domingo, 28 de dezembro de 2014

O choro de Dilma - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 28/12


Como se previa, o nome da presidente Dilma Rousseff apareceu, finalmente, num dos processos contra a Petrobras, o movido pela cidade de Providence, capital do estado americano de Rhode Island, que alega ter tido prejuízos na compra de ações da Petrobras devido ao esquema de corrupção na estatal brasileira.

Como uma das "pessoas de interesse da ação" ela ainda não é ré no processo, mas poderá vir a ser se no decorrer das apurações ficar provado que ela sabia do que estava acontecendo na estatal quando assinou folhetos de propaganda para vender ações no mercado internacional, ou se tiver sido negligente.

Ela e mais algumas autoridades brasileiras e membros do Conselho de Administração da Petrobras que presidiu estão arrolados no processo, e mesmo que tenha imunidades que a impeçam de depor no processo, a presidente Dilma ficará, no mínimo, sujeita às pressões de escritórios de advocacia americanos em busca de um bom acordo.

É mais um percalço político para uma presidente que, em vez de estar em lua de mel com seu eleitorado e os partidos que apoiaram sua reeleição, passa por maus momentos especialmente dentro de seu próprio partido, o PT. Já aparecem relatos de que a presidente Dilma estaria deprimida, e que teria até mesmo chorado recentemente, depressão atribuída, por pessoas próximas, às dificuldades por que vem passando na montagem de seu novo Ministério. A presidente confessou depois que se sentia muito sozinha.

Diante da intenção de dar novos ares a um segundo mandato, fazendo um governo mais com a sua cara do que a de Lula ou do PT, a presidente teria sucumbido diante das pressões partidárias, e ela própria não estaria satisfeita com o resultado até aqui. Não combina com a imagem de Dilma esse choro quase público, mas a humanizaria e daria, pelo menos, a sensação de que a presidente, pelo menos, estaria tentando fazer algo de novo.

Porque é estarrecedor ver-se o resultado final da parte já definida do Ministério, fruto da mesma prática deletéria de escolher um partido para cada ministério, sem levar em conta a capacidade do escolhido ou sua especialização na área que comandará.

A situação é tão trágica que um partido como o PRB, da Igreja Universal, se sente em condições de ameaçar ir para a oposição caso o Ministério do Esporte não vá mesmo para o pastor George Hilton, um completo ignorante na área, tão ou mais que seu padrinho o pastor Marcelo Crivella, que confessou não saber nem mesmo reconhecer uma minhoca quando foi indicado para a pasta da Pesca.

O maior problema para Dilma parece ser mesmo o ex-presidente Lula, que não estaria nada satisfeito com a liberdade que ela ensaia na escolha do Ministério, depois de ter conseguido convencê-la de que teria que colocar na Fazenda um economista ortodoxo e fiscalista para tentar se aproximar do mercado financeiro e dar segurança aos eventuais investidores.

A verdade é que Dilma jamais seria presidente da República se não tivesse passado na cabeça de Lula essa ideia magistral de lançar uma mulher, ainda por cima apresentá-la ao eleitorado como grande gestora. Os fatos o desmentiram, mas o imaginário popular ainda está dominado pela fantasia de que o PT é o partido que cuida melhor dos pobres e desemparados, o que bastou para uma vitória apertada. Uma vitória eleitoral que trouxe uma derrota política para o PT, pois os fatos teimam em continuar desmentindo o que foi dito na campanha eleitoral, tendo como carro-chefe o escândalo da Petrobras que está destruindo a estatal por dentro, sem que se tome uma providência para reverter o quadro.

Todos os aumentos de preços negados estão sendo anunciados dia após dia, e até mesmo a abertura de capital da Caixa Econômica já foi admitida pela presidente, que acusava seus adversários de querer acabar com os bancos públicos.

Para cúmulo de seus azares, a própria presidente Dilma, dias atrás, foi traída por um reflexo freudiano e anunciou que tomará "medidas drásticas" na economia, o mesmo que acusou seu adversário de tramar caso fosse eleito. A ponto de tê-lo inquirido no primeiro debate entre os dois: "Quais são as medidas impopulares que o senhor vai tomar se for eleito?"

Só mesmo chorando.

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