domingo, 22 de julho de 2018

G. K. CHESTERTON E A DENÚNCIA DO FALSO PACIFISMO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.

G. K. Chesterton e a denúncia do falso pacifismo da sociedade contemporânea

Referência bibliográfica do artigo:
SANTOS, Ivanaldo. G. K. Ghesterton e a denúncia do falso pacifismo da sociedade contemporânea. In: Estudos Nacionais, Florianópolis, n. 2, ano 1, março, 2018, p. 22-25.
Ivanaldo Santos
Filósofo, professor universitário, escritor e conferencista.
E-mail: ivanaldosantos@yahoo.com.br.
Gilbert Keith Chesterton (1874-1936), mais conhecido como G. H. Chesterton, foi um dos mais relevantes escritores da primeira metade do século XX. Sua obra forma uma rara mistura de sátira, ironia, poesia e denuncia social. Ele valoriza o paradoxo como uma arma contra a aceitação complacente da visão convencional das coisas. Ele realiza uma sofisticada denúncia contra os erros, limitações e até mesmo a visão ingênua que o homem moderno tem de si mesmo e do mundo. Um bom exemplo do estilo crítico de Chesterton é a biografia que ele escreveu sobre Tomás de Aquino, um dos maiores pensadores da humanidade, intitulada Santo Tomás de Aquino: biografia. Nesse livro encontram-se todos os dados biográficos, as principais ideias e feitos sociais realizados por Tomás de Aquino. No entanto, também se encontra a denuncia dos erros e limitações das ideias e do modo de vida desenvolvidos na modernidade. Entre os livros publicados por Chesterton, destacam-se: O homem que foi quinta-feira, Ortodoxia e O Homem Eterno. O romance Homem Eterno é um dos melhores livros de apologética cristã do século XX e, dentre outras coisas, contribuiu para a conversão do escritor C. S. Lewis ao cristianismo. Por tudo isso, a obra de G. H. Chesterton tem sido resgatada, relida e valorizada nas primeiras décadas do século XXI.
Um bom livro para se conhecer a lado da denúncia social de Chesterton é o romance: O homem que foi quinta-feira. Nesse livro encontra-se, por exemplo, o personagem Lucian Gregory, membro de um grupo radical, que praticava atos terroristas, e seguidor da ideologia anarquista. Gregory tem ideias radicais, das quais constam: a abolição de Deus e da religião, acabar com todas as distinções entre vício e virtude, honra e traição, tradição e modernidade, direitos e injustiças. Para disfarçar suas ideias radicais e, com isso, passar despercebido pela sociedade e poder ficar livre para praticar atos terroristas, Gregory se passa por um “ingênuo poeta” que, por sua aparente ingenuidade, as “mães deixariam que levasse o seu carinho de bebê”. Em O homem que foi quinta-feira Chesterton apresenta a tática do “disfarce” desenvolvida por muitos grupos radicais (anarquistas, socialistas, fundamentalismo islâmico, etc) para viverem tranquilos dentro da sociedade e, por isso, ficarem livres para praticarem atos de terror e de violência. Essa tática consiste no fato do grupo radical e dos seus respectivos líderes sempre aparecerem publicamente como pacifistas, poetas ingênuos e inofensivos pregadores de algum modelo de sociedade alternativa (grupos de uso de drogas, grupos anticapitalistas, anti-cristianismo, etc). Enquanto a sociedade não perceber o disfarce, esses grupos ficarão livres para praticarem atos de violência. Uma violência apresentada geralmente como atos de bondade, de poesia e de pregação de um modelo de nova sociedade.
Chesterton é bem conhecido por seu personagem de ficção literária, o sacerdote-detetive Padre Brown. Nos contos do Padre Brown ou, como são conhecidas, nas histórias do Padre Brown, o personagem usa a lógica aristotélica-tomista para resolver empolgantes, misteriosos e cômicos casos de desaparecimento, assassinatos e tramas políticas.
No entanto, assim como em toda a sua obra, Chesterton utiliza-se do personagem Padre Brown para descrever, denunciar e criticar os erros e as limitações do mundo moderno. Um bom exemplo de como Chesterton realiza essa crítica, por meio do Padre Brown, é o conto: O duelo do Dr. Hirsch. É um conto que propicia uma leitura rápida, irônica e suave. Existe um pequeno ar de mistério no conto até que o detetive Padre Brown resolve o caso.
Nesse conto o Padre Brown, que conversava com alguns amigos, é convocado para ajudar um importante intelectual de origem francesa que, nas primeiras décadas do século XX, residia em Londres, o qual afirmava está sofrendo ameaças de morte por parte de algum desafeto. O nome desse intelectual é Paul Hirsch, mais conhecido como Dr. Hirsch. Ele é apresentado como um “líder e mestre em filosofia”, um pacifista e defensor do “desarmamento de todo o planeta” e, por isso, os “soldados deveriam fuzilar seus oficiais”. O Dr. Hirsch apresenta-se como um “manso sonhador e humano”, um intelectual moderado que “não era nem anarquista e nem evolucionista, seus pontos de vista sobre o desarmamento eram moderados”. Ele tinha alguns fiéis discípulos e uma multidão se seguidores que eram capazes de “ajudar o mestre em qualquer situação”. O Dr. Hirsch afirmava que estava sofrendo graves perseguições e, entre outras cosias, que essas perseguições eram semelhantes ao Caso Dreyfus, logo “Dreyfuz, um homem que sabia que era injustiçado”.
