terça-feira, 9 de abril de 2013

GENETON MORAES NETO


A resposta de Thatcher a Fernando Collor:”Não! Não! Não! Não conte comigo nem com o governo britânico!” (A FHC, ela diria que mandato de 4 anos é “ridículo”)

seg, 08/04/13

por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas

Fiel ao apelido que ganhara, a “Dama de Ferro” Margareth Thatcher já deu uma “bronca” num presidente brasileiro.
O presidente era Fernando Collor de Mello.
Recém-eleito para a Presidência da República, ele fez um “tour” de apresentação pelos gabinetes de governantes europeus. Queria apresentar seus planos. Uma das audiências era com a então primeira-ministra britânica. Collor propôs a ela uma alternativa para que a dívida externa dos países “emergentes” fosse reduzida.
A reação de Thatcher foi fulminante.
Quando perguntei a Fernando Collor – já ex-presidente – qual foi o comentário mais surpreendente que ele ouviu de um governante estrangeiro, nos anos da presidência, ele descreveu, assim, a cena com Thatcher:
“O mais surpreendente comentário que ouvi foi feito pela senhora Margareth Thatcher, no momento em que eu, presidente eleito mas ainda não empossado, visitava chefes de estado dos principais países, para comunicar que eu haveria de encerrar a moratória e, assim, inserir novamente o Brasil no contexto internacional e nos fluxos comerciais.
Para que a reinserção acontecesse, eu precisava de certa condescendência por parte dos credores, porque, assim, poderíamos reafazer nossas contas e regularizar nossa dívida. Eu tinha uma tese que, afinal, saiu vitoriosa: a redução da dívida de todos os países emergentes em 30%. Era algo que já se comentava. Os Estados Unidos acabaram encampando essa ideia dentro do chamado Plano Brady, em função do secretário do Tesouro americano à época, Nicholas Brady. Todos tinham simpatia em relação à ideia. 
Quando chegou o momento de expor o assunto no encontro com a senhora Thatcher, ela disse: “Desculpe, mas não entendi o que o senhor falou….”. Pensei comigo mesmo: “Meu inglês não deve estar tão eficiente….”. Repeti tudo. A senhora Thatcher, então, me disse: “Deixe-me ver se entendi corretamente. O senhor quer dizer que, por exemplo, o senhor me deve 100, mas, em vez de pagar 100, quer pagar 70. É isso ? “. Respondi: “É exatamente isso!”. A senhora Thatcher respondeu: “O senhor me desculpe. Isso é uma brincadeira! Isso é uma brincadeira ! Não, não conte comigo nem com o governo britânico. Não! Não ! Não! Se o senhor deve 100, o senhor tem de pagar 100! Poderemos discutir como o senhor vai pagar, mas dever 100 e querer pagar 70, negativo! Comigo o senhor não conta!”.
Por coincidência., quando fiz pergunta parecida ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele citou, também, o nome da então primeira-ministra Thatcher como autora de um comentários mais “surpreendentes” que ele teve a chance de ouvir de um dirigente estrangeiro:
“Nós estávamos na Embaixada do Brasil, num almoço com Margareth Thatcher. Era a Dama de Ferro. A certa altura, ela me pergunta : “Quanto tempo dura o mandato de um presidente no Brasil ?”. Eu disse: “Quatro anos”. Ela riu: “That´s ridiculous!” ( “É ridículo”). Em quatro anos, ninguém faz nada! Não é possível! “. Pensei : meu Deus do céu, será que não dá para fazer nada? Eu estava no começo do mandato….”
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PS: A íntegra de nossas entrevistas com os ex-presidentes Fernando Collor, Itamar Franco, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso foi publicada no livro “Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes” / Editora Globo

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