No reino desencantado da cafajestice, os fascistoides obedecem ao jeca, fazendo do Brasil uma espécie de parque temático de canalhices onde todos que resistirem serão cobrados na porrada. Tal qual o dono, o tal Quaquá não fala a língua do povo, mas da jagunçada política. Para o fascistoide, nem foi o governo, mas o partido – e a militância, santo Deus! – que melhorou a vida de milhões de brasileiros. Nada mais coerente: essa gente pensa que governo, estado e partido são a mesma coisa.
No mundo hostil à democracia do pavoroso, vá lá, professor qualquer coisa menos que elogio e adesão é agressão. Se fosse professor da minha filha, eu a trocaria de escola imediatamente porque não quero que ela aprenda que o revide a uma crítica, por mais injusta ou ácida, é a porrada. Não é isso que ela vê em casa, casa de gente que não é rica e desconhece a língua que Quaquá atribui aos pobres. E se os alvos das porradas revidarem com mais porrada? Viveremos num país onde quem bate mais se impõe?
Que Sociologia é essa? Auguste Comte treme no túmulo costatando que as Ciências Humanas se tornaram um vale-tudo do desconhecimento, uma esculhambação da boa tradição do rigor epistemológico, metodológico e formal. Assim, não admira que a sustentação ideológica do lulopetista seja o pensamentozinho esburacado que empobrece as universidades brasileiras. Ademais, ainda que a vida do povo tivesse melhorado como quer Quaquá, roubar o povo para isso é como explicar a canja à galinha. O povo para quem a vida só melhora é o militante de que o jeca é dono.
No magnífico “Do Mel às Cinzas” de Claude Lévi-Straus, segundo volume da estupenda tetralogia “Mitológicas”, o antropólogo aborda os mitos, não mais na forma deles artificialmente estanque, mas na fragmentária e preenche-lhes de infinitos sentidos ao vincular um mito ao outro, uma realidade contígua à outra, num fluxo incessante de significantes/mitos cujo significado se multiplica – sem nunca se completar – em outro significante/mito. Aí, o antropólogo genial escolhe um mito qualquer em torno do qual, a partir do qual e para o qual tudo voltará, pois um evoca, provoca e encontra o outro e suas versões, numa espécie de simultaneidade sucessiva. Tudo na tentativa de observar a sintaxe do espírito humano, este “hóspede inesperado”.
O rigor do cientista e a beleza da narrativa resultam numa leitura de prazer estético e intelectual. Recorro à imagem para falar da exortação do jeca e do pronto atendimento de Quaquá. A crônica das canalhices lulopetistas pode ser dar a partir de qualquer uma delas, pois elas se explicam, evocam-se, imbricam-se, ampliam-se, propagam-se; uma na outra, uma por causa da outra, uma pela outra. Mas aqui há um demiurgo, o princípio moralmente deformado do qual tudo partiu e ao qual tudo volta: o jeca. Como na teia de mitos de Lévi-Straus, pinçar uma cajafestice lulopetista é desfalcar o fluxo, esburacar o todo que explica as partes e por elas é explicado. Não funciona – uma traz fragmentos da anterior e já as sementes da seguinte.
Claro que não foi o jeca que fundou a vigarice fascistoide no Brasil; mas ele a centralizou num monopólio, ele a faz carne e hálito, ele a cultiva e faz a colheita. Banhá-la no verniz fajuto de causa nacional e dá-lhe o braço para desfilar a potência dele só realizada num ambiente degradado revelam o desespero de quem definha sem se importar em fazer o Brasil pagar por isso. No país onde o devedor cobra o credor, Quaquá, o professor analfabeto também moralmente, é um dos cobradores que devem ao país o vidão de militante que levam.
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