terça-feira, 25 de agosto de 2015

Míriam Leitão - Medo do desconhecido


• Saída de Temer aumenta a incerteza, e agora a situação externa piorou.

- O Globo

O que se teme sobre a China é o que não se sabe sobre ela. A cada movimento que o Banco Popular da China — o Banco Central deles — faz para buscar a estabilidade dos ativos, mais eles oscilam nervosamente. Em uma sociedade opaca, onde tudo está sob controle do governo, o medo que prospera é de que a situação esteja mais grave do que nos é permitido ver.

O que mais se teme sobre o Brasil é tudo o que já se sabe. Com a saída do vice-presidente Michel Temer da coordenação política, a presidente Dilma ficou mais sozinha na crise que não tem conseguido gerenciar. O país se afunda na incerteza política e econômica. Agora há um problema a mais: a situação externa piorou. Nossa crise econômica não foi criada pelo mundo, mas produzida pelos erros do governo. Nos últimos anos, apesar das oscilações naturais na economia, não houve nada parecido com o que sacudiu os mercados em 2008 e 2009. Ao contrário do que a presidente Dilma disse na campanha, no ano passado, o país não estava com problemas provocados por fatores externos. Mas agora, sim, há o temor de uma turbulência das grandes se a China continuar afundando.

Em 5 de março deste ano, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, abriu o Congresso Nacional do Povo falando que a pressão de baixa iria se intensificar e que ela teria que ser enfrentada com sacrifícios e mudanças. “As dificuldades que nós estamos enfrentando este ano podem ser maiores do que as do ano passado.” Ele avisou também que o ritmo de crescimento estava entrando no “novo normal”.

Duas grandes incertezas provocaram o pânico nos mercados ontem. A primeira era a China. A segunda é a reação do mundo à alta dos juros americanos. Quando o mercado financeiro opera em modo pânico, os investidores compram dólares e títulos do Tesouro americano. Vendem os outros papéis. Foi isso o que aconteceu.

O índice de Xangai fechou em queda de 8,5%, o maior recuo em um dia desde fevereiro de 2007. Nem durante a crise do subprime ela caiu tanto quanto ontem. Isso contaminou toda a Ásia. No Japão, o tombo foi de 4,6%, e os principais índices europeus fecharam em queda entre 4%e 6%.

Nos EUA, as ações da Apple chegaram a cair 13%, com uma perda de valor de US$ 78 bilhões, para fecharem em queda de 2,5%. A General Electric despencou 21%, para fechar em -2,9%. O petróleo tipo brent caiu 6%. Essa espantosa volatilidade é a prova de que o mercado não sabe para onde vai a conjuntura.

Há duas semanas, pesquisa feita pela Bloomberg com investidores em todo o mundo mostrava uma aposta de 50% para alta dos juros americanos em setembro. Ontem, esse percentual havia caído para 20%. O ex-secretário do Tesouro disse ao “Financial Times” que será um erro se o Fed subir as taxas.

Se já estava difícil para o Brasil, a desconfiança sobre a China torna o quadro pior. A bolsa chinesa está em queda livre nos últimos dias, mesmo assim ainda tem forte alta acumulada em 12 meses. Ou seja, pode cair mais. Os preços das commodities estão desabando, assim como os papéis das empresas em todo o mundo.

O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, avalia que a reação dos mercados está sendo exagerada:

— Há um efeito manada. A bolsa da China é pequena, não tem tanta relação com o PIB chinês, nem com a riqueza das famílias. A bolsa deles subiu 150% durante um ano e a economia continuou desacelerando. Contudo, essa reação é ruim para os países emergentes.

Por aqui, o vice-presidente Michel Temer abandonou oficialmente a articulação política do governo e houve a notícia de uma viagem inesperada do ministro Joaquim Levy aos Estados Unidos. A bolsa brasileira chegou a cair mais de 6%, mas reduziu o estrago para fechar em -3%. O Planalto tentou atenuar a notícia dizendo que Temer ficará na “macropolítica”. Na verdade, ele está fazendo um movimento para se afastar da presidente Dilma e tentar formar uma referência alternativa. Manobra de difícil realização, porque ele é parte integrante da mesma chapa eleita em 2010 e reeleita em 2014.

O ex-presidente Itamar Franco conseguiu fazer essa separação de corpos, mas, desde o início do governo Collor, Itamar fez questão de afastar-se do governante. Não há um lugar longe o suficiente para Temer, e o governo ficará ainda mais fraco sem o vice-presidente na articulação política.

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