quinta-feira, 23 de julho de 2015

Pela primeira vez em sete meses, a onda de desconfiança atinge em cheio Joaquim Levy Com Blog Reinaldo Azevedo - Veja


Aconteceu o óbvio: o mercado reagiu pessimamente à redução da meta de superávit primário de 1,1% para 0,15% do PIB — uma diminuição da economia para amortizar juros da dívida de 86,36%. Bastaram sete meses para que os anunciados R$ 66,3 bilhões que seriam reservados para essa finalidade se convertessem em modestos R$ 8,5 bilhões a R$ 9 bilhões. Ao mesmo tempo, o governo anuncia que, para fazer esse 0,15%, terá de cortar mais R$ 8,6 bilhões do Orçamento. Aí entra a matemática elementar. O país está fazendo, hoje, déficit primário.
O mercado sabia que haveria o corte da meta? É claro que sim! Se, passados seis meses, tem-se déficit fiscal, como é que se vai conseguir economizar os R$ 66,3 bilhões no segundo semestre — um superávit, no período, que seria, então, de 2,2%? Impossível!
Ora, se sabia que isso iria acontecer, por que o dólar bateu em R$ 3,30, por que o Ibovespa fechou em baixa de 2,18%, para 49.806 pontos? Agentes do mercado dão as explicações corretas e convencionais. Entendem a redução como uma espécie de sinal do governo para o vale-tudo futuro. Mais: o país se mostra mais vulnerável do que parecia inicialmente. Sim, é isso. E é mais do que isso.
Pela primeira vez desde que Joaquim Levy é ministro da Fazenda, eu vi uma franca desconfiança se aproximado de seu nome. A âncora já não parece tão firme — e a reação negativa se deu mais por isso do que pelo corte em si, que já era tido como fatal, já que milagres não existem. Ou, se existem, os entes superiores costuma contemplar com eles desafortunados de outra natureza.
Ainda na semana passada, sabe-se lá movido por quais desígnios, Levy resistia até a baixar a meta para aquele 0,4% que era defendido pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). O mercado se divertia com a rigidez, vamos dizer, burocrática de Levy: “Ok, pessoal, não vai acontecer, mas, com ele lá, a gente tem a certeza de que alguém sempre forçará em favor do superávit”.
O anúncio de 0,15% surpreendeu pela pequenez do número; foi como se Joaquim Levy tivesse se rendido a uma realidade que definitivamente escapa das suas mãos. E ele deixou de ser visto como âncora da racionalidade, o que é uma péssima notícia. Se, antes, parecia que era o guardião turrão do combinado, ainda que se soubesse que a promessa não seria cumprida, passou a ser visto como um ser algo alheio à realidade e que desconhece os números de sua própria cozinha.
Mais: todos têm a consciência de que as agências se classificação de risco deixaram claro que a situação fiscal será a pedra-de-toque da análise que farão da economia brasileira.
Por enquanto, o governo conseguiu produzir a recessão que se dava como certa, mas ainda não viu os efeitos positivos do corte de gastos — até porque eles cresceram — e da elevação da taxa de juros. Estamos na fase em que, para melhorar, será preciso piorar bastante.
O mercado só não sabia que o buraco era tão fundo. Agora sabe. Levy, em suma, virou o guardião de uma equação que parece sem solução. Pior para todos.

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