No dia 24 de janeiro que passou, fez-se o centenário da morte de Lênin, o grande líder e estrategista da chamada Revolução Russa em outubro de 1917. Antes o marxismo era cultuado por uma ínfima minoria de aficionados na velha Europa, onde o turbilhão da revolução francesa gerou inúmeros movimentos socialistas ao longo do século XIX. Marx foi não só um teórico, mas um participante ativo do movimento operário a partir da segunda metade deste século. Fundou a primeira internacional comunista em 1864. Engels, seu fiel escudeiro e financiador, fundou a Segunda Internacional em 1889, depois da morte de Marx em 1883. Lênin foi um crítico voraz da Segunda Internacional, considerada por ele, muito, digamos, moderada. E de fato, levando em consideração as características russas, fez a revolução através de um golpe de estado em outubro de 1917, com uma aliança com os camponeses, fora do marxismo clássico, em que a revolução deveria surgir nos países mais adiantados do capitalismo, no caso Inglaterra e Alemanha, ambos com grandes massas operárias, porque com uma industrialização avançada.
A revolução de outubro foi um processo que se desenrolou pelo vácuo do poder advindo da desastrosa condução do czarismo, e depois dos social democratas no poder, em relação a participação russa na primeira guerra. Em outubro de 1917, Lenin, e seus aguerridos bolcheviques invadiram o Palácio de Inverno em São Petersburgo, e a revolução se daria na sangrenta guerra civil que se seguiria, matando cerca de 10 milhões de pessoas, com carnificinas de todos os lados.
Neste processo, a consolidação se deu em 1921, com a vitória , inesperada por muitos, dos comunistas. Lênin foi um grande estrategista político e um homem obstinado. Se preocupava mais com as táticas e estratégias do movimento do que em questões meramente teóricas. Era também um asceta, inteiramente dedicado ao movimento, o qual dedicou toda a sua vida no exílio a organizar. Teve como companhia principal León Trotski, brilhante orador e agitador de massas, e organizador político. Foi ele que fundou o exército vermelho revolucionário, que comandava de um trem blindado durante a guerra civil.
Lênin começou a pensar como seria o socialismo, sobretudo nesta fase transicional de ditadura do proletariado, afinal o próprio Marx nunca deixara uma linha sequer de como seria o socialismo. Baseado na Alemanha, militarizou o trabalho, e começou a apropriação de tudo pelo estado. No campo fez uma reforma agrária expropriando os grandes proprietários, e entregando aos camponeses, o que fez a revolução popular no campo, no início, garantindo a aliança com os camponeses.
Depois o regime sob Stálin massacrou os camponeses na década de 30, matando cerca de 20 milhões, mas isso é outra história. Porém em 1921, dado a desorganização econômica e a fome generalizada, Lênin cria a NEP, nova política econômica, recolocando a economia de mercado em vigor, ou seja a capitalista como prioridade, fazendo com que a economia respirasse um pouco. Em 1921 a produção econômica era menor do que a de 1912.
Depois se sua morte em 1924, uma luta pelo poder se seguiu com a vitória de Stálin no final dos anos 20. Trotski era um grande agitador e teórico político, mas o então desconhecido Stálin começou a controlar a máquina do partido, em outras palavras era quem contratava e demitia.
Porém, depois da vitória dos comunistas em outubro, todo movimento comunista internacional passou a seguir a orientação de Moscou a partir de 1919, quando criada por Lênin. E realmente o marxismo, agora rebatizado de marxismo leninismo, direcionou toda a politica do sangrento século XX .
Em seis semanas Lênin fundou as bases do estado totalitário. Extremamente autoritário, ele não admitia discordâncias, acabava amizades de décadas por causa de um posicionamento político. Durante a revolução massacrou impiedosamente ex aliados como anarquistas e social democratas, e esta prática atravessou todo o século XX, inclusive no Brasil com os dissidentes. Criou as bases da polícia secreta e os campos de concentração, onde calcula-se que cerca de 30 milhões de pessoas pereceram durante o reinado comunista. Aliás muitos tentavam livrar Lênin do advento do totalitarismo, mas quando Stálin chegou ao poder, tudo estava mais ou menos organizado.
Morreu de trombose em 1924, quando Stálin já começara a aparecer, muito discretamente, mas resolutamente. E o resultado todos sabemos. O totalitarismo, comunista ou nazista, foram os mais sangrentos regimes da história da humanidade. Sob seus escombros jazem cerca de 150 milhões de almas, isto sob o comunismo, e em tempos de paz. Escravizou milhões de inocentes em planos mirabolantes, e quem matou mais comunistas foram os próprios, com seus conhecidos julgamentos falsos, e expurgos regulares.
Ainda hoje vemos muitos resquícios do leninismo nos movimentos de esquerda, sobretudo quando vemos julgamentos inconstitucionais, como está ocorrendo no Brasil, com centenas de presos políticos e exilados, e a censura cada vez mais forte. E com ministros como Barroso dizendo que quer acelerar a história. Nada de novo no front.