Os decepcionantes resultados da indústria em janeiro podem ter sido agravados pela crise externa ou por fator sazonal atípico. Mas não foram causados por eles. São resultado das omissões deste governo e dos anteriores.
A queda da produção física em janeiro sobre o mês anterior foi de 2,1%, como apontou o IBGE na última quarta-feira. E a redução em 12 meses terminados em janeiro, de 0,2%. Alegações de que o mês foi atípico, por causa das férias coletivas da indústria, não têm cabimento. Embora também tenha sido atípico, janeiro de 2011 apontou produção industrial física 2,3% maior do que a de janeiro deste ano.
O desempenho ruim deste início de ano vem quando o consumo avança perto dos 5% – mostraram as Contas Nacionais – e há pleno emprego. Ou seja, quando o mercado interno cresce vigorosamente, mas não consegue ser plenamente atendido pela indústria. Outro sinal de que o setor perde competitividade.
O governo ainda aposta em que o aumento dos investimentos na área, a partir deste ano, melhorarão seu desempenho. Mas os obstáculos de base continuam aí.
Como pode a indústria enfrentar o jogo duro da crise global se arca com carga tributária de 36% do PIB? Ainda nessa sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconhecia que era preciso levar adiante a desoneração dos encargos sociais que incham as folhas de pagamentos. E, no entanto, já em fevereiro de 2011, a presidente Dilma prometia prioridade à tal desoneração, adiada indefinidamente e, ainda assim, quando sair, será por período relativamente curto.
Como a indústria do Brasil pode competir se, num país em que quase 80% da matriz energética é de fonte hídrica (ou seja, tem custo zero de matéria-prima), lhe é cobrada a quarta mais alta tarifa por quilowatt/hora do mundo?
Os dados do Banco Central mostram que as empresas pagaram, em fevereiro, custo (médio) de 40,9% ao ano nos juros para desconto de duplicatas; de 55,8% ao ano para desconto de notas promissórias; de 26,o% ao ano para financiamentos de capital de giro; e de 109,1% ao ano para financiamentos de conta garantida. Que empresa enfrenta impunemente essas despesas financeiras? Ou, perguntado de outra forma, de quanto precisa ser o lucro para enfrentar essas contas?
Há um mês, a consultoria MB Associados apontou que os custos de logística estão em 20% do PIB no Brasil. Enquanto isso, são de 10,5%, nos Estados Unidos; de 12,0%, no Canadá; de 13,0%, na Alemanha; e de 20,0%, no México.
Essa baixa competitividade não começou anteontem. Vem lá de trás, dos tempos de substituição de importações e das políticas industriais distorcidas. Mas vinha sendo compensada com generosas desvalorizações da moeda nacional, que barateavam em dólares o produto exportado e encareciam em moeda nacional o produto importado.
Não dá mais para prosseguir com esse arranjo. E, no entanto, o governo federal não tem nenhum plano firme e abrangente destinado a atacar com coragem as reformas que fortificarão a indústria.
CONFIRA
Como mostra o gráfico, apenas no mês de março a alta do dólar no câmbio interno (desvalorização do real) foi de 4,0%. Mas, na acumulada do ano, a queda ainda é de 4,6%.
Intervenção. A compra de moeda estrangeira no mercado à vista pelo Banco Central continua sendo o principal mecanismo pelo qual o governo Dilma intervém no câmbio para deter a baixa do dólar. O resultado dessas compras é incorporado às reservas externas. No dia 8, o volume das reservas externas estava nos US$ 357 bilhões, 1,5% superior ao saldo do final do ano.
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