sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sessenta anos do suicídio de Vargas: o maior estadista do Brasil? - POR RODRIGO CONSTANTINO

 A caminho do escritório hoje, escutava no “Liberdade de expressão”, na rádio CBN, Carlos Heitor Cony e Artur Xexéo comentando sobre o sexagésimo aniversário da morte de Getúlio Vargas, daqui a dois dias. Cony foi enfático ao afirmar se tratar do maior estadista que o Brasil já teve, citando como exemplo a lei trabalhista. Como é?

Cony tem claro viés de esquerda em suas ideias. Uso o caso, portanto, apenas como mais uma evidência de como fascistas e esquerdistas podem andar mais próximos do que parece. O escritor relativizou a fase da ditadura, lembrando que foi a época da guerra e que vários países europeus também viraram ditaduras. Mas os Estados Unidos não! Era mesmo necessário cair em uma ditadura?
No mais, a década de 1960 também foi “rica” em ditaduras, durante a Guerra Fria. Será que os contumazes esquerdistas vão relativizar nosso regime militar com base em tal contexto? Muitos querem até retirar o nome de militares das ruas e avenidas: vão retirar o nome de Vargas também? Um peso, duas medidas?
O grande legado de Vargas foi o trabalhismo, mas como alguém pode celebrar isso? Fascismo é aliança entre estado, grandes empresas e sindicatos, à custa dos trabalhadores e consumidores, que se beneficiam de verdade sob uma economia de livre mercado. A “herança maldita” de Vargas nos acompanha até hoje, com fortes máfias sindicais impedindo uma reforma que torne as leis trabalhistas mais flexíveis.
Xexéo, ao menos, reforçou a era ditatorial de Vargas como ponto negativo de seu passado, algo muitas vezes esquecido ou ignorado. E ainda acrescentou que o nacionalismo estatizante foi combatido na era FHC, que pretendia deixar o “varguismo” para trás – algo que foi apenas parcialmente conseguido. Já Lula, o esquerdista, resgatou boa parte dessa mentalidade, mostrando uma vez mais como a esquerda pode estar mais perto do fascismo do que pensa.
Vargas era fascista? Bem, nossa CLT foi inspirada na “Carta del Lavoro” de Mussolini, ditador fascista que, aliás, gozava da simpatia de Vargas. Ontem mesmo, por acaso, dava carona para meu amigo Alexandre Borges, após o lançamento do livro de Guilherme Fiuza, e conversávamos sobre o assunto. Vargas recebeu com pompas e circunstância todo o primeiro escalão fascista de Mussolini. Só faltou o próprio ditador na comitiva.
Nessa imagem, Ítalo Balbo, ministro da aeronáutica e braço direito de Mussolini, é recebido por Getúlio Vargas no Palácio do Catete (15 de janeiro de 1931). Ele e mais outros 10 aviões da Itália fascista foram recebidos pelo governo Vargas com parada militar e festa no Rio, com direito a "Viva Itália! Viva Mussolini".
Nessa imagem, Ítalo Balbo, ministro da aeronáutica e braço direito de Mussolini, é recebido por Getúlio Vargas no Palácio do Catete (15 de janeiro de 1931). Ele e mais outros 10 aviões da Itália fascista foram recebidos pelo governo Vargas com parada militar e festa no Rio, com direito a “Viva Itália! Viva Mussolini”.
No final dos anos 1930, a Alemanha de Adolf Hitler alcançou o posto de principal parceiro comercial do Brasil. O quadro se inverteu no início da década seguinte, e o governo Vargas se aproximou mais dos Estados Unidos. Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores de 1937 a 1944, foi decisivo na aliança com Washington.
“Primeiro seguindo os EUA no neutralismo pró-democrático, entre 1939 e 1941, depois alinhando decisivamente o Brasil com os EUA após o ataque a Pearl Harbor”, diz o diplomata Paulo Roberto de Almeida, em referência ao bombardeio japonês à base americana de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico, em 1941. Foi Osvaldo Aranha quem impediu o Brasil de Vargas de fechar aliança com o Eixo durante a Segunda Guerra.
Maior estadista do Brasil? Um líder que flertou desde o começo com o fascismo? E isso dito pela boca de um respeitado escritor de esquerda? Pois é, talvez os esquerdistas devessem parar de acusar os liberais de “fascistas” o tempo todo e olhar para o próprio umbigo em uma autorreflexão sincera, para verificar que não é exatamente o liberalismo que disputa a mesma alma com o fascismo…
PS: Pela reação inicial de alguns, vemos como será difícil o Brasil se livrar do encanto que sente por caudilhos autoritários e carismáticos.
Rodrigo Constantino

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