Sou venezuelana e posso afirmar: estamos morrendo de fome
À primeira vista, Caracas se parece com qualquer outra capital da América: edifícios, rodovias, trânsito pesado e pessoas andando com pressa. Mas um olhar um pouco mais atencioso revela a fome na Venezuela.
A magnitude do colapso econômico pode ser medida pelo tamanho das enormes filas que se espalham por território nacional. Nos últimos anos, tudo piorou exponencialmente. A Venezuela viveu o que Castro chamou de “período especial”. O socialismo conseguiu administrar um dos maiores booms de petróleo na história do país, recebeu trilhões de dólares de renda do petróleo e empréstimos gigantes da China e Estados Unidos. A renda foi roubada e usada para aprofundar o controle do estado sobre a economia seguindo o modelo aplicado pelos Castro em Cuba.
De acordo com alguns economistas a inflação é de 720%, mas não sabemos com certeza porque a ditadura não fornece nenhum dado. O poder de compra está baixíssimo. Para se ter noção, o salário de um professor universitário com doutorado no exterior é de 15 dólares e só compra três cervejas. Para conseguir comprar um quilo de arroz, você precisa trabalhar por quatro dias.
Muitas lojas fecharam e pelo menos 70% da capacidade industrial não está funcionando. A produção de pão e macarrão foi interrompida por falta de trigo. A produção de açúcar reduziu-se devido a expropriação estatal de terras produtivas e usinas açucareiras, aumentando a dependência das importações. Níveis de escassez e inflação afundaram o país em um dos períodos mais sombrios de nossa história. A ditadura socialista há muito implantou um plano de restrição alimentar onde as pessoas devem se registrar com nome, sobrenome e identidade para obter comida nos armazéns. Mesmo quando os venezuelanos entram em uma espiral agonizante de miséria, a ditadura de Nicolás Maduro insiste em manter o enorme subsídio à Cuba.
A escassez fez da procura de comida uma obsessão nacional. A população só se dedica a isso. A Venezuela enfrenta um cenário de escassez não só de alimentos, mas também de papel para jornais impressos, medicamentos ou suprimentos para cirurgiões e produtos de higiene. Por isso, quilômetros de fila viraram a vida comum para um venezuelano. Não bastasse a humilhação nas longas filas, na maior parte do tempo se espera para não se conseguir nada. Praticamente não há açúcar, leite, frango, óleo, carne ou farinha. Os preços são muito altos graças à escassez e aos desvios que abastecem os revendedores do mercado negro. Os supermercados e os caminhões de abastecimento são frequentemente monitorados por soldados com rifles.
Nas filas você encontra a morte. Latrocínios são frequentes, por dinheiro, comida ou medicamentos. A falta de remédios também leva muitos a morte, registradas como morte natural mesmo sendo perfeitamente preveníveis. Para tudo há filas, mas as mais sombrias são as do necrotério de Caracas. Além das horas na frente do necrotério, os parentes precisam cobrir seus narizes devido ao odor. O ar-condicionado não funciona, não há produtos para embalsamar os corpos, muitas da vezes, nem caixões. De lá para o cemitério é outra fila. Quando se tem sorte, consegue-se enterrar um parente em três ou quatro dias.
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