Amanhecer no Brasil é sentir o peso da crise prolongada e se perguntar: o Brasil tem jeito? Dá para apostar no futuro do Brasil?
Uma percepção mais clara exige ir além da conjuntura e olhar o Brasil em perspectiva ao longo das sete últimas décadas. Às vésperas das eleições, é possível contrapor ativos aos passivos que tanto nos angustiam.
O primeiro ativo completa trinta anos – a Constituição Federal de 1988 – que estabeleceu os marcos legais e institucionais de democracia política. Na superfície, os defeitos da democracia saltam aos olhos; na profundidade, as virtudes da democracia respondem com flexibilidade, resiliência, capacidade de adaptação e garantem a emergência da autonomia individual inserida no espaço público da cidadania. Testada em vários momentos, a democracia brasileira será submetida à tentação populista e autocrática.
De outra parte, o país fez uma opção pela economia de mercado. Lamentavelmente, o capitalismo de laços e o patrimonialismo capturaram o estado brasileiro. Estamos pagando um preço alto. Ainda assim, há um Brasil que dá certo: é o que trabalha mais do que pode frente a um que pode mais do que trabalha. A economia de mercado e a livre iniciativa são ativos que precisam de mais Brasil e menos Brasília.
Segue-se o paradoxo da décima economia mundial: uma economia grande e um país injusto. Transformar este passivo em ativo requer a convergência de políticas públicas permeadas por uma educação de qualidade em todos níveis e com os olhos voltados para as transformações do século XXI.
Outro ativo é fazer valer o primado da igualdade de todos perante a lei. Estamos no caminho. Passos largos foram dados na construção de uma ética pública que vai além da ética na política; que não se constitui, apenas por meio regras e sentenças judiciais no combate à corrupção e à impunidade, mas que se consolida numa cultura punitiva a toda e qualquer transgressão.
Cabe, por fim, uma palavra sobre o protagonismo brasileiro na perspectiva ambiental. Os fatores que respondem por uma economia de baixo carbono fazem parte dos nossos recursos naturais. É preciso um grande esforço de incompetência governamental para não assegurar sustentabilidade ao desenvolvimento econômico. Sem descambar para o ufanismo dos “risonhos e lindos campos”, basta olhar para o sol e os ventos de um nordeste renovável pelo conceito de uma matriz energética limpa.
Democracia, livre iniciativa, equidade social, ética e sustentabilidade são os pilares das nações desenvolvidas.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda
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