quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A crise fiscal e os culpados - Carlos Alberto Sardenberg

A crise fiscal e os culpados - Carlos Alberto Sardenberg

• Do jeito que vai, daqui a pouco as administrações públicas terão uma única função: pagar os salários de seus funcionários

- O Globo

‘A voz do Brasil’ da última segunda, no noticiário da Câmara e do Senado, foi praticamente um programa eleitoral em defesa dos salários e vantagens dos servidores federais, estaduais e municipais. Parlamentares se repetiram na defesa de um argumento básico: os funcionários não podem ser culpados pelo rombo dos cofres públicos, causado, dizem, por maus governos, de modo que não podem pagar essa conta. Ou seja, nada de restrições a reajustes e vantagens salariais; nada de tetos de gastos com a folha; nada de corte nas novas contratações.

Vamos falar francamente: isso não tem pé nem cabeça. A questão não é saber se os funcionários são ou não culpados. Ou, dito de outro modo, é uma falácia argumentar que os funcionários não têm culpa do déficit fiscal. Não se trata aqui de responsabilidades individuais, de um crime cuja pena precise ser paga. Trata-se de um fato: a crise fiscal dos estados decorre do explosivo aumento da folha salarial, consequência de reajustes gerais e da concessão generosa de benefícios e vantagens para várias categorias.

A crise fiscal da União é mais ampla, digamos assim. Tem as pedaladas, os enormes gastos com subsídios e desonerações, a corrupção maior e mais espalhada — mas também tem um forte componente de gasto com a folha, especialmente de alguns setores privilegiados.

E se é assim, o controle das contas públicas só será efetivo se impuser um forte limite aos gastos com pessoal.

Não decorre daí que a enfermeira, o policial, o auditor, o agente administrativo, o professor — que cada um seja o grande culpado. Aliás, quero me dirigir não à categoria, mas às pessoas empregadas no setor público. Não se trata de campanha ou de perseguição quando se trata destes temas. Mas de simples bom senso para justamente reequilibrar e salvar, isso mesmo, salvar o setor público, de modo que possa prestar serviços corretos ao cidadão que o financia.

Do jeito que vai, daqui a pouco as administrações públicas terão uma única função: pagar os salários de seus funcionários.

Na “Voz do Brasil” da última segunda, nenhum parlamentar contestou a “tese da culpa”, mas não porque a maioria no Congresso a considere correta. Pelo que se conclui de conversas com deputados, senadores e pessoal do governo, a história é outra. Eles têm medo. Neste momento ao menos, ninguém quer enfrentar a força política do funcionalismo e de suas entidades sindicais.

Muito menos o presidente Michel Temer, que tem dado sinal verde a todos os projetos de aumentos salariais. Além disso, o governo recuou no projeto de lei que reduz e alonga a dívida dos governos estaduais com a União. A contrapartida desse enorme benefício seria a colocação de fortes limites à expansão da folha de pagamentos. Na mais recente negociação, essas restrições foram bastante amenizadas, de modo a permitir que mesmo estados quebrados continuem pagando salários e benefícios acima do permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

O que tanto temem?

No caso do Executivo, greves e outras perturbações aos serviços neste momento da Olimpíada. No caso dos políticos em geral, a influência eleitoral do movimento do funcionalismo que, de fato, é muito forte.

Vai daí que não há debate. As lideranças do funcionalismo e políticos ligados batem o dia todo. Nisso, sim, são responsáveis. Os outros silenciam e vão aprovando mais reajustes e concessões a diversas categorias.

Como querem que a sociedade civil, os trabalhadores do setor privado (que ganham menos e têm menos vantagens) e os investidores tenham confiança que haverá um ajuste fiscal?

Dizem: tudo muda depois do impeachment. O pessoal quer acreditar nisso, mas está desconfiando.

Nove apresentadores
E por falar em gastos com pessoal: “A voz do Brasil” apresenta os noticiários do Executivo, Poder Judiciário, Câmara e Senado. Cada noticiário com dois locutores-apresentadores. No final, tem o “Um minuto com o TCU”, com seu locutor.

Para quem milita em redações há 46 anos, pareceu espantoso: nove jornalistas-apresentadores para uma hora de programa!

Também não sabe
O diário “La Tercera”, de Santiago, publicou ontem três páginas sobre a crise brasileira, incluindo entrevista com Dilma.

Lá pelas tantas, o jornalista pergunta sobre um braço do petrolão no Chile: um ex–diretor internacional da OAS, Augusto Uzeda, disse que em 2013 a empreiteira colocou um avião à disposição de Marco Enríquez-Ominami, então candidato à Presidência. Dilma: “Não tenho a menor ideia”. A entrevista, aliás, tem as perguntas corretas. Por exemplo: “O STF não teria barrado o impeachment se fosse inconstitucional?”

Dilma repete sempre que é tudo golpe.

“La Tercera” traz ainda uma reportagem bem equilibrada sobre o governo Temer e uma entrevista com a colunista política Eliane Cantanhêde.

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Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

2 comentários:

  1. Escreveu e falou,expressou e disse ,mas foi coisa com coisa,e não tocou na espinha dorsal do esqueleto que é e são responsáveis por todas as crises políticas e econômicas.

    Não falou e nem escreveu nenhum número e não se referiu a nenhum poder dos três que nós temos: judiciário,executivo e legislativo.

    Esse congresso que nos governou de 2002 até 2014 foi o pior de todos que nos governou de costa para o povo brasileiro.Senão vejamos.A maioria dos Deputados Federais com raiva do LULA de Caetés,o analfabeto,canceroso,molusco,de 9 dedos,incompetente,ladrão,corrupto,sapo barbudo ganhou de 2003 a 2010 apenas R$ 11.420,00 (Lula é mesmo um fenômeno. Jamais se repetirá na história brasileira. Ontem, ele saiu em defesa do reajuste do salário de Dilma Rousseff, quando assumir a Presidência, e dos Congressistas. E o fez de que modo? Atacando e posando de vítima. “Fizeram uma sacanagem comigo em 2002. Aprovaram [aumento] só para a Câmara e para o Senado e não aprovaram para o presidente da República. Eu não reclamei”. Quanta modéstia! Reinaldo Azevedo.

    Pois amigos.Em 2010 os 180 deputados federais elevaram os salários deles para R$ 26.723,13.Em 2014 para R$ 33.763,00.Em 2016 com o aval e apoio do Vice presidente Michel Temer e todos os golpistas 367 aprovaram antecipadamente os salários deles para R$ 39.293,00 quebrando assim a isonomia salarial.

    A pauta bomba aprovada por EDUARDO CUNHA com o apoio do baixo clero causaria um rombo de mais de R$ 300 bilhões.E o que faz o golpista do vice presidente e vai lá e aplaude de pé o aumento dos juízes federais da suprema corte para entrar em vigor em 2017 os salários pomposos salários de R$ 33.763,00 para os atuais R$ 39.293,00 repito.

    Vem o vice presidente e fala sério,mas que sério porra nenhuma.Mandou aprovar 41% a todos os servidores da justiça.Dá aumento além do normal nas BOLSAS ESMOLAS segundo as elites simplesmente para tampar o sol com a peneira.Rola dívidas e mais dívidas dos Estados.Mas o Brasil não estava quebrado com um rombo de R$ 170 bilhões? Como explicar para o povo que o Brasil quebrou e as elites recebem aumentos e mais aumentos.

    Enquanto isto a Dilma recebe hoje apenas R$ 27.841,00. Essa mulher é ou não é honesta? Ainda bem que toda essa operação lava jato vai acabar deixando uma herança maldita no colo de Michel Temer criada e produzida pelo próprio PMDB que é governo desde 1985.

    O salário bruto do presidente é hoje de R$ 11.420,21. Deputados e senadores ganham R$ 16.512,09; os ministros recebem R$ 10.748,43 brutos. Estão sem reajuste há três anos, com uma inflação acumulada de 17,8% no período. Recebessem esses valentes os 13 salários dos trabalhadores comuns, é claro que não seria mesmo grande coisa. Ocorre que a gente sabe que eles todos gozam de benefícios que lhes permitem não enfiar a mão no bolso para nada

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  2. Quem desestabilizou toda a economia brasileira se chama 180 deputados federais que em 2010 deram um GOLPE NO BRASIL.

    Lula chegou a dizer assim: " é isso mesmo,Lulinha passou 8 anos ganhando apenas R$ 11.420,21 enquanto que vocês ganhavam R$ 16.590,12 " e ontem (2010) eles aprovaram para R$ 26.723,13.Dos 5013 Deputados Federais 233 se abstiveram e votaram contra .E efeito cascata?

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