segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dirceu presidente - PAULO BRIGUET

GAZETA DO POVO - PR - 23/09
Quando enfim tive a certeza de que os mensaleiros ganhariam um segundo julgamento – confesso que até os momentos finais alimentei alguma esperança do contrário –, soltei um longo suspiro e senti uma avassaladora saudade do meu pai. Ah, como eu queria conversar com ele sobre o assunto...

Apesar de sempre ter sido um homem de esquerda, meu pai nunca mais votou no PT depois da morte de Celso Daniel e do escândalo do mensalão. Sobre a recente e desastrosa decisão do STF, tenho certeza de que ele faria a seguinte piada: “Chega de intermediários – José Dirceu presidente!” Seria uma adaptação da piada que circulava entre os esquerdistas pós-1964: “Chega de intermediários – Lincoln Gordon presidente!” (nota: Lincoln Gordon era embaixador dos Estados Unidos à época do golpe militar brasileiro).

O mal que a decisão do STF causou ao país é de tal ordem que, acredito, poderemos dividir a nossa história recente entre antes e depois do livramento dos mensaleiros. Pois é efetivamente disso que se trata: adiar para o dia de São Nunca a punição de um grupo que tomou de assalto as instituições democráticas da República. Corruptos e corruptores de todos os partidos devem estar festejando agora. Se os mensaleiros livraram a cara, quem terá a coragem de deter saqueadores menores do dinheiro público?

Várias imagens me vieram à mente quando recebi a notícia de que José Dirceu e sua turma conseguiram evitar a punição. Os chiliques da senadora Ideli. O mutismo da então ministra Marina. A dancinha da deputada Ângela. Os dólares na cueca do assessor petista. Delúbio e seus “recursos não contabilizados”. A cara de pau de Lula em pedir desculpas ao país, dizer que fora traído e, tempos depois, simplesmente negar a existência do mensalão.

Fato que me chamou a atenção foi o absoluto silêncio das ruas. Desculpe perguntar, mas onde foram parar todos aqueles rebeldes preocupados com o futuro do Brasil? Onde está o gigante desperto? Onde está o grito das ruas? Onde estão os manifestantes, os jovens socialmente engajados, as faixas, os cartazes, os slogans, as palavras de ordem? Onde estão os pacíficos e os vândalos? Onde estão as máscaras do Anonymous? Onde estão os partidos revolucionários? Onde estão os jornalistas emocionados, os advogados ensandecidos, os militantes em fúria? As moças seminuas da Marcha das Vadias, que fim levaram? Os bravos black blocs, a trepidante Mídia Ninja, o antenado Capilé – cadê vocês, camaradas?

Respondo com os melancólicos versos de Manuel Bandeira, que meu pai recitava: “Estão todos dormindo. Dormindo profundamente”.

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