sábado, 28 de novembro de 2015

O delírio politicamente correto do Ministério da Educação


É um desatino a proposta do MEC de obrigar os brasileiros a estudar a história de seus ancestrais genéticos, e não de seus ascendentes culturais

Por: Leandro Narloch  
Minha origem é quase toda polonesa. Novacoski, Bonaroski, Riegel e Narloch: eis os sobrenomes dos meus avós. Apesar dessa origem, não ligo a mínima para a cultura da Polônia. Às vezes até provo um pierogui na ferinha do Largo da Ordem, em Curitiba, mas prefiro mesmo um belo pinhão com quentão. Só me interesso pela história da Polônia quando ela toca a história universal – Copérnico, Segunda Guerra, invasão soviética, massacre de Katyn, Primavera de Praga.
Não vejo nenhum problema em ignorar minhas raízes polonesas. Quem precisa de raiz é árvore. Além disso é pouco relevante o legado da Polônia ao ambiente de ideias que eu respiro. A genética pode me ligar ao leste europeu, mas culturalmente tenho muito pouco dessa região.
Muitos brasileiros descendentes de africanos ou de índios agem como eu. Ignoram a cultura dos seus bisavós – e não veem problema nisso. Gostam de músicas e filmes americanos, leem histórias fantásticas de cavaleiros medievais europeus, viajam para conhecer museus com obras renascentistas. Defendem ideias políticas propagadas por filósofos ingleses ou revolucionários franceses.
Deveríamos, eu e meus conterrâneos negros e índios, ser obrigados a estudar mais a história e a cultura dos nossos ascendentes genéticos que a história dos nossos ancestrais culturais?
O Ministério da Educação acha sim. O currículo nacional comum proposto pelo MEC (por sorte ainda em discussão) obriga que todas as escolas do Brasil (públicas e privadas) deem mais  importância à cultura africana e indígena que à europeia.
Para o primeiro ano do ensino médio, por exemplo, a proposta prevê que pelo menos 60% do currículo seja dedicado a:
– Valorizar o protagonismo de ameríndios, africanos, afro-brasileiros e imigrantes, em diferentes eventos da História do Brasil.
– Interpretar os movimentos sociais negros e quilombolas no Brasil contemporâneo
– Respeitar e promover o respeito às presenças ameríndias, afro-brasileiras e de outras etnias locais.
– Valorizar e promover o respeito às culturas africanas, afro-americanas (povos negros das Américas Central e do Sul) e afro-brasileiras.
Sem falar no autoritarismo “em nome do bem” que a proposta exala, o MEC tropeça num pensamento racial. Parece se basear na ideia de que descendências genéticas determinam descendências culturais. Não: o fato de muitos brasileiros terem genes poloneses ou congoleses não torna a cultura e a história da Polônia e do Congo necessariamente relevante para eles.
Não que não seja interessante conhecer a história dos índios e da África. Eu mesmo vendi um bocado de livros contando histórias de príncipes negros no Brasil, reinos africanos que, antes da chegada dos portugueses, enriqueceram vendendo escravos para os árabes, dos índios que se aliaram a europeus para derrotar outros índios. E bastar ler Uma Curva no Rio, do Nobel V.S. Naipaul, para se espantar com o mal que os intelectuais fizeram à África no século 20.
Mas obrigar os estudantes a dar mais importância a isso que às grandes ideias e episódios da história do Ocidente é simplesmente um desvario politicamente correto.
@lnarloch

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