Desafio sueco - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 16/01
A Suécia "não é a Suécia", brincou em 1990 o sociólogo Ralf Dahrendorf, ironizando os que apontavam a nação escandinava como um desejável amálgama da competitividade capitalista com os ideais distributivistas. De sua perspectiva, o país real nada tinha em comum com essa bem-intencionada construção ideológica.
"A Suécia não é mais a Suécia", repetem, em outro contexto, grupos organizados de direita naquele país. Tornou-se uma "espécie de suedistão", afirmam, dado que 27% dos seus 9,5 milhões de habitantes têm origem estrangeira.
São 2,5 milhões de "estrangeiros", dos quais 1,4 milhão nascidos fora do país, sendo os demais filhos de um ou dois genitores sem origem sueca. Pouco importa se a maior parte dos imigrantes vem da vizinha Finlândia, ou se há mais dinamarqueses do que turcos, e mais ingleses do que indianos, nesse disputado território.
O alto contingente de iraquianos e iranianos e a crescente população de origem síria devem-se em boa medida ao fato de a Suécia ser especialmente flexível na concessão de asilo a refugiados, que representam 12% dos imigrantes.
A grande proporção de estrangeiros na Suécia --embora os muçulmanos não sejam mais que 5% da população-- acompanhou-se nos últimos anos do fortalecimento de plataformas xenófobas na política. O partido intitulado Democratas Suecos, que contava com 0,02% do eleitorado em 1998, passou a 5,7% em 2010, constituindo uma bancada de 20 deputados entre os 349 que compõem o Parlamento.
Em dezembro, cerca de 50 militantes armados atacaram uma passeata antirracista, deixando dezenas de feridos. Como resposta, atos maciços de repúdio se organizaram às vésperas do Natal.
Mas a mobilização pela tolerância e pelo multiculturalismo, sem dúvida necessária, corre o risco de tornar-se inócua com o passar do tempo. "Tolerar" o estrangeiro e o muçulmano, como bem observou o polêmico filósofo esloveno Slavoj Zizek, é algo que oculta mal o incômodo, ou a repulsa, que sua presença não obstante pode inspirar.
Estratégias de convivência, de troca, de diálogo, são mais amplas do que a mera tolerância; paradoxalmente, a ideologia multiculturalista pode frustrá-las se insistir na preservação de identidades étnicas e religiosas estanques, avessas a uma integração real e enriquecedora para todos os lados.
É o desafio de inúmeros países desenvolvidos; se a Suécia for, em parte, a Suécia que se imagina, seu papel não será pequeno na busca de caminhos para enfrentá-lo.
A Suécia "não é a Suécia", brincou em 1990 o sociólogo Ralf Dahrendorf, ironizando os que apontavam a nação escandinava como um desejável amálgama da competitividade capitalista com os ideais distributivistas. De sua perspectiva, o país real nada tinha em comum com essa bem-intencionada construção ideológica.
"A Suécia não é mais a Suécia", repetem, em outro contexto, grupos organizados de direita naquele país. Tornou-se uma "espécie de suedistão", afirmam, dado que 27% dos seus 9,5 milhões de habitantes têm origem estrangeira.
São 2,5 milhões de "estrangeiros", dos quais 1,4 milhão nascidos fora do país, sendo os demais filhos de um ou dois genitores sem origem sueca. Pouco importa se a maior parte dos imigrantes vem da vizinha Finlândia, ou se há mais dinamarqueses do que turcos, e mais ingleses do que indianos, nesse disputado território.
O alto contingente de iraquianos e iranianos e a crescente população de origem síria devem-se em boa medida ao fato de a Suécia ser especialmente flexível na concessão de asilo a refugiados, que representam 12% dos imigrantes.
A grande proporção de estrangeiros na Suécia --embora os muçulmanos não sejam mais que 5% da população-- acompanhou-se nos últimos anos do fortalecimento de plataformas xenófobas na política. O partido intitulado Democratas Suecos, que contava com 0,02% do eleitorado em 1998, passou a 5,7% em 2010, constituindo uma bancada de 20 deputados entre os 349 que compõem o Parlamento.
Em dezembro, cerca de 50 militantes armados atacaram uma passeata antirracista, deixando dezenas de feridos. Como resposta, atos maciços de repúdio se organizaram às vésperas do Natal.
Mas a mobilização pela tolerância e pelo multiculturalismo, sem dúvida necessária, corre o risco de tornar-se inócua com o passar do tempo. "Tolerar" o estrangeiro e o muçulmano, como bem observou o polêmico filósofo esloveno Slavoj Zizek, é algo que oculta mal o incômodo, ou a repulsa, que sua presença não obstante pode inspirar.
Estratégias de convivência, de troca, de diálogo, são mais amplas do que a mera tolerância; paradoxalmente, a ideologia multiculturalista pode frustrá-las se insistir na preservação de identidades étnicas e religiosas estanques, avessas a uma integração real e enriquecedora para todos os lados.
É o desafio de inúmeros países desenvolvidos; se a Suécia for, em parte, a Suécia que se imagina, seu papel não será pequeno na busca de caminhos para enfrentá-lo.
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