"Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura e sei o que é, tentaram me transformar em uma delatora” (26/09/2015, Dilma Vana Rousseff)
Nunca falha, tenho absoluta certeza, sempre que Dilma posiciona-se para fazer um pronunciamento oficial, instantaneamente milhões sofrem de calafrios. É como se a seleção tivesse um pênalti a seu favor durante a Copa do Mundo e o cobrador sequer soubesse jogar futebol.
Repetindo seu antecessor, leitura não parece ser mesmo o forte da nossa presidente, mas ao contrário do grande responsável pela mais grave crise ética e institucional em nossa história, ao falar de improviso ela impõe um vexame ainda maior, insuportável aos minimamente dotados de capacidade cognitiva.
Quando questionada sobre o depoimento de Ricardo Pessoa no dia 26 de setembro passado, por exemplo, testemunhamos apenas mais um destes momentos. Inspirada, conseguiu confirmar que sua campanha fora irrigada com dinheiro sujo proveniente do petrolão, irritando o próprio PT e de quebra avacalhando com a memória dos presos políticos torturados. Um verdadeiro strike.
Pois meses se passaram e eis que a referida pensata ganhou serventia. Digo, além de explicitar nosso pífio nível de exigência na hora do voto ao inadvertidamente falar por si, Wanda acabou produzindo uma pérola útil para o debate político. Afinal, agora que o nome de Aécio Neves surgiu durante um depoimento, delator merece ou não merece respeito?
Percebam, sequer vale a pena entrar no mérito da delação propriamente dita, tampouco o interesse de quem fez estardalhaço, ou se o senador tucano estaria de fato envolvido em alguma tramoia. Falo sério, nem o benefício da dúvida que o tal de Ceará e a Folha de São Paulo merecem, ou ainda a montanha de ingenuidade necessária para botar a mão no fogo por políticos vem ao caso.
Em português claro, se para um governo especializado e interessado em pirotecnia, poucos cenários são melhores do que uma denúncia envolvendo o líder da oposição, para a sociedade nada deveria superar em importância a chance de jogar luz sobre o nível de fanatismo e manipulação petistas.
Quem desdenhou das inúmeras e diga-se de passagem comprovadas denúncias contra o PT, algumas delas resultando inclusive no encarceramento de líderes históricos do partido, não pode agora simplesmente enaltecer fumaça onde ainda não há fogo.
E se o fizer, motivado pela cisma com a dicotomia partidária, das três uma e sem titubear, chafurda na ignorância, resvala na obtusidade, ou então, convenhamos, é um pulha completo. Seja como for, extrapola o fanatismo.
Não é de hoje que o Partido dos Trabalhadores pegou para si o monopólio da razão, o apoio irrestrito de setores da mídia, da academia e de grande parte da classe artística, mas chegou o momento de considerar falta grave, não prevista nas regras do jogo, a fundação de um novo país alheio à realidade e disposto a ser ordenhado por seus algozes sem reclamar.
Entre os que não toleram a corrupção, pouco se lixando para as origens e legendas de seus protagonistas, lamento admitir, existem muitos somente interessados em escolher lugar na arquibancada, de tão ávidos para assistir à própria derrota.
O ano apenas começou e, só para ficar nos mais ilustres, Dilma, Cunha, Lula e Renan farão de tudo para salvar a própria pele. Sou até capaz compreender o instinto de sobrevivência, mas que não contem com a minha indulgência ou desatenção, e muito menos com a minha torcida.
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