleições.
Se você tem candidatos ocupando cargos no governo é uma coisa. Há a cobertura natural decorrente das atividades governamentais. Quando voltam à planície, é necessário que seus movimentos sejam jornalisticamente interessantes. Natural, então, que cada um se empenhe em assegurar presença no noticiário.
A Advocacia-Geral da União tem o entendimento de que Dilma Rousseff pode participar de eventos oficiais do governo federal como convidada do presidente Luiz Inácio da Silva. Isso não quer dizer que a Justiça Eleitoral entenda da mesma forma. A AGU é governo.
Ainda que não possa andar junto do presidente, por alguns dias Dilma estará garantida como convidada de convenções de partidos da base aliada e até do PT em vários Estados.
O mesmo vale para Serra e eventos organizados pelo PSDB e aliados. Os dois principais candidatos sempre terão repórteres junto deles. Atrás da foto mais original, da frase mais inusitada e da tolice mais saborosa ou da explosão de temperamento mais reveladora. A questão é: há eficácia real na formação do conhecimento sobre os atributos de cada um dos candidatos na cabeça do eleitor nessa fase ou a entressafra cumpre apenas um roteiro malfeito da Lei Eleitoral?
A rigor, não existe campanha. Não pode haver debates. O programa eleitoral só começará em agosto. E até lá o que fazem? De substancial para o público muito pouco.
A campanha para o eleitor será no segundo semestre. Até agora o que se viu foi campanha para arrumar a vida de partidos e candidatos.
Um duro danado. A Advocacia-Geral da União vai ter trabalho para convencer a Justiça Eleitoral de que o presidente Lula exercerá suas atividades de campanha fora do expediente de trabalho.
Ele mesmo estabeleceu a premissa de que a prioridade de governo agora é eleger Dilma Rousseff. Isso posto, avisou que quem quiser derrotá-lo terá de "acordar mais cedo". Quer dizer, já começa o dia em campanha. No horário do expediente, portanto.
Quando chama para si a disputa, se põe na condição de candidato de fato impossibilitando na prática a separação das figuras do presidente e do cabo eleitoral.
Pelo modelo que vem adotando dificilmente deixará de se licenciar do cargo mais à frente para poder continuar ajudando Dilma sem ficar tão vulnerável a ações judiciais.
Quando surgiu a notícia sobre a licença semanas atrás, o presidente negou, dizendo que isso equivaleria a desqualificar a candidata. Daria a impressão de que ela por si não seria capaz de conquistar o eleitor. Ocorre que tanto Lula quanto Dilma derrubaram esse argumento na cerimônia de despedida da ministra do governo.
Lula, ao convocar o adversário à luta direta com ele, transformando a candidata em sujeito oculto da eleição; Dilma, ao se referir 28 vezes num único discurso ao "senhor" de sua plataforma presidencial.
Sem acordo. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, nega qualquer possibilidade de acordo com o PT para evitar ações na Justiça Eleitoral. Guerra diz que procurou o presidente do PT, José Eduardo Dutra, para falar sobre as greves de funcionários públicos de São Paulo e pedir ajuda para contenção dos radicais.
Dutra se dispôs a atuar "na medida do possível". Aproveitou para abordar o assunto da "judicialização" da política, mas, segundo Guerra, não pediu ao PSDB que evitasse recorrer à Justiça. "Até porque não adiantaria. Nossas relações políticas são civilizadas, mas a Lei Eleitoral é assunto dos advogados."
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