Pode acreditar: o hábito de fumar também pode trazer benefícios
Em tempos de repressão, só recorrendo à retórica de pessoas que sempre têm algo pertinente a dizer, como é o caso do jornalista e humorista Millôr Fernandes. Não-fumante de carteirinha (se é que existe algum documento que classifique tal opção) ele tem uma explicação bem-humorada para o fato de uma parcela da população gostar de fumar. “Os fumantes concordam até que o fumo é um vício idiota. Mas persistem em fumar porque têm uma virtude ainda mais idiota – a da liberdade. O fumante aspira a gastar sua vida como bem entende. Arruinando conscientemente o seu corpo – uma ato de loucura –, o fumante ultrapassa a pura e simples animalidade da sobrevivência sem graça.”
Outro não-fumante que defende a opção dos tabagistas é o crítico literário americano Richard Klein – na verdade um ex-fumante. Ele é o autor do livro Cigarros São Sublimes editado no Brasil em 1998, pela Rocco. Em sua obra, o autor critica tanto os fabricantes de cigarros (“eles mentem e não fazem produtos naturais) quanto os americanos (”é uma sociedade puritana que, depois de condenar o prazer, resolveu medicá-lo e proibi-lo”).
Klein recorreu à interpretação de várias obras de arte que têm o tabaco como tema principal, para escrever um livro compreensivo em relação aos fumantes. Entre elas estão poemas (de Laforgue e Mallarmé), óperas (Carmen, de Bizet), romances (As Confissões de Zeno, de Italo Svevo), filmes (Casablanca).
A partir da interpretação destes trabalhos, aliados aos tratados filosóficos (O Ser e o Nada, de Sartre) e de sua própria observação, Klein faz uma lista de qualidades do fumo, suas vantagens sociais e benefícios para as pessoas. Benefícios? “O cigarro oferece consolo em momentos de dor; alivia a ansiedade; diminui o estresse; aumenta o poder de concentração; mitiga a sensação de fome; induz a formas de satisfação estética e de consciência reflexiva; é um instrumento para mediar a interação social e está associado a lutas de liberação sexual e política.”
Richard Klein amarra seu pensamento com um argumento parecido com o de Millôr Fernandes, o da escolha. “O cigarro hoje em dia é determinado exclusivamente a partir de seus efeitos nocivos à saúde. Mas será que este valor da saúde deve ser o único critério para definir o que é bom ou o que é belo? Talvez as pessoas possam ter o direito de pesar as vantagens do cigarro contra seus riscos. Afinal, a própria vida é uma doença progressiva da qual só nos recuperamos postumamente. Se ter saúde é estar livre da doença, só se consegue ser saudável por meio da morte.” (L.S)
Trechos extraídos da revista República, edições de março (nº 17) e Novembro (nº25) de 1998. Livro: Cigarros São Sublimes (Ed. Rocco), preço: R$ 26
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