Muito já se falou sobre o golpe de 64. 50 anos depois, a
questão deve ser tratada com o saudável distanciamento do tempo e das emoções
suscitadas.
De certa forma, a maioria dos
políticos mais proeminentes eram essencialmente golpistas. Os da direita,
conspirando desde sempre. E os da esquerda, desde a ideológica ligada a Moscou
(do PCB), que tinha na democracia um mero valor instrumental, desde a mais
radical que queria seguir os parâmetros da chamada revolução cubana, o que para
Cuba, hoje o sabemos, foi uma verdadeira involução. De um país rico, mas
desigual, passou a uma certa
“democratização” da pobreza. Com os conhecidos privilégios para a elite do
partido comunista.
Brizola era um caudilho que
sempre quis fazer um movimento de tipo peronista tupiniquim, o varguismo. Ainda
bem que não colou, se bem que os milicos, à exceção de Castelo Branco, seriam
mais nacionalistas do que Brizola e os nacionalistas da direita e da esquerda.
Até uma organização da esquerda católica a conhecida AP (ação popular) tentava
mesclar o cristianismo com o marxismo, tais quais os defensores da hoje
combalida “teologia da libertação”. Ou da escravidão? Definitivamente os
verdadeiros democratas eram minoria. À esquerda um Arraes, que defendia
veementemente a legalidade constitucional. Uma verdadeira exceção. E liberais,
como Juscelino, um dos maiores perdedores do golpe, Tancredo Neves, e inúmeros
outros que depois lutariam com os instrumentos da democracia, bravamente, contra a
ditadura.
O golpe foi uma precipitação das tropas
de Mourão Filho. Com a inação de Jango, não teve resistência. Depois teve o
apoio norte-americano, mas os gringos de nada participaram nem tampouco
planejaram. Planos eles tinham, lógico, tal quais os soviéticos, em tempos de
guerra fria. Mas o golpe foi executado pelos militares brasileiros, que, dentre
outras coisas, ficaram assustados com a quebra da hierarquia promovida com a
conhecida rebelião dos marinheiros comandada por Cabo Anselmo.
João Goulart foi um dos
presidentes mais iletrados do país. Era na verdade um exímio criador de gado.
Não dialogava com o congresso, e chegou à presidência com a renúncia de Jânio,
que queria dar um golpe. Como na época a legislação permitia votar no
presidente e no vice de partidos diferentes, ele chegou lá. Foi a tresloucada,
preguiçosa e inoperante dupla “Jan Jan” Jânio e Jango. O país estava
desgovernado, com um latente crescimento da inflação, e o povo apoiou o golpe. Não só o povo, como
inúmeros intelectuais.
Com Castelo, começou a ditadura.
Não tanto uma ditadura, mas no dizer de Guillermo O’Donnel, uma “dita branda”.
Ou “situação autoritária”. Os milicos mantiveram o parlamento aberto, mas com
óbvias limitações constitucionais. Deportaram os principais líderes, mas
mantiveram a imprensa com relativa liberdade.
Os milicos sempre planejaram
entregar o poder aos civis, porém a gente pode até procurar saber como começa
uma ditadura, difícil é prever seu término.
Também, positivistas, os militares se preocuparam em manter um regime de
ditadura, digamos de rodízio. A cada período de quatro anos mudava-se o
presidente, sendo o mesmo escolhido pelo exército. Os teóricos do “novo
sistema” diziam não querer personalizar o regime, fugindo do figurino das
caricaturais ditaduras latino-americanas. Decerto, a ditadura de 64, foi,
digamos emergencial, diante do quadro político acirrado, sobretudo pelos
ditames da guerra fria.
Como o congresso foi mantido,
assim como as eleições legislativas, foi por esse caminho que trilharia a
oposição democrática, ao contrário dos radicais, que queriam, por via das
armas, dar um “salto para o socialismo”, como em Cuba. Também os comunistas
atrelados a Moscou,(os do PCB) adotaram o caminho da redemocratização em
aliança com os nacionalistas liberais, contrários ao imperialismo norte-americano.
Só que depois da morte de Castelo
veio Costa e Silva, o crescimento do terrorismo de esquerda, e o AI-5, que foi
um golpe dentro do golpe. Foi o período mais duro da ditadura, só abrandada por
Geisel, que desmontou o aparato repressivo do regime, que já estava agindo à
revelia governamental. O estopim foi o assassinato de Vladmir Herzog em 1975.
Geisel demitiria logo para começar Ednardo D’Avila Melo, comandante da
repressão no Estado de São Paulo.
Com Figueiredo veio a anistia, e
depois a transição democrática via colégio eleitoral, um artifício da própria
ditadura para se perpetuar no poder. Com exceção do então recém criado PT, a
transição democrática se deu com os moderados da oposição juntos com os
dissidentes do ancién regime, formando a frente democrática, que elegeria
Tancredo presidente. Que, como sabemos, nem assumiu.
20 anos de ditadura resultaria
com cerca de 600 mortos. Cerca de 180 do lado dos civis inocentes, ou mesmo
justiçados pelas organizações de esquerda, e cerca de 450 do lado das
oposições. A maioria no período mais duro do regime, de 1968 a 1975, ano da
morte de Vladmir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho.
Toda ditadura é essencialmente
ruim. Mas na época, como sabemos, ninguém era inocente. A direita conspirava,
mas também perderia, com a devida cassação de figuras como Jânio Quadros e
Carlos Lacerda, ou mesmo o , digamos, mais democrata Juscelino. Que foi o que
mais perdeu, pois certamente ganharia a eleição depois do desastre de Jango.
Mas isso é outra história.
Hoje, parte da esquerda
autoritária quer posar de democrata. Mentira. A maioria era leninista, ou das
várias correntes mais radicais, auto denominadas trotskistas. Muitos, como José
Genoíno eram maoístas, seguidores do maior facínora da história humana. Hoje,
estes comunistas do PC do B apoiam o regime da Coréia do Norte. E muitos ainda
não perderam o ranço totalitário. E ainda tem gente que acha chique ser de
esquerda. Só no Brasil e parte da sempre atrasada América Latina. Com algumas
exceções, claro.
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