Escolas! - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 08/05
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é colocar mais máquinas e mais homens trabalhando mais tempo
O “Jornal Nacional” e o “Jornal da Globo” exibiram duas extraordinárias séries de reportagens que, por caminhos diferentes, mostram a mesma realidade: como a falta de produtividade ou a baixa eficiência, tanto no setor público quanto no privado, atrasam e tornam o Brasil mais injusto.
Na semana passada, comentamos a série do “Jornal da Globo”, que se saiu muito bem de um desafio complicado: apontar a impunidade como causa primária da criminalidade. Hoje, falamos das reportagens do “Jornal Nacional”, que encarou outro desafio difícil: mostrar como a produtividade é a chave para o desenvolvimento brasileiro.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é simplesmente colocar mais máquinas e mais homens trabalhando por mais tempo. Não raro, é o contrário: novas tecnologias, com novas máquinas e instrumentos, tornam o trabalho humano mais confortável e mais curto.
Mas produtividade é também fazer melhor com as mesmas pessoas e os mesmos instrumentos. Ou com menos. Por isso, muita gente diz que esses avanços de produtividade não são socialmente positivos para países emergentes. Nestes, a prioridade seria abrir vagas, mesmo que sejam empregos de má qualidade.
Por exemplo: cortar cana. Trabalho penoso. A cana precisa ser queimada e, se for colhida ainda quente, o trabalhador produz mais. Mas cada máquina de cortar substitui o trabalho de 45 pessoas, por turno. Qual a escolha correta do ponto de vista econômico e social? Noventa pessoas trabalhando duro ou duas máquinas, um operador cada, numa cabine com ar-condicionado?
Para uma reportagem de televisão, essa talvez fosse a parte mais complicada: mostrar como a nova tecnologia é melhor, em todos os aspectos, mesmo quando substitui postos de trabalho.
A agropecuária brasileira é um exemplo. Primeiro, trata-se de um tremendo sucesso. Só na primeira década deste século, sua produtividade cresceu 4% ao ano — um número muito forte. Nos EUA, por exemplo, o mesmo setor, altamente eficiente, teve ganhos de menos de 2% ao ano.
Basta observar a colheita em uma fazenda brasileira para ver tecnologia em ação. E pouca gente operando. Em compensação, os empregos são melhores, pagam mais. E a atividade em crescimento é um fator multiplicador: é preciso fabricar os tratores e desenvolver os métodos de aplicação.
Em resumo, é mais eficiente para a sociedade, e melhor para as pessoas, treinar os cortadores de cana em outro ofício do que manter um sistema de produção custoso e penoso.
Muitas vezes, nem é preciso equipamento novo para ganhar produtividade. Basta um método. As filas de caminhões embarcando soja nos portos de Santos e Paranaguá estão menores neste ano. O custo do transporte diminuiu, dizem os exportadores. O truque foi introduzir o prévio agendamento da entrada de caminhões nos portos. Antes, era por ordem de chegada. Agora, pelo horário marcado. Nem sempre cumprido, claro, mas os caminhoneiros dizem que estão perdendo menos horas parados.
Simples, organizar uma fila. E poderiam ter feito isso muito antes, não é mesmo?
Tudo considerado, a produtividade depende mesmo é de cérebros. E como ninguém nasce sábio e esperto, a produtividade depende mesmo é de escolas boas para todos. E isso está ao nosso alcance.
Mas tem muito mais histórias na série que pode ser vista no site do “JN”. Tomara que os políticos vejam.
O NOMEADO DA ESQUINA
Conta-se que, em dezembro de 1968, o então vice-presidente Pedro Aleixo tentava argumentar junto ao então presidente, general Costa e Silva, que o Ato Institucional 5 seria uma ameaça aos cidadãos. Costa e Silva respondeu algo assim: não se preocupe, saberei usar com responsabilidade os poderes conferidos pelo AI-5.
E Aleixo: não estou preocupado com o senhor, estou preocupado com o guarda da esquina.
A nomeação de diretores da Petrobras para atender a interesses de partidos é, em si, uma prática desastrosa. Os atuais problemas da estatal, que vão de suspeitas de corrupção a enorme ineficiência, resultam desse aparelhamento.
Mas e os outros? Os nomeados por seus partidos por esse Brasil? Se o partido nomeia diretores da Petrobras, por que um diretório não pode nomear um diretor de escola ou de posto de saúde em um remoto interior?
Dirá o leitor mais cético: escola e posto de saúde do interior não dão dinheiro.
Dão, sim. Na proporção, dão até mais dinheiro e mais correligionários empregados. E até mais fácil: ali na esquina do interior, quem se importa?
