O fim de um serviço não é necessariamente ruim, como prova o desaparecimento dos operadores de telégrafos. Mas os taxistas não vão desaparecer – pelo menos enquanto não tivermos carros sem motoristas
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse hoje que os taxistas da cidade “vão desaparecer pela concorrência predatória” se o Uber não for regulamentado na cidade.
Um bom comentário a essa frase é: “e daí”? Todos os anos muitos serviços desaparecem. O próprio advento dos carros e dos táxis, há pouco mais de um século, foi uma concorrência que depredou o emprego de carroceiros, cuidadores de cavalos e garotos que, por trocados, varriam as fezes das calçadas para endinheirados passarem.
Os remédios que reduzem a produção de ácido gástrico – como o Omeprazol, criado nos anos 1980 – deixaram milhares de especialistas em úlcera sem emprego.
“Os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo os acetilenos da iluminação pública”, conta Oswald de Andrade. Com a luz elétrica, os acendedores paulistanos perderam o emprego, assim como os caçadores de baleia e os produtores do óleo de baleia que alimentava os lampiões do Rio e de São Paulo.
Alguém acha ruim a eliminação desses serviços?
Eliminar um emprego pouco produtivo não é uma má notícia – pelo contrário, a riqueza de uma nação vem justamente do aumento da produtividade (ou seja, dos serviços que conseguiu eliminar ou facilitar). Manter à força um serviço pouco produtivo (como fazemos com cobradores de ônibus e frentistas) resulta em fixar as pessoas na pobreza, pois ninguém (via de regra) ganha mais do produz.
Dito isso, é um mito acreditar que os táxis vão desaparecer por causa do Uber. Vão se adaptar. A concorrência fará sua mágica e levará inovação e barateamento ao serviço. Uma solução para os táxis, por exemplo, é se tornarem típicos, como os black cabs de Londres. Competiria sem dor com o Uber um carro diferente, turístico, que faça parte da paisagem e deixe a cidade mais divertida.
Aplicativos como o Uber só atendem quem tem cartão de crédito (um quarto dos brasileiros). Ainda sobram três quartos para os taxistas.
Outra saída é diminuir o preço, oras. A demanda aumentaria – e os taxistas evitariam gastar tanto tempo no ponto, de braços cruzados, cena ainda comum hoje em dia.
Se nada disso funcionar, os taxistas podem virar motoristas do Uber. Não vão desaparecer. Só trocarão um carro branco com a palavra “táxi” por um carro preto mais confortável e seguro. E com balinhas.
Isso vale para o curto prazo. Para um futuro um pouco mais distante, Haddad está certo: os taxistas vão desaparecer. Mas não só eles. Os motoristas do Uber também. Os carros sem motorista, que devem se popularizar mais cedo do que imaginamos, vão eliminar o emprego de todos eles.
E isso será uma excelente notícia. Taxistas, caminhoneiros e motoristas em geral serão liberados para trabalhos mais produtivos e bem pagos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário