Dimensão da crise - MÍRIAM LEITÃO
O Globo - 04/08
Há indicadores positivos na economia, como o quarto mês seguido de alta na produção industrial, em junho, mas a indústria deve terminar o ano 6% menor do que 2015, que já havia sido ruim. O saldo comercial é recorde, mas a corrente de comércio, que soma exportação e importação, é US$ 154 bi menor do que 2011. É preciso ver os avanços sem perder de vista o quanto ainda se tem que recuperar.
A retomada pode surpreender e acontecer mais rapidamente. A economia brasileira é resiliente e costuma reagir às crises em curto tempo. Esta, no entanto, tem dimensões inéditas e ocorre no meio de uma vasta crise política. É preciso cautela nas projeções tanto negativas quanto positivas. Desde a saída da presidente Dilma, em maio, houve melhoras em vários indicadores de confiança e até mesmo de atividade, como se vê na produção industrial. Mas a recuperação de tudo o que foi perdido ainda é muito incerta. Há economistas que acham que levará anos, e não meses.
Um dos pontos de melhora tem sido as contas externas, puxadas pelo comércio externo. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, explica que apesar do recorde do saldo comercial do país este ano, a corrente de comércio desabou nos últimos anos. E esse é o indicador mais importante porque engloba tanto as exportações quanto as importações, que mostram o vigor do consumo, produção e dos investimentos. Em 2011, a corrente de comércio chegou ao recorde de US$ 482 bilhões; este ano, fechará em US$ 328 bi, segundo projeção da AEB. Um tombo de 32%.
— Estamos falando de uma perda de cerca de US$ 154 bilhões este ano. O impacto disso no emprego é muito grande. O Brasil se fechou ao comércio internacional e sente a queda dos preços das commodities. A alta do dólar não ajudou muito os exportadores, e isso tem mostrado que nosso grande problema continua sem solução, que é a falta de competitividade — disse José Augusto de Castro.
O IBGE informou esta semana que a produção industrial está 18% abaixo do pico registrado em junho de 2013, 9% abaixo do ano passado, apesar de ter crescido pelo quarto mês seguido. A produção de bens de capital está em alta desde janeiro, mas acumulou uma queda de 26%. Pelas estimativas da Tendências Consultoria, a indústria brasileira ainda precisará de mais quatro anos para voltar a esses níveis. O economista Rafael Bacciotti explica que as projeções indicam que 2016 fechará com uma retração de 6% na indústria, com um leve crescimento no ano que vem, de 2,7%.
— O crescimento nos últimos meses sugere que há um ponto de inflexão na indústria. Mas há vários riscos. Parte dessa alta aconteceu via substituição de importação, e o real agora está se valorizando. Além disso, houve recomposição de estoques, mas nada indica que o consumo voltará com força, por causa do mercado de trabalho — afirmou.
A perda de empregos formais, segundo os dados do Caged, foi de 1,54 milhão no ano passado, com mais 531 mil no primeiro semestre deste ano. Tendo como base estimativas de crescimento do PIB do Boletim Focus, com a mediana de 100 instituições do mercado financeiro, a Go Associados chegou à conclusão de que, nesse ritmo, apenas em 2020 o país irá recuperar esses empregos, porque até lá 7,8 milhões de jovens estarão entrando no mercado de trabalho.
O Ibre/FGV calcula que o PIB do país já encolheu 7,1% desde o início da atual recessão, que começou, pelos critérios do instituto, no segundo trimestre de 2014. Ontem, falando no Rio, o ministro Henrique Meirelles lembrou que esta é a pior recessão desde que o PIB é calculado, em 1901. Não é fácil sair de um buraco como este.
O governo acredita que a retomada da confiança, que se vê em algumas sondagens de perspectivas econômicas, pode mudar o quadro da economia. Essa confiança é volátil e pode se reverter se o governo não tomar decisões que confirmem essas expectativas. Se houver motivos para a mudança de humor, a economia pode surpreender favoravelmente. Por enquanto, contudo, a incerteza política complica as projeções da economia.
Há indicadores positivos na economia, como o quarto mês seguido de alta na produção industrial, em junho, mas a indústria deve terminar o ano 6% menor do que 2015, que já havia sido ruim. O saldo comercial é recorde, mas a corrente de comércio, que soma exportação e importação, é US$ 154 bi menor do que 2011. É preciso ver os avanços sem perder de vista o quanto ainda se tem que recuperar.
A retomada pode surpreender e acontecer mais rapidamente. A economia brasileira é resiliente e costuma reagir às crises em curto tempo. Esta, no entanto, tem dimensões inéditas e ocorre no meio de uma vasta crise política. É preciso cautela nas projeções tanto negativas quanto positivas. Desde a saída da presidente Dilma, em maio, houve melhoras em vários indicadores de confiança e até mesmo de atividade, como se vê na produção industrial. Mas a recuperação de tudo o que foi perdido ainda é muito incerta. Há economistas que acham que levará anos, e não meses.
Um dos pontos de melhora tem sido as contas externas, puxadas pelo comércio externo. O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, explica que apesar do recorde do saldo comercial do país este ano, a corrente de comércio desabou nos últimos anos. E esse é o indicador mais importante porque engloba tanto as exportações quanto as importações, que mostram o vigor do consumo, produção e dos investimentos. Em 2011, a corrente de comércio chegou ao recorde de US$ 482 bilhões; este ano, fechará em US$ 328 bi, segundo projeção da AEB. Um tombo de 32%.
— Estamos falando de uma perda de cerca de US$ 154 bilhões este ano. O impacto disso no emprego é muito grande. O Brasil se fechou ao comércio internacional e sente a queda dos preços das commodities. A alta do dólar não ajudou muito os exportadores, e isso tem mostrado que nosso grande problema continua sem solução, que é a falta de competitividade — disse José Augusto de Castro.
O IBGE informou esta semana que a produção industrial está 18% abaixo do pico registrado em junho de 2013, 9% abaixo do ano passado, apesar de ter crescido pelo quarto mês seguido. A produção de bens de capital está em alta desde janeiro, mas acumulou uma queda de 26%. Pelas estimativas da Tendências Consultoria, a indústria brasileira ainda precisará de mais quatro anos para voltar a esses níveis. O economista Rafael Bacciotti explica que as projeções indicam que 2016 fechará com uma retração de 6% na indústria, com um leve crescimento no ano que vem, de 2,7%.
— O crescimento nos últimos meses sugere que há um ponto de inflexão na indústria. Mas há vários riscos. Parte dessa alta aconteceu via substituição de importação, e o real agora está se valorizando. Além disso, houve recomposição de estoques, mas nada indica que o consumo voltará com força, por causa do mercado de trabalho — afirmou.
A perda de empregos formais, segundo os dados do Caged, foi de 1,54 milhão no ano passado, com mais 531 mil no primeiro semestre deste ano. Tendo como base estimativas de crescimento do PIB do Boletim Focus, com a mediana de 100 instituições do mercado financeiro, a Go Associados chegou à conclusão de que, nesse ritmo, apenas em 2020 o país irá recuperar esses empregos, porque até lá 7,8 milhões de jovens estarão entrando no mercado de trabalho.
O Ibre/FGV calcula que o PIB do país já encolheu 7,1% desde o início da atual recessão, que começou, pelos critérios do instituto, no segundo trimestre de 2014. Ontem, falando no Rio, o ministro Henrique Meirelles lembrou que esta é a pior recessão desde que o PIB é calculado, em 1901. Não é fácil sair de um buraco como este.
O governo acredita que a retomada da confiança, que se vê em algumas sondagens de perspectivas econômicas, pode mudar o quadro da economia. Essa confiança é volátil e pode se reverter se o governo não tomar decisões que confirmem essas expectativas. Se houver motivos para a mudança de humor, a economia pode surpreender favoravelmente. Por enquanto, contudo, a incerteza política complica as projeções da economia.
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