É o que faz do setor público uma imensa ineficiência. Vem de cima.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é colocar mais máquinas e mais homens trabalhando mais tempo
O “Jornal Nacional” e o “Jornal da Globo” exibiram duas extraordinárias séries de reportagens que, por caminhos diferentes, mostram a mesma realidade: como a falta de produtividade ou a baixa eficiência, tanto no setor público quanto no privado, atrasam e tornam o Brasil mais injusto.
Na semana passada, comentamos a série do “Jornal da Globo”, que se saiu muito bem de um desafio complicado: apontar a impunidade como causa primária da criminalidade. Hoje, falamos das reportagens do “Jornal Nacional”, que encarou outro desafio difícil: mostrar como a produtividade é a chave para o desenvolvimento brasileiro.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é simplesmente colocar mais máquinas e mais homens trabalhando por mais tempo. Não raro, é o contrário: novas tecnologias, com novas máquinas e instrumentos, tornam o trabalho humano mais confortável e mais curto.
Mas produtividade é também fazer melhor com as mesmas pessoas e os mesmos instrumentos. Ou com menos. Por isso, muita gente diz que esses avanços de produtividade não são socialmente positivos para países emergentes. Nestes, a prioridade seria abrir vagas, mesmo que sejam empregos de má qualidade.
Por exemplo: cortar cana. Trabalho penoso. A cana precisa ser queimada e, se for colhida ainda quente, o trabalhador produz mais. Mas cada máquina de cortar substitui o trabalho de 45 pessoas, por turno. Qual a escolha correta do ponto de vista econômico e social? Noventa pessoas trabalhando duro ou duas máquinas, um operador cada, numa cabine com ar-condicionado?
Para uma reportagem de televisão, essa talvez fosse a parte mais complicada: mostrar como a nova tecnologia é melhor, em todos os aspectos, mesmo quando substitui postos de trabalho.
A agropecuária brasileira é um exemplo. Primeiro, trata-se de um tremendo sucesso. Só na primeira década deste século, sua produtividade cresceu 4% ao ano — um número muito forte. Nos EUA, por exemplo, o mesmo setor, altamente eficiente, teve ganhos de menos de 2% ao ano.
Basta observar a colheita em uma fazenda brasileira para ver tecnologia em ação. E pouca gente operando. Em compensação, os empregos são melhores, pagam mais. E a atividade em crescimento é um fator multiplicador: é preciso fabricar os tratores e desenvolver os métodos de aplicação.
Em resumo, é mais eficiente para a sociedade, e melhor para as pessoas, treinar os cortadores de cana em outro ofício do que manter um sistema de produção custoso e penoso.
Muitas vezes, nem é preciso equipamento novo para ganhar produtividade. Basta um método. As filas de caminhões embarcando soja nos portos de Santos e Paranaguá estão menores neste ano. O custo do transporte diminuiu, dizem os exportadores. O truque foi introduzir o prévio agendamento da entrada de caminhões nos portos. Antes, era por ordem de chegada. Agora, pelo horário marcado. Nem sempre cumprido, claro, mas os caminhoneiros dizem que estão perdendo menos horas parados.
Simples, organizar uma fila. E poderiam ter feito isso muito antes, não é mesmo?
Tudo considerado, a produtividade depende mesmo é de cérebros. E como ninguém nasce sábio e esperto, a produtividade depende mesmo é de escolas boas para todos. E isso está ao nosso alcance.
Mas tem muito mais histórias na série que pode ser vista no site do “JN”. Tomara que os políticos vejam.
O NOMEADO DA ESQUINA
Conta-se que, em dezembro de 1968, o então vice-presidente Pedro Aleixo tentava argumentar junto ao então presidente, general Costa e Silva, que o Ato Institucional 5 seria uma ameaça aos cidadãos. Costa e Silva respondeu algo assim: não se preocupe, saberei usar com responsabilidade os poderes conferidos pelo AI-5.
E Aleixo: não estou preocupado com o senhor, estou preocupado com o guarda da esquina.
A nomeação de diretores da Petrobras para atender a interesses de partidos é, em si, uma prática desastrosa. Os atuais problemas da estatal, que vão de suspeitas de corrupção a enorme ineficiência, resultam desse aparelhamento.
Mas e os outros? Os nomeados por seus partidos por esse Brasil? Se o partido nomeia diretores da Petrobras, por que um diretório não pode nomear um diretor de escola ou de posto de saúde em um remoto interior?
Dirá o leitor mais cético: escola e posto de saúde do interior não dão dinheiro.
Dão, sim. Na proporção, dão até mais dinheiro e mais correligionários empregados. E até mais fácil: ali na esquina do interior, quem se importa?
É o que faz do setor público uma imensa ineficiência. Vem de cima.
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