Apenas para esclarecer, o Caso Dreyfus foi um drama político que abalou a França no final do século XIX. Em síntese, o oficial do exército francês, de origem judaica, Alfred Dreyfus foi condenado injustamente, num processo fraudulento. O julgamento de Dreyfus provocou uma profunda crise na sociedade francesa. Uma crise que contribuiu para o acirramento do movimento anticlerical, anticristão e antissemita na França e na Europa. O Caso Dreyfus é apontado como uma das bases para o estabelecimento, em 1940, da França de Vichy, ou seja, de um governo fantoche e pró-nazista na França que durou até o ano de 1944.
O Padre Brown investiga as denúncias de tentativa de agressão contra o líder pacifista, o Dr. Hirsch. No entanto, para surpresa de todos, ao contrário do que se esperava, o Dr. Hirsch não era nem um pacifista. Pelo contrário, ele não passava de um espião a serviço de uma grande potência estrangeira e inimiga da Inglaterra. No Duelo do Dr. Hirsch não fica claro o nome verdadeiro do Dr. Hirsch e nem para qual país ele trabalhava. Isso fica em aberto. Em tese, poderia ser países que, no início do século XX, estavam em conflito com a Inglaterra, como, por exemplo, a Alemanha e a Rússia. O que Chesterton deixa claro, neste conto, é que o discurso do Dr. Hirsch era falso, que nem seu nome é verdadeiro. Tudo no falso Dr. Hirsch não passa de “mentiras na esperança de ter dito um pouco da verdade”.
Em O duelo do Dr. Hirsch, Chesterton denuncia os pregadores que influenciam a classe média, os intelectuais e até mesmo a Igreja. São pregadores que se apresentam como moderados, que só querem o bem da sociedade, que são contra toda forma de radicalismo, pacifistas que pregam o desarmamento, o fim do exército, o fim das fronteiras nacionais, pregam contra o preconceito, querem a abolição de toda forma de radicalismo e, para se atingir o fim do radicalismo, propõem, o fim do cristianismo. São pregadores que apresentam um mundo mágico, paradisíaco, cheio de facilidades. Pregadores que colocam a culpa sempre na família, no casamento, na maternidade, no cristianismo, na lei, no governo, que falam contra algum tipo de entidade mágica chamada de “elite” e coisas semelhantes. De acordo com esses pregadores, a solução dos problemas humanos passa pela abolição do casamento e da família, pela extinção do cristianismo e a presença, de forma radical, do Estado dentro da vida privada dos cidadãos.
No entanto, o próprio Chesterton, por meio do personagem Padre Brown, chama a atenção que ninguém deve se enganar com essa pregação mágica. Por trás desse tipo de pregação se encontram os mais sujos, corruptos e antiéticos projetos de dominação social. São projetos que, se colocados em prática, ao invés de trazerem a paz e o conforto social, trarão a privação da liberdade e a opressão para a esmagadora maioria da população.
Apesar do conto Duelo do Dr. Hirsch ter sido escrito a quase 100 anos atrás, a denúncia que Chesterton realiza é extremamente atual. As primeiras décadas do século XXI estão carregadas de pregadores, escritores, artistas, gurus de toda sorte e de toda forma de modismo intelectual que pregam um pacifismo radical (desarmamento, fim do exército, fim das fronteiras, etc), que pregam contra a família, contra o cristianismo e contra toda forma de valor moral. A sociedade contemporânea está repleta de falsos Dr. Hirschs que, assim como no conto de Chesterton, iludem multidões, enchem as casas das pessoas comuns com mentiras e ilusões. Esse tipo de ilusão, de falsa pregação está presente em muitos ambientes da sociedade (universidades, centros de estudos, nas mídias, etc) e até mesmo dentro da Igreja.
Por fim, afirma-se que a leitura do conto de Chesterton demonstra que a pregação pacifista, anti-família, anticristã e de outras naturezas já estavam presentes no Ocidente a 100 anos atrás. O que temos na sociedade contemporânea não é uma pregação nova, mas sim um novo capítulo da velha pregação pacifista. Por isso, é necessário ficar atento a denúncia de Chesterton, ou seja, todos os indivíduos desejam alcançar a paz, a pacificam dos conflitos sociais é um sonho a ser realizado, mas devemos ficar atentos, pois por trás desse tipo de pregação existem os mais obscuros, corruptos e antiéticos interesses políticos e econômicos.

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