O Alcorão que compreende, em vez de matar, pode tornar o mundo melhor — e também isso vale para o Livro Sagrado dos cristãos. Mas indago: em que país do mundo, como força preponderante, se aplicam os ensinamentos lhanos da lei maometana? Escrevi aqui, já faz tempo, que não considero a Turquia uma democracia. O país é habitualmente citado como exemplo de que a fé islâmica pode conviver com um regime de liberdades públicas.
Apanhei bastante. Fui acusado de preconceituoso. Pois é… A Justiça turca proibiu o acesso a sites que reproduzam a charge publicada pelo “Charlie Hebdo”. No país, só o jornal “Cumhuriyet”, de Istambul, publicou alguns dos desenhos do jornal francês, mas não o de Maomé. Mesmo assim, segundo a publicação, policiais interceptaram os caminhões que saíam da gráfica para verificar se a edição estampava a imagem proibida. Faço perguntas óbvias: em que democracia do mundo isso acontece? Que democracia do mundo interdita o acesso a sites? Que democracia do mundo aplica a censura prévia de arma na mão?
E, neste ponto, acuso a covardia dos líderes do Ocidente. Sim, muitos deles — não Barack Obama, que nem isto fez — compareceram ao protesto na França, que reuniu quase quatro milhões de pessoas. Em seguida, no entanto, teve início a ladainha de desculpas e escusas com o mundo islâmico. Angela Merkel, chanceler alemã, decidiu participar de um ato contra a suposta islamofobia.
Ora, todas as pessoas decentes somos contra a islamofobia, a cristofobia, a judeufobia etc. Mas pergunto: os líderes ocidentais estão fazendo a devida cobrança aos representantes do islamismo moderado — ou, se quiserem, daquele islamismo do Livro Sagrado? Mas cobrar o quê? Que anunciem ao mundo palavras de paz!
O governo turco não se pronunciou oficialmente a respeito. Mas um dos vice-primeiros-ministros, Yalcin Akdogan, afirmou: “Aqueles que desprezam os valores sagrados dos muçulmanos publicando desenhos que supostamente representam o nosso profeta são claramente provocadores”. Ele anunciou isso no Twitter. São palavras de guerra, não de paz.
Cadê Barack Obama? Por que o presidente do país mais importante do que já se chamou “Mundo Livre” está em silêncio obsequioso? Nunca sou ambíguo ou oblíquo. Não estou aqui a especular sobre supostas vinculações, afetivas que fossem, de Obama com o Islã. Acho que o caso é mesmo de fraqueza moral. O mundo que temos é complicado demais para ele.
Vivemos um momento sem dúvida importante. Ou as democracias ocidentais declaram o valor universal da liberdade ou permitem que a lógica do terror e da ditadura religiosa se insinue em sua cultura. O que vai ser?
Não! Não se trata de um confronto entre dois fundamentalismos. A liberdade de expressão não é um princípio — ou, então, um fundamento — que aniquila as vozes contrárias porque seria divinamente inspirada. Ao contrário: sua virtude está na pluralidade humanamente conquistada — e com muito sofrimento.
Mas ainda que se admitisse um confronto de fundamentalistas, seria forçoso reconhecer que existe uma diferença entre o princípio que diz “sim” à diversidade de opiniões e o que diz “não”.
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