quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Não existiria Bolsonaro presidente sem Olavo de Carvalho - Alan Ghani

Não existiria Bolsonaro presidente sem Olavo de Carvalho

Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente do Brasil. Muitas hipóteses surgem para explicar como um candidato com pouco recurso, fora do establishment e com oposição de maior parte da imprensa foi capaz de ganhar a eleição. As explicações mais comuns são aquelas que colocam, na percepção do eleitor, Bolsonaro como um catalisador da valorização da segurança pública, do antipetismo, de valores conservadores e do anti-establishment. Verdade. Mas existe uma variável pouco explorada pelos analistas que foi fundamental para explicar "Bolsonaro presidente". Essa variável se chama "Olavo de Carvalho".
Olavo de Carvalho
(Olavo de Carvalho/Facebook)
Jair Messias Bolsonaro é eleito presidente do Brasil. Muitas hipóteses surgem para explicar como um candidato com pouco recurso, fora do establishment e com oposição de maior parte da imprensa foi capaz de ganhar a eleição. As explicações mais comuns são aquelas que colocam, na percepção do eleitor, Bolsonaro como um catalisador da valorização da segurança pública, do antipetismo, de valores conservadores e do anti-establishment. Verdade. Mas existe uma variável pouco explorada pelos analistas que foi fundamental para explicar “Bolsonaro presidente”. Essa variável se chama “Olavo de Carvalho”.
A votação expressiva de Bolsonaro não seria possível sem uma onda conservadora no Brasil. Sem a devida preparação no terreno cultural, Bolsonaro jamais seria eleito. Não se trata apenas de um fenômeno antipetista; existiam outros candidatos contra o PT, que não levaram a maior parte dos votos da população.
A ascensão de Bolsonaro coincide com uma retomada dos valores conservadores e um cansaço com as ideologias, conforme observado no artigo escrito por mim em conjunto com o colunista do InfoMoney, Alexandre Pacheco (aqui). A ascensão do conservadorismo e a perda de força das ideologias não ocorreram por acaso. Embora a população brasileira seja majoritariamente conservadora (aqui), o conservadorismo foi neutralizado por anos de hegemonia cultural da esquerda no país. E é exatamente aí que entra a importância histórica do filósofo Olavo de Carvalho.
No início da década de 90, Olavo de Carvalho, com o brilhante livro o “Imbecil Coletivo”, dava início sozinho à quebra dessa hegemonia. Não era tarefa fácil, uma vez que as escolas, a mídia e as universidades tinham o monopólio da informação e propagavam ideias de esquerda sobre toda a sociedade (ver a Corrupção da Inteligência de Flávio Gordon). Não havia no Brasil um debate intelectual entre direita e esquerda, mas entre correntes ideológicas dentro da própria esquerda (socialismo, social democracia, etc.). Conforme o próprio Olavo já disse: “o debate ocorria nos próprios termos da esquerda”. Mesmo que uma pessoa não se considerasse de esquerda, ela já falava e pensava como um esquerdista, sem perceber o processo inconsciente de doutrinação.
Mesmo sendo uma obra prima, é evidente que apenas um livro (O Imbecil Coletivo) não seria suficiente para furar todo o bloqueio às ideias conservadoras e liberais impostas pela mídia e pelas universidades. Apesar de seu banimento de todos os grandes veículos de comunicação, Olavo de Carvalho lançava cursos na internet, escrevia artigos, publicava livros e fazia vídeos online, conquistando uma legião de alunos e seguidores. Com uma argumentação extremamente lógica, embasado em fontes primárias e apoiado numa vasta literatura nacional e internacional, Olavo de Carvalho dava início a um processo de resgate da alta cultura no Brasil e de combate ao domínio psicológico e cultural da esquerda sobre as massas.
Conforme observado em entrevista por Filipe Martins para o InfoMoney (aqui), Olavo de Carvalho influenciava intelectualmente uma geração que futuramente teria grande relevância como formadores de opinião. Felipe Moura Brasil (jornalista, Jovem Pan e Antagonista), Bruno Garschagen (escritor, Gazeta do Povo), Alexandre Borges (publicitário, Imprensa Livre), Filipe Martins (analista político, Senso Incomum), Flávio Morgenstern (escritor Senso Incomum), Danilo Gentili (SBT), Flávio Gordon (escritor, Gazeta do Povo), Nando Moura (crítico musical, canal próprio), Lobão (músico), Joyce Halssemann (deputada federal) Bene Barbosa (especialista em segurança pública, MVB), Allan dos Santos (Terça Livre) são apenas alguns nomes que hoje têm milhares de seguidores e influenciam muitas pessoas -  seja com livros, programas em mídia, artigos ou vídeos na internet (eu, Alan Ghani, também fui influenciado intelectualmente pelas ideias de Olavo de Carvalho).
Com o avanço das redes sociais e com a publicação do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, definitivamente o filósofo se consolida como um fenômeno editorial e de internet. Conforme observado por Carlos Andreazza – editor da Record, também entrevistado pelo InfoMoney (aqui) -, Olavo de Carvalho se torna “pop” e seu livro se transforma num fenômeno editorial, atingindo pessoas comuns (mais de 300 mil cópias vendidas). Diga-se de passagem, Carlos Andreazza contribuiu bastante para a influência intelectual da direita no Brasil ao publicar excelentes livros com ideias liberais e conservadoras.
Com Olavo de Carvalho e todos esses formadores de opinião, finalmente a esquerda teve que lidar com o contraditório, com um debate de verdade. As ideias liberais e conversadoras penetravam na sociedade, ao mesmo tempo que muitas ideologias de esquerda (ideologia de gênero, feminismo, etc.) eram denunciadas como partes integrantes de um projeto de tomada de poder, e não como defesa de minorias. Denunciava-se a corrupção sistêmica do Petrolão, o Foro de São Paulo e o apoio petista às ditaