quinta-feira, 10 de julho de 2014

Não, Galvão, não é “uma partida para ser esquecida” - POR FELIPE MOURA BRASIL


Não, Galvão, não é “uma partida para ser esquecida”

esporte-futebol-copa-brasil-alemanha-20140708-07-size-1406…É uma partida para ser SEMPRE LEMBRADA (SEM-PRÊ), para que o Brasil deixe finalmente de ser um país de deslumbrados bocós que xingam ou chamam de “pessimistas” qualquer um que lhes diga verdades inconvenientes.
Não, Galvão, não foi um dia atípico em que a Alemanha jogou muita bola e o Brasil, não. Foi uma vitória fácil de uma seleção muito superior à brasileira, sempre superestimada – assim como seus jogadores – por tudo que faz contra times ruins.
“A Alemanha não é (tão) melhor que o Brasil, o Felipe não entende nada de futebol”, dizia-me um monte de comentaristas que agora ou estão calados, ou colocando a culpa do vexame nas ausências de Neymar e Thiago Silva, com os quais, com sorte, o Brasil teria perdido de quanto?
Seis? Cinco? Quatro?
Neymar teria feito contra esta Alemanha que atropelou o Brasil o que não fez contra a Colômbia, contra o Chile, contra o México? Thiago Silva teria marcado Müller dentro da área no lugar de David Luiz no primeiro gol alemão após o escanteio – o primeiro retrato do time de garotos desnorteado que sucumbiria insolente ante uma seleção adulta? Ou seria Neymar o marcador?
É verdade que Felipão precisou de 5 gols no primeiro tempo para mexer no time, mas o que é isso para quem precisou de quase seis jogos para tirar o artilheiro dos campeonatos de várzea nacionais Fred, que teve de ouvir os gritos da torcida de “Ei, Fred, VTNC!” pouco antes de sair de fininho no segundo tempo para a entrada tardia do negligenciado Willian?
Pior do que escalar o time errado, deixando o meio-campo aberto para deleite dos meias alemães, e pela enésima vez sem poder de infiltração no ataque (o que acontecia mesmo com Neymar, afinal os três gols do Brasil nas oitavas e quartas vieram de bola parada), é Felipão (junto com Parreira) ser tão teimoso em seus erros, em que pese a decência de assumir a responsabilidade pelo fracasso.
Joachim Löw, muito mais inteligente, escalou Klose e deslocou Müller para explorar a avenida Marcelo, de modo que foi só correr para o abraço, não sem a colaboração de Fernandinho (que entregou uma saída de bola de presente) e… bem, de todo o resto do time, estático diante do tique-taque alemão, como o Santos de Neymar diante do Barcelona de Messi.
Escrever sobre Alemanha 7 x 1 Brasil é repetir toda a radiografia do futebol brasileiro que fiz após Barça 4 x o Santos, no artigo “O Brasil à luz do Barcelona“. Na Alemanha de Löw, como no Barça de Guardiola, “todos se apresentam… atacam… defendem… marcam… cobrem… se movimentam em blocos compactos… ninguém precisa resolver o jogo sozinho. Todos sabem que o time encontrará os espaços certos, na hora certa, avançando com força total, sob o comando de Xavi [Schweinsteiger, no caso]… que marcar exige atenção geral… que só é possível ter fôlego para tudo isso quando se valoriza a posse de bola. Todos, enfim, sabem jogar futebol.” Está aí o zagueiraço Hummels, que não me deixa mentir.
Já no Brasil, há muitos anos, apesar de um ou outro zagueiro razoável, temos jogadores grotescamente incompletos: laterais-esquerdos cujo maior mérito é serem canhotos; volantes incapazes de acertar passes; meias que não sabem marcar ou finalizar; dribladores que não distinguem a hora de tocar a bola; artilheiros que não jogam fora da área; e por aí vai, no festival de limitações técnicas compensadas pela exaltação obsessiva de uma especialidade qualquer, raramente efetiva contra times bons.
É uma pena que as desculpas da ausência de Neymar e Thiago Silva, bem como a falta de entrosamento da zaga, sejam usadas para amenizar a tremenda inferioridade de um treinador e de todo o elenco em relação aos do adversário, o primeiro de alto nível que a seleção brasileira enfrentou na Copa. Inferioridade, reitero, na precisão do passe e da finalização (que o digam Paulinho, Marcelo e Hulk!), na movimentação sem a bola, na criatividade do meio-campo, na versatilidade individual, no jogo coletivo, na inteligência, na frieza, na personalidade.
“O Brasil sempre tira as lições erradas das aulas humilhantes que recebe”, escrevi após a derrota do Santos no Mundial. A partida contra a Alemanha, mesmo que seja lembrada, já resultou em parte na mesma coisa: a exaltação obsessiva de quem dela esteve de fora.
Nem 7 remédios em domicílio dão jeito no deslumbramento nacional.
Mas sim, eu avisei.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil

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