Em passado recente, a junção do PT com a máquina de xerox interrompeu a carreira de vários segredos nas repartições públicas de Brasília.
Infiltrado na engrenagem do Estado, o petismo abiscoitou dados sigilosos de sucessivas administrações –de Collor a FHC, passando por Sarney.
Pescados à sorrelfa, os dados eram gostosamente repassados a jornalistas nas sombras de CPIs urdidas no Congresso.
A chegada de Lula à Presidência, em 2003, produziu uma metamorfose. O ex-PT tomou aversão por CPI. E passou a odiar jornalistas.
Receando provar do próprio veneno, o “novo” governo adotou a política da língua presa. Sob Lula, Brasília passou a viver uma fase de oba-oba.
Um período que não pode ser conspurcado pela desenvoltura de jornalistas indiscretos. Ir muito fundo na investigação de qualquer tema tornou-se um desserviço à causa da unanimidade.
O repórter que pergunta demais é, agora, um chato a ser contido. Pelo menos até entender que a era do oba-oba extinguiu a velha dicotomia entre certo e errado.
Agora só há o conveniente e o inconveniente. E a crítica, definitivamente, não convém. Sobretudo quando chega em ano de eleição.
A situação de Lula reclama compreensão. É dura a vida de um presidente que preza a biografia ao mesmo tempo que cuida do PMDB e lida com a parentela de Erenice Guerra.
Não é fácil compatilizar a modernidade vermelha com atores cinzentos e antiquados como Sarney e os amigos dele do Amapá. Difícil combinar o Brasil novo com práticas tão antigas como o tráfico de influência.
Assim, é compreensível que, ao discursar nos palanques da pupila Dilma Rousseff, Lula se vista como personagem do mundo dos espetáculos.
Como presidente, Lula nunca teve relações amistosas com a autocrítica. Como cabo eleitoral, leva a crítica aos críticos a fronteiras extremas.
Num cenário em que José Serra assumiu o papel de exterminador da oposição, Lula decidiu se concentrar na mídia. Ataca jornais e revistas.
Tem pronunciado discursos memoráveis. Os trechos mais relevantes são as pausas. Mas ele fala tão grosso que fica impossível escutar-lhe o silêncio.
Ator solitário de sua própria sucessão, Lula aproveitou um comício deste sábado (18), em Campinas, para dar um conselho aos seus candidatos.
"Eu queria pedir para você Dilma e para você Mercadante: não percam o bom humor, deixa eu perder. Eu já ganhei...
“...Se mantenham tranquilos porque, outra vez, nós não vamos derrotar apenas os nossos adversários tucanos...”
“Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político e não tem coragem de dizer que têm partidos políticos, que tem candidatos...”
“...Não tem coragem de dizer que não são democratas e pensam que são democratas. Democrata é este governo que permite que eles batam".
Antes do grande líder, José Eduardo Dutra, presidente do PT, já havia injetado no ato eleitoral de Campinas uma imagem bélica. Disse que os difusores de más notícias são "falsos defensores da liberdade”.
Por quê? “Acusam o senhor [Lula] de governar em cima de palanques, mas eles sentem falta dos que governavam em cima de tanques".
Em hora tão grave, o repórter sente-se na obrigação de ajudar. E o faz recordando a Lula e Dutra que eles não precisam assumir as feições de José ‘Abuso do Poder de Informar’ Dirceu.
É desnecessário. A mídia, antes sem importância, tornou-se irrelevante. Algo como 80% do eleitorado informa que Lula é um mito inatacável.
Esquece-se, de resto, que é o governo, não os jornais, quem controla as máquinas de propaganda oficial e de investigação estatal.
É nulo o risco de o noticiário “de oposição” resultar em consequências indesejáveis. Por vias transversas, o petismo atingiu o sonho do controle da imprensa.
No limite, sempre há a alternativa de contrapor aos “tanques” da mídia o modelo leninista. Bem verdade que, junto com ele, viriam a censura e a cadeia.
Mas quem se importa? O silêncio é preço módico quando o que está em jogo é a continuidade que leva à felicidade eterna e mantém a salvo o Brasil do oba-oba.
Em fase colaborativa, o signatário do blog sugere a Lula que baixe uma medida provisória de dois artigos: 1) "Fica instituído no Brasil o programa Bolsa Viseira". 2) "Revoguem-se todas as notícias contrárias".
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