POLÍTICA
Commodities cubanas, por Mary Zaidan
Mais do que ninguém, Padilha sabe que a precariedade do atendimento à saúde não reside no médico e que pouco adiantará multiplicar jalecos brancos sem infraestrutura. Mas como luta contra o tempo para dar cara à sua gestão, tenta, a cada dia, costurar um discurso novo para remendar os furos de um programa parido às pressas para lhe garantir palanque.
Em menos de dois meses, criou a extensão do curso de medicina para oito anos, os dois últimos no SUS, e recuou; anunciou que contrataria seis mil médicos cubanos, desistiu e desistiu da desistência. Para tal, assinou o mais rápido acordo bilateral de que se tem notícia na história, permitindo que 400 médicos cubanos cheguem já nesta semana, quatro mil no total.
Médico cubano Rodolfo Garcia (esq.) e colegas desembarcam no aeroporto de Brasília.
Foto: Alan Sampaio / iG Brasília
Foto: Alan Sampaio / iG Brasília
Exportar médicos é um negócio extremamente lucrativo para Cuba. Dados da BBC mostram que os médicos-commodities rendem algo em torno de U$ 5 bilhões ao ano à ilha. Hoje, há contratos de exportação para mais de 60 países. O maior e mais lucrativo deles, com a Venezuela, rende 100 mil barris de petróleo/dia.
Por aqui, o Ministério da Saúde informa que repassará R$ 511 milhões à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) até fevereiro de 2014, e que caberá à entidade pagar ao governo cubano. Ou seja, aplica-se o modelo bolivariano: o contrato é com o governo Raúl Castro e não com os profissionais, tratados como mercadoria.
É no acordo via Opas que o governo sustenta a legalidade de os médicos não receberem diretamente suas remunerações. Só não alardeiam que o representante da Opas no Brasil é Joaquin Molina, odontólogo cubano. Talvez isso explique a celeridade do acordo.
Há outras janelas. De 2006 para cá, mais de 500 estudantes brasileiros foram admitidos nas faculdades de medicina de Cuba a partir de seleção que teria como critério militância em movimentos sociais ou indicação partidária. Resta saber se trazê-los de volta fez parte do veloz acordo.
Quanto aos cubanos, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, já avisou que o Brasil não concederá asilo a importado algum. Não reconhece que Cuba obriga a exportação, com represálias aos que a ela se negam.
Para o governo Dilma Rousseff, Cuba é aqui.
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