terça-feira, 23 de junho de 2015

Míriam Leitão - Raízes da rejeição



- O Globo

Rejeição é alta porque Dilma ignorou os alertas. A piora foi lenta e encomendada com antecedência, mas os dados apareceram todos juntos no começo deste segundo mandato: a inflação subiu, o desemprego aumentou, a indústria despencou, as contas públicas ficaram no vermelho. Isso explica como afundou tão rapidamente a aprovação da presidente reeleita em outubro do ano passado. Tudo começou antes e foi escondido pelo governo.

Aqui neste espaço, escrevi várias vezes que a política econômica estava errada, ainda na época em que a rejeição era de apenas 7%. Não me espanta a informação de que 65% acham o governo ruim ou péssimo agora, segundo o Datafolha, porque quem acompanha a relação dessa pesquisa com a situação econômica sabe que com a inflação alta o brasileiro sempre se irrita com o governo. Ela reduz renda, cria um desconforto diário, lembra o que está já na memória coletiva: o período da inflação descontrolada. Mesmo quem não o viveu tem medo dessa volta.

O fator novo é o medo do desemprego, que subiu para o terceiro maior problema brasileiro na lista das preocupações. O evento específico deste momento é a corrupção que a Operação Lava- Jato tira das sombras e que passou a ser o segundo maior problema, perdendo apenas para a saúde.

O que piora tudo é a sensação de que o eleitor foi enganado pela campanha eleitoral, que criou um país ficcional, onde tudo ia bem, e precisava apenas continuar na mesma linha para melhorar. Quem não enjoou de ouvir falar em Pronatec? Pois agora o programa teve quase 70% de corte. O marketing da presidente Dilma joga com a hipótese de que este é um país de desmemoriados.

Foi na época em que a rejeição era de 7% que foram plantados os problemas colhidos agora. O governo escondeu rombos no Orçamento, com pedaladas. Reprimiu a inflação, empurrando prejuízos para a Petrobras e quebrando o sistema elétrico. Deu sobrevida ao consumo, induzindo as pessoas para o endividamento e jogando dinheiro público em montadoras. Mesmo com alguns dos problemas já aparecendo no ano passado, Dilma negou a necessidade de ajuste fiscal. Vários jornalistas deram a ela a chance de dizer a verdade, entre eles, eu. Perguntamos seguidamente pelos problemas econômicos. E ela negou as evidências.

Em entrevista no Bom Dia Brasil, perguntei sobre o desemprego de jovens, lembrando que estava em 13,7% nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Ela, ao responder, demonstrou desconhecer o dado: “3,7%? É quase pleno emprego.” Precisei lembrar que eram treze, e não três. Hoje, esse mesmo indicador está em 16,2%. A presidente se preparou para a campanha não com um olhar sincero sobre os problemas que teria que resolver nos quatro anos que postulava, mas com que truques e pedaladas podia esconder tudo e jogar para frente. Fez tão bem o ilusionismo que o país lhe deu uma segunda chance. Agora, ela está no fundo do poço e tem três anos e meio para corrigir o que fez no mandato passado. E ela sabe o que fez.

O governo ignorou alertas e culpou a imprensa, que trazia a mensagem de que a equipe econômica estava fazendo manobras perigosas. Foram muitos os avisos dos especialistas em contas públicas e dos jornalistas de que os números que o governo divulgava embutiam irregularidades. Hoje, Dilma se vê diante do Tribunal de Contas, com a exigência inédita de se explicar.

O Congresso se rebela, faz pauta própria, e é uma fonte de incerteza na política e na economia. É assim mesmo que acontece no presidencialismo de coalizão. O poder do chefe do executivo atrai; a perda do poder afugenta. O governante com baixa popularidade tem pouca capacidade de administrar a coalizão porque os aliados procuram outros focos de poder.

O ponto em que Dilma está só se compara com o expresidente Collor. O momento de baixa popularidade de Itamar Franco foi novembro de 1993, oito meses antes do Plano Real, quando a inflação subia fortemente, mas foram 41% de ruim ou péssimo. O pior momento de Fernando Henrique Cardoso foi em setembro de 1999, quando, após a desvalorização brusca do real em janeiro, o país entrou em ambiente recessivo, e a inflação subiu. Chegou a 56% de ruim ou péssimo ao som de “Fora FHC”, comandado pelo PT.

O ajuste, que ela negou, está tendo que fazer quando tem pouca influência sobre o Congresso, e a inflação está nas ruas comendo a renda dos brasileiros.

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