França confirma gás sarin na Síria e amplia pressão sobre Assad
Atualizado em 4 de junho, 2013 - 22:02 (Brasília) 01:02 GMT
A França afirmou nesta terça-feira ter provas de que o governo sírio usou gás sarin contra rebeldes, elevando a pressão internacional sobre o presidente Bashar al-Assad.
A declaração foi feita pelo ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, durante entrevista ao canal de TV local France 2.
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Segundo ele, testes de laboratório confirmaram indícios do uso da substância no país árabe, colhidas em locais ainda não revelados.
O anúncio ocorre dias depois de repórteres do jornal francês Le Monde terem contrabandeado da Síria amostras de sangue e urina em que se supunha existir vestígios do gás.
O sarin - gás tóxico que afeta o sistema nervoso - teria sido usado inúmeras vezes, acrescentou Fabius. O chanceler francês pediu punição àqueles que usaram as armas químicas, mas não especificou onde e quando o agente foi empregado.
A Casa Branca, por outro lado, afirmou que mais provas são necessárias.
Fabius não descartou uma ação armada no país, cujo alvo seria "os locais onde o gás é armazenado". Segundo ele, "todas as opções estão (neste momento) sobre a mesa".
'Atrocidades'
Mais cedo, um novo relatório da ONU, elaborado pela comissão de investigação sobre a Síria – que é chefiada pelo diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro –, informou existirem "motivos razoáveis" para acreditar que armas químicas foram usadas naquele país.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, descreveu as atrocidades listadas no estudo que detalha evidências de novas suspeitas de massacres, assédios e violações dos direitos das crianças - como "revoltante e impressionante", disse seu porta-voz.
Para analistas, a afirmação do chanceler francês eleva ainda mais a pressão sobre o governo do presidente Bashar al-Assad, que vem negando repetidamente as acusações de uso de substâncias tóxicas contra os insurgentes.
O conflito na Síria já dura mais de dois anos e causou a morte de ao menos 80 mil pessoas, segundo cálculos premilinares da ONU.
Virada de jogo
Para Jonathan Marcus, analista diplomático da BBC, a declaração de Fabius à TV francesa é uma "virada de jogo".
"Todas as opções estão sobre a mesa (...) Isso significa ou que não decidimos reagir ou que decidimos reagir incluindo ações armadas tendo como alvo o local onde o gás é armazenado"
Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores da França, em entrevista à TV francesa
Segundo ele, esta é a primeira vez que a França afirma publicamente que o "governo sírio e seus aliados" usaram armas químicas durante o conflito, que teve início em março de 2011.
Marcus lembra que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já havia deixado claro que o uso compravado dessas substâncias representaria uma "linha vermelha" na evolução do confronto, embora na ocasião tenha descartado uma ação militar no país.
Durante a entrevista, Fabius disse que inúmeras amostras de locais não revelados na Síria e posteriormente testadas na França comprovaram a presença de gás sarin.
Segundo ele, os resultados foram encaminhados às Nações Unidas.
O sarin, considerado um gás extremamente potente, é incolor e inodoro. O uso de armas químicas é proibido na maioria dos países do mundo.
O governo sírio e os rebeldes vêm trocando acusações sobre o emprego da substância dos dois lados do conflito.
Paralelamente, os Estados Unidos continuam a colher provas sobre o provável uso das armas químicas no país, informou nesta terça-feira a Casa Branca.
'Mentiras'
O governo sírio afirma que as acusações não têm credibilidade, classificando-as de "mentiras".
Uma equipe das Nações Unidas criada para buscar vestígios do uso de armas químicas na Síria afirmou estar pronta para viajar ao país, mas que, para isso, quer acesso incondicional ao direito de interrogar todas as partes envolvidas no conflito.
Simultaneamente, a Rússia e os Estados Unidos estão liderando uma iniciativa internacional para uma conferência de paz sobre a Síria, que provavelmente será realizada em Genebra, na Suíça, nas próximas semanas.
Lakhdar Brahimi, o enviado especial das ONU à Síria, vem mantendo conversas a portas fechadas com diplomatas americanos e russos na cidade suíça para juntar representantes dos rebeldes daquele país na mesma mesa de negociação.
A tarefa não será fácil: os grupos de oposição ainda não chegaram a um consenso sobre quem poderia representá-los.
Além disso, há outros pontos de tensão. União Europeia e Rússia não concordam sobre o plano europeu de suspender o embargo de armas à Síria, que abre caminho para o envio de armas à oposição.
Do outro lado, Rússia e Estados Unidos discordam da iniciativa de Moscou de fornecer sistemas de defesa aérea para o governo sírio.
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