Expansão do crime organizado pressiona o Estado - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 08/06
Quadrilha paulista estende seus tentáculos a grande parte do território e alia-se a grupos de outros países para ampliar o tráfico a níveis internacionais
Impressiona a radiografia da maior facção do crime organizado do país, exposta em recente série de reportagens do “Extra” sobre a rede, chamada pelo jornal de “Narcosul”, que grandes quadrilhas de Brasil, Bolívia, Peru e Paraguai montaram para explorar o tráfico de drogas em escala internacional a partir daquela região. A estrutura e as conexões desse condomínio, por si só, merecem a atenção das autoridades brasileiras, por suas óbvias implicações no comércio criminoso interno de entorpecentes. Mas, para além disso, fica evidente que o paulista Primeiro Comando da Capital, PCC, deixou de ser um bando regional para se transformar em organização com ramificações em praticamente todo o território nacional.
Esse novo e muito preocupante patamar do crime organizado remete a algo como a criação de uma máfia verde e amarelo. Seus números são superlativos, seu alcance, abrangente, e seus métodos, intimidadores. Na última década, o PCC deixou para trás os rivais cariocas — em especial o até então criminoso mais poderoso do país, Fernandinho Beira-Mar —, com uma estrutura tentacular que, segundo estimativas do MP de São Paulo, reúne quase 12 mil integrantes. Com procedimentos mafiosos, o grupo implantou regras como a cobrança de mensalidades e arregimenta presos em cadeias de diversos estados.
A relação do PCC com o sistema penitenciário, por sinal, vai muito além do mero recolhimento à prisão de bandidos ligados ao grupo. Ela se processa de uma forma que transgride a própria finalidade das cadeias — por definição, espaços de punição e, em tese, de correição de criminosos. Foi num presídio paulista, em Taubaté, que surgiu a primeira célula da organização e é de dentro de uma cela que seu chefão, o bandido Marcola, comanda as ações criminosas da quadrilha.
Essas duas características — a nacionalização das ações do PCC e a transformação de presídios em escritórios do crime organizado —, que dão a dimensão dos seus tentáculos, são o aspecto mais preocupante do crescimento do bando para fora das fronteiras de São Paulo (e agora também, sob a “bandeira” do “Narcosul”, do próprio país). A estrutura ramificada, a diversificação de atividades, a multiplicação de mercados (tanto para o abastecimento da quadrilha como para a venda de drogas) aumentam as já significativas dificuldades para combater a organização.
Se esses aspectos já são suficientemente preocupantes, renitentes demandas no âmbito da estrutura institucional de combate ao crime tornam ainda mais sombrio o problema da nacionalização do crime organizado. Caso, por exemplo, da falida política penitenciária do país (com déficit de vagas nas prisões), de falhas na execução penal (por exemplo, os altos índices de presos que cumprem pena sem terem sido formalmente condenados pela Justiça) etc. A questão é grave e precisa ser enfrentada com ações à altura do desafio e um envolvimento firme do Executivo federal.
Quadrilha paulista estende seus tentáculos a grande parte do território e alia-se a grupos de outros países para ampliar o tráfico a níveis internacionais
Impressiona a radiografia da maior facção do crime organizado do país, exposta em recente série de reportagens do “Extra” sobre a rede, chamada pelo jornal de “Narcosul”, que grandes quadrilhas de Brasil, Bolívia, Peru e Paraguai montaram para explorar o tráfico de drogas em escala internacional a partir daquela região. A estrutura e as conexões desse condomínio, por si só, merecem a atenção das autoridades brasileiras, por suas óbvias implicações no comércio criminoso interno de entorpecentes. Mas, para além disso, fica evidente que o paulista Primeiro Comando da Capital, PCC, deixou de ser um bando regional para se transformar em organização com ramificações em praticamente todo o território nacional.
Esse novo e muito preocupante patamar do crime organizado remete a algo como a criação de uma máfia verde e amarelo. Seus números são superlativos, seu alcance, abrangente, e seus métodos, intimidadores. Na última década, o PCC deixou para trás os rivais cariocas — em especial o até então criminoso mais poderoso do país, Fernandinho Beira-Mar —, com uma estrutura tentacular que, segundo estimativas do MP de São Paulo, reúne quase 12 mil integrantes. Com procedimentos mafiosos, o grupo implantou regras como a cobrança de mensalidades e arregimenta presos em cadeias de diversos estados.
A relação do PCC com o sistema penitenciário, por sinal, vai muito além do mero recolhimento à prisão de bandidos ligados ao grupo. Ela se processa de uma forma que transgride a própria finalidade das cadeias — por definição, espaços de punição e, em tese, de correição de criminosos. Foi num presídio paulista, em Taubaté, que surgiu a primeira célula da organização e é de dentro de uma cela que seu chefão, o bandido Marcola, comanda as ações criminosas da quadrilha.
Essas duas características — a nacionalização das ações do PCC e a transformação de presídios em escritórios do crime organizado —, que dão a dimensão dos seus tentáculos, são o aspecto mais preocupante do crescimento do bando para fora das fronteiras de São Paulo (e agora também, sob a “bandeira” do “Narcosul”, do próprio país). A estrutura ramificada, a diversificação de atividades, a multiplicação de mercados (tanto para o abastecimento da quadrilha como para a venda de drogas) aumentam as já significativas dificuldades para combater a organização.
Se esses aspectos já são suficientemente preocupantes, renitentes demandas no âmbito da estrutura institucional de combate ao crime tornam ainda mais sombrio o problema da nacionalização do crime organizado. Caso, por exemplo, da falida política penitenciária do país (com déficit de vagas nas prisões), de falhas na execução penal (por exemplo, os altos índices de presos que cumprem pena sem terem sido formalmente condenados pela Justiça) etc. A questão é grave e precisa ser enfrentada com ações à altura do desafio e um envolvimento firme do Executivo federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário