quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

No petrolão, Dirceu era “Bob”. E recebeu dinheiro sujo, diz Youssef


Por Silvio Navarro e Laryssa Borges, na VEJA.com: O ex-ministro José Dirceu, que cumpre pena por arquitetar o esquema do mensalão, teve muitos codinomes em sua vida, quando agia na clandestinidade em grupos de esquerda durante a ditadura militar. Chegou a esconder sua real identidade por quatro anos da ex-mulher. Agora, as investigações da Operação Lava Jato da Polícia Federal revelam um novo apelido do ex-chefe do Partido dos Trabalhadores e homem forte do governo Lula para identificar sua parte na contabilidade do propinoduto que sangrou a Petrobras. Nas planilhas dos operadores do maior esquema de desvios de recursos públicos que se tem notícia, Dirceu era “Bob”.
As revelações foram feitas pelo doleiro Alberto Youssef, que durante uma década agiu como uma espécie de “banco” para lavar o dinheiro roubado da petroleira. Em uma série de depoimentos à Polícia Federal, prestados entre os dias 9 e 13 de outubro do ano passado, Youssef afirmou que Dirceu mantinha relação muito próxima – “eram amigos”, nas palavras do doleiro –, com o empresário Julio Camargo, da Toyo Setal. “Julio Camargo possuía ligações com o Partido dos Trabalhadores, notadamente com José Dirceu e Antonio Palocci”, disse.
Segundo Youssef, Dirceu e o também ex-ministro Antonio Palocci Filho, este homem forte tanto na gestão Lula quanto no início do primeiro governo Dilma Rousseff, utilizavam um jato Citation Excel, de propriedade de Camargo, que ficava no Angar número 1 da companhia aérea TAM, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Mas o uso do jato não é o único elo entre o petista e o operador do petrolão. O doleiro descreve o esquema montado por Julio Camargo: segundo ele, o empresário tinha um testa de ferro, chamado Franco, a quem Youssef reconheceu em fotografia exibida pelos policiais. Trata-se de Franco Clemente Pinto, uma espécie de contador do dinheiro roubado da estatal, que utilizava um escritório no sexto andar de um edifício comercial ao lado do Shopping Cidade Jardim, na Zona Sul da capital paulista. Franco detalhava as quantias – Youssef não informou os valores – em planilhas arquivadas em um pen drive protegido por senha. Nessas tabelas, assim como Dirceu era “Bob”, Youssef era conhecido como “Primo”. Diz ainda que o empresário também instrumentalizou propina da empreiteira Camargo Correa para agentes públicos e bancar caixa dois de partidos.
A exemplo de Youssef, Julio Camargo também concordou em colaborar com as investigações em troca de possíveis benefícios judiciais. Em um de seus depoimentos, Camargo revelou, por exemplo, que a empresa Toyo Setal pagou propina de 30 milhões de dólares ao lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, apontado como o operador do PMDB no petrolão. A propina a Baiano serviria para que a empresa sul-coreana Samsung Heaby Industries celebrasse com a Petrobras contratos para a fabricação de duas sondas de perfuração em águas profundas. O pagamento precisou de intermediação de Alberto Youssef, que providenciou contratos simulados com empresas de fachada para viabilizar parte dos recursos.
Por Reinaldo Azevedo

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