
Alexis de Toqueville
Estive conversando com um
primo meu que é sociólogo, e dos bons, sobre a questão da Zica e a falta de
cidadania do povo brasileiro, inclusive das chamadas classes ditas pensantes. A
falta de cidadania no aspecto da falta de iniciativa comunitária do povo. Em
outras palavras, o povo também é culpado pela situação pois sempre espera tudo
do estado. Todo mundo sempre reclama do governo, que devia fazer isso ou
aquilo. Ninguém se sente responsável, afinal a culpa sempre é dos outros. Todos
clamam por um governo que possa fazer de tudo. Ninguém se questiona sobre o que
podemos fazer por nós mesmos, e claro, pelo país.
Falamos sobre a tradição
comunitária nos Estados Unidos, que quando acontece qualquer catástrofe natural
por lá logo aparecem milhares, ou mesmo centenas de milhares de voluntários. E
tradição comunitária americana vem da tradição dos primeiros colonos porque
simplesmente vinham para a América para ocupar, ou seja, sem ilusões de voltar
à Europa afidalgado ou coisa parecida, como bem salienta Sérgio Buarque de
Hollanda, em seu clássico Raízes do Brasil. Em poucas palavras, a proeminência
da sociedade sobre o estado.
Como aliás vemos em filmes
de faroeste, quando os xerifes eram devidamente escolhidos por votação pela
comunidade. A respeito, meu primo lembrou um caso descrito por Alexis de
Tockeville em seu clássico “Democracia na América”, que não li, sobre o exemplo
da queda de uma árvore em espaço público na América e na França. Na América
logo a comunidade de reúne e resolve a parada. Se deve cortar, ou tirar a
árvore, etc. Na França, comunicam ao burocrata de plantão, logo depois às autoridades
seguindo os devidos trâmites burocráticos resolve o problema.
No Brasil seguimos o modelo
europeu, mas piorado. Lá pelo menos que eu saiba a burocracia funciona. Aqui
temos uma tradição estatal desde os tempos do império, reforçada pelo varguismo,
de inspiração fascista e que depois se uniria com a esquerda também
estatista. Tudo a ver, fascismo e comunismo.
Segundo meu primo me
lembrou, temos uma tradição associativa que vem dos tempos da escravidão, como
as irmandades ligadas à Igreja Católica, além de muitas outras mais, mas tais
organizações não são incentivadas, antes são desestimuladas.
No caso da Zica a culpa não
é só do governo, embora também neste caso o governo é seguramente o mais
incompetente da nossa história. Se todos se unissem coletivamente para resolver
os problemas mais comezinhos do cotidiano a situação seria outra. Por aqui os
interesses individuais se sobrepõem ao coletivo. Todos desrespeitam o espaço
público, e todos evidentemente perdem.
Jogam lixo na rua, entopem
os bueiros, o diabo. E quem for reclamar leva um pito, senão uma pisa ou mesmo
um tiro. Por essas e outras Gilberto
Freyre em seu livro Sobrados e Mocambos descreve nosso caos urbano, desde os primórdios do
século XIX.
O Rio de Janeiro e outros
centros urbanos como Salvador e Recife eram pocilgas a céu aberto. Já naquela
época o protótipo de país tinha um planejamento urbano de quinta categoria.
E sempre temos seca no
Nordeste, Chuvas e enchentes abundantes no Sul e Sudeste e todo ano é a mesma
coisa. Catástrofes, com muitas perdas materiais e humanas. Além das doenças,
claro. A dengue há décadas assola o país. E foi preciso esta tragédia das
crianças com microcefalia para a população e o governo acordarem. Acordam
mas vão dormir de novo. Todo ano tem tragédia enquanto todos reclamam do
governo. Mas, como vimos o buraco é mais embaixo. Quem duvida?
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