sexta-feira, 26 de junho de 2015

Luiz Carlos Mendonça de Barros - O ajuste da economia continua forte



- Folha de S. Paulo

• Não há inflação que resista a um cenário de renda em queda, medo de desemprego e redução de investimentos

As informações mais recentes sobre a economia brasileira mostram que o ajuste recessivo em curso vem ganhando intensidade. O foco principal tem sido o mercado de trabalho, com aumento do desemprego e queda da renda real em razão da aceleração da inflação nos últimos meses.

O IBGE divulgou nesta quinta-feira (25) os dados sobre a chamada Renda Real Habitual do brasilei- ro no mês de maio, com uma queda de 6,5% em relação ao nível verificado em maio do ano passado e o ponto mais elevado de sua série histórica.

Em abril, essa queda era de 5% em relação ao mesmo período de 2014, o que mostra aceleração de grandes proporções. A grande vilã é, sem dúvida nenhuma, a aceleração da inflação, que está hoje próxima de 9% anualizada. Somente quando a inflação em 12 meses se estabilizar é que sairemos do corredor polonês em que se encontra o assalariado. Talvez isso venha a ocorrer ao longo dos próximos meses.

Por outro lado, as taxas de desemprego continuam a aumentar rapidamente, como mostra também o IBGE ao divulgar os dados relativos ao mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas que essa instituição acompanha mensalmente.

O desemprego em abril era de 6,4% e subiu em maio para 6,7%. Para medir o estrago, esse número era de 4,9% em maio do ano passado, pico do nível de emprego nos últimos 20 anos.

Quando combinamos as duas informações, chegamos à chamada "massa de salários", que é a medida do total de salários recebidos pelo trabalhador brasileiro. O IBGE nos diz que esse número foi 5,8% menor do que o verificado em maio do ano passado.

Esse quadro de deterioração da massa de salários deve continuar nos próximos meses, embora em intensidade menor, principalmente em razão da estabilização das taxas anuais de inflação.

A volta do crescimento do total de salários pagos só vai ocorrer mais à frente, quando a inflação começar a ceder sob o impacto da recessão e do fim dos ajustes de preços administrados pelo governo.

O leitor da Folha pode perguntar por que acredito que a inflação vai começar a ceder nos próximos meses e contrariar as pesquisas de opinião que mostram uma expectativa majoritária de que ela vai continuar a se elevar. Por uma razão simples, respondo eu: porque acredito na teoria econômica em momentos como o que estamos vivendo.

Foi o excesso de consumo no primeiro mandato da presidenta Dilma, estimulado pela expansão do crédito e pela segurança do emprego, que iniciou a escalada da inflação. Vivemos agora, em toda a sua plenitude, um processo oposto e que vai levar à sua queda. Medo do desemprego, renda em queda e restrições fortíssimas ao endividamento do consumidor são uma combinação perfeita para a redução da demanda privada na economia.

Somada a esse efeito temos também a redução dos investimentos e dos gastos do governo. Não há inflação que resista a esse cenário e por isso vai começar a ceder em poucos meses.

Se, e quando, vamos chegar ao famoso centro da meta, perseguida agora com vigor pelo Banco Central, vai depender apenas de fatores não econômicos.

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