segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

FELIPE MOURA BRASIL E O TRABALHO DE OLAVO DE CARVALHO


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Felipe Moura Brasil avisa:
Ainda de férias, dei essa entrevista ao jornal inglês The Guardian.)

Como você descobriu o trabalho do Olavo de Carvalho?
Descobri o trabalho de Olavo de Carvalho na década de 1990 por meio de seus artigos de jornal, que depois me despertaram o interesse pelos seus livros de crítica cultural, filosofia e história da filosofia.
O que achou?
Ao contrário da maioria dos colunistas da imprensa, que tratava apenas da política diária e com frequência buscava produzir sentimentos, tomadas de posição e ações nos leitores, Olavo de Carvalho examinava as questões mais sensíveis do debate público como um educador que resgata a definição de conceitos fundamentais como educação (‘ex ducere’, que significa levar para fora), conhecimento, verdade, inteligência, vocação, sociedade, cultura, democracia, direita, esquerda e fanatismo, sempre identificando, acompanhando e até constituindo as correntes intelectuais profundas que geram transformações culturais e depois políticas, estas últimas normalmente surpreendentes para os setores da imprensa limitados aos acontecimentos de superfície e/ou cegos pela ideologia e pela militância, como vimos recentemente nas eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro. Em seus artigos, Olavo levava o leitor para fora da bolha criada por aqueles que transformaram a atividade intelectual em megafone de interesses partidários.
Por que achou importante colecionar os textos dele para o livro e como foi esse processo?
Os artigos jornalísticos de Olavo de Carvalho representam a parte da sua obra dedicada à crítica cultural, embora também embutam elementos de sua filosofia e até de seus ensinamentos de história da filosofia, que constituem outras partes. Apesar do sucesso do livro “O imbecil coletivo”, de 1996, que reunia artigos jornalísticos do autor voltados mais especificamente à exposição da decadência e da corrupção da camada intelectual da sociedade brasileira, a parte de crítica cultural era a menos organizada de sua obra e, ao mesmo tempo, aquela com maior potencial de fisgar o cidadão comum - como aconteceu comigo - não só pela capacidade de síntese, como também pela destreza no trato de questões existenciais e sociais, como a juventude, a vocação, a formação da personalidade, a pobreza e a prática do amor ao próximo.
Os artigos, muitos dos quais haviam apontado também os germes intelectuais de acontecimentos políticos atuais e cujo conteúdo sem o devido crédito já passava a ser repetido por velhos e novos colunistas com décadas de atraso, estavam dispersos na internet, de modo que organizá-los por temas e acrescentar explicações em notas foi uma maneira de fazer jus à obra pioneira do autor e de torná-la acessível ao cidadão comum disposto a sair da bolha. Apresentei o projeto de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” e o título a Carlos Andreazza, editor da Record, que topou de imediato; e depois a Olavo, que adorou e deu o sinal verde para que eu continuasse o trabalho, sem qualquer interferência dele. O resultado foi um best seller para os padrões brasileiros, que teve desde 2013 mais de 300 mil exemplares vendidos e uma edição comemorativa em capa dura, consolidando mudanças culturais que teriam reflexo na política.
Por que a importância dele na política brasileira cresceu tanto?
A importância da obra jornalística de Olavo de Carvalho é primeiramente cultural. Ela quebrou a hegemonia intelectual esquerdista, à medida que diagnosticou esta situação e expôs suas raízes históricas, seus exemplos práticos nos meios acadêmicos e de comunicação, e suas consequências nefastas para a cultura e a democracia. Com isso, abriu espaço para outras ideias, também favorecidas (1) pelo advento da internet e das redes sociais, que permitiram a refutação de narrativas circulantes por meio de um contato direto de autores com o grande público sem o filtro político-ideológico do establishment; e (2) pela operação Lava Jato, que mostrou a magnitude da corrupção no Estado inchado brasileiro, defendido e ocupado pela esquerda e por seus aliados. Que um político não esquerdista como Jair Bolsonaro considere a opinião de um autor como Olavo sobre uma ou outra pessoa capaz de fazer um bom trabalho como ministro, é apenas um efeito periférico dessas mudanças culturais. No entanto, é o efeito periférico que desperta o interesse da maior parte da imprensa. O trabalho mais profundo que Olavo fez, quebrando a hegemonia intelectual esquerdista e abrindo espaço para outras ideias, nunca havia sido objeto de notícia.
Por que tantos brasileiros seguem os vídeos e textos dele, coisa inédita para um filosofo por aqui?
Se os jornalistas lessem a obra de Olavo de Carvalho, a começar por “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, talvez entendessem a capacidade dele de lançar luz sobre a experiência mental brasileira e as forças que atuam sobre ela, sendo ao mesmo tempo erudito, popular, educativo e engraçado.
Qual foi a importância da influência e pensamentos dele no crescimento dessa onda conservadora dos últimos anos? Qual foi a importância dele na vitória do Jair Bolsonaro?
A expressão “onda conservadora”, usada pela imprensa, é, no mínimo, imprecisa. A maioria do povo brasileiro já tinha posições conservadoras, de acordo com os próprios institutos de pesquisa respeitados pela imprensa. O que o povo não tinha era representatividade, no caso um candidato viável com posições conservadoras em quem votar. Esta lacuna foi até celebrada pelo então presidente Lula em setembro de 2009, quando declarou: “Pela primeira vez não vamos ter um candidato de direita na campanha. Não é fantástico isso? Vocês querem conquista melhor do que numa campanha neste país a gente não ter nenhum candidato de direita?"
Em 2012, no entanto, o Datafolha mostrou que 83% dos brasileiros são contra a legalização das drogas. Em 2014, o Ibope mostrou que 79% são contra a legalização até da maconha. Em 2010 e 2016, o Ibope também mostrou que 78% são contra o aborto. Em 2016, o Ibope mostrou ainda que 78% são a favor da redução da maioridade penal e que 78% são a favor de prisão perpétua para quem comete crimes hediondos. Esses dois números ainda haviam aumentado 12 e 15 pontos, respectivamente, em relação a 2010, indicando que o aumento da criminalidade no país durante os governos de esquerda só fazia crescer no povo a demanda por punições mais duras aos criminosos. Olavo, entre outras coisas, mostrava a desconexão entre os anseios do povo e os do establishment cultural e político; e o projeto de Jair Bolsonaro de virar presidente começou neste cenário até então ignorado pela maioria dos supostos representantes do povo, que não vocalizavam o sentimento popular nem representavam suas ideias, geralmente consideradas retrógradas pela imprensa. Mesmo não sendo a encarnação perfeita do conservadorismo, Bolsonaro se posicionou contra a legalização das drogas, contra o aborto, a favor da redução da maioridade penal e de penas mais duras aos criminosos, incluindo corruptos como Lula presos pela Lava Jato, operação que só potencializou a demanda por ordem no país. O atual presidente, apesar de ter adotado o liberalismo econômico apenas recentemente e mesmo assim com várias ressalvas, soube explorar tudo isso a seu favor, falando com simplicidade diretamente ao cidadão comum.
Como o trabalho dele te ajudou na sua carreira e pensamento? Fez um curso com ele? Como foi?
No artigo “O imbecil juvenil”, Olavo expressou o que eu percebia em muitos jovens ao meu redor, sempre dispostos a adquirir vícios alheios e suprimir sua personalidade para pertencer a um grupo qualquer, sem jamais desenvolver a consciência individual e fazer o esforço necessário para sair da bolha em que se meteram. No artigo “Vocações e equívocos”, Olavo descreveu o que eu percebia em pessoas frustradas, amarguradas e/ou ressentidas, que só concebiam a dedicação a alguma atividade por dinheiro ou por prazer, ignorando a experiência da vocação, do chamado, do sentido da vida. Esses e outros artigos, além de livros, apostilas e aulas de seu curso online de filosofia que ainda não encontrei tempo para concluir, sem falar nos numerosos e fundamentais autores indicados por ele, tiveram forte influência sobre minha vida intelectual e minhas decisões práticas, tanto pessoais quanto profissionais, porque busquei e sigo buscando exercer minha personalidade e minha vocação sem me deixar nivelar pelo corporativismo social, político ou ideológico de qualquer patota. Sobre minha carreira, a influência de Olavo é indireta: como ele quebrou a hegemonia intelectual esquerdista, abrindo espaço para outras ideias no debate público, o meu trabalho de mais de 10 anos como colunista na internet, alguns dos quais no site Mídia Sem Máscara, criado por ele, acabou me rendendo contratos para escrever e falar em veículos maiores onde havia editores que não boicotavam vozes dissidentes capazes de refutar as narrativas circulantes.
Como descreveria a personalidade e pessoa do Olavo de Carvalho? O que ele contou para você da historia da vida, da descoberta de filosofia, do tempo que foi de esquerda, dos trabalhos com astrologia, a fé e a mudança para os EUA?
Nunca encontrei Olavo pessoalmente, o que pretendo fazer assim que possível, viajando à cidade onde ele mora nos EUA. Nosso contato até aqui foi inteiramente virtual. Mas ele é uma das pessoas mais generosas que conheci. Tão generosa que não preciso falar da vida dele, porque o próprio Olavo tem tido a paciência de explicá-la em detalhes até mesmo a jornalistas que não leram sua obra, que trabalham para veículos que o demonizam, que buscam detalhes banais de sua biografia para rotulá-lo pejorativamente e que só o procuram porque Bolsonaro nomeou como ministros um par de nomes elogiados por ele.
O Olavo de Carvalho já fez alguns comentários polêmicos. Concorda com todos? Se não, do que discorda?
Eventuais discordâncias pontuais são irrelevantes perto do que aprendi com a obra de Olavo e dos autores indicados por ele, como Roger Scruton e Dennis Prager.
Gostou das recomendações de ministros dele? Compartilha as posições ideológicas dos dois?
Essa análise da política diária, referente a um governo que acabou de começar, prefiro deixar para o programa Os Pingos Nos Is, da rádio Jovem Pan, que volto a ancorar em 21 de janeiro. Neste momento, estou curtindo duas semanas de férias, que só interrompi para tratar de assuntos culturais mais relevantes. Obrigado.

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