quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A ZICA, O POVO E O ESTADO - RAFAEL BRASIL

Alexis de Toqueville

Estive conversando com um primo meu que é sociólogo, e dos bons, sobre a questão da Zica e a falta de cidadania do povo brasileiro, inclusive das chamadas classes ditas pensantes. A falta de cidadania no aspecto da falta de iniciativa comunitária do povo. Em outras palavras, o povo também é culpado pela situação pois sempre espera tudo do estado. Todo mundo sempre reclama do governo, que devia fazer isso ou aquilo. Ninguém se sente responsável, afinal a culpa sempre é dos outros. Todos clamam por um governo que possa fazer de tudo. Ninguém se questiona sobre o que podemos fazer por nós mesmos, e claro, pelo país.
Falamos sobre a tradição comunitária nos Estados Unidos, que quando acontece qualquer catástrofe natural por lá logo aparecem milhares, ou mesmo centenas de milhares de voluntários. E tradição comunitária americana vem da tradição dos primeiros colonos porque simplesmente vinham para a América para ocupar, ou seja, sem ilusões de voltar à Europa afidalgado ou coisa parecida, como bem salienta Sérgio Buarque de Hollanda, em seu clássico Raízes do Brasil. Em poucas palavras, a proeminência da sociedade sobre o estado.
Como aliás vemos em filmes de faroeste, quando os xerifes eram devidamente escolhidos por votação pela comunidade. A respeito, meu primo lembrou um caso descrito por Alexis de Tockeville em seu clássico “Democracia na América”, que não li, sobre o exemplo da queda de uma árvore em espaço público na América e na França. Na América logo a comunidade de reúne e resolve a parada. Se deve cortar, ou tirar a árvore, etc. Na França, comunicam ao burocrata de plantão, logo depois às autoridades seguindo os devidos trâmites burocráticos resolve o problema.
No Brasil seguimos o modelo europeu, mas piorado. Lá pelo menos que eu saiba a burocracia funciona. Aqui temos uma tradição estatal desde os tempos do império, reforçada pelo varguismo, de inspiração fascista e que depois se uniria com a esquerda também estatista.  Tudo a ver, fascismo  e comunismo.
Segundo meu primo me lembrou, temos uma tradição associativa que vem dos tempos da escravidão, como as irmandades ligadas à Igreja Católica, além de muitas outras mais, mas tais organizações não são incentivadas, antes são desestimuladas.
No caso da Zica a culpa não é só do governo, embora também neste caso o governo é seguramente o mais incompetente da nossa história. Se todos se unissem coletivamente para resolver os problemas mais comezinhos do cotidiano a situação seria outra. Por aqui os interesses individuais se sobrepõem ao coletivo. Todos desrespeitam o espaço público, e todos evidentemente perdem.
Jogam lixo na rua, entopem os bueiros, o diabo. E quem for reclamar leva um pito, senão uma pisa ou mesmo um tiro. Por essas e outras  Gilberto Freyre em seu livro Sobrados e Mocambos descreve   nosso caos urbano, desde os primórdios do século XIX.
O Rio de Janeiro e outros centros urbanos como Salvador e Recife eram pocilgas a céu aberto. Já naquela época o protótipo de país tinha um planejamento urbano de quinta categoria.
E sempre temos seca no Nordeste, Chuvas e enchentes abundantes no Sul e Sudeste e todo ano é a mesma coisa. Catástrofes, com muitas perdas materiais e humanas. Além das doenças, claro. A dengue há décadas assola o país. E foi preciso esta tragédia das crianças com microcefalia para a população e o governo acordarem.  Acordam  mas vão dormir de novo. Todo ano tem tragédia enquanto todos reclamam do governo. Mas, como vimos o buraco é mais embaixo. Quem duvida?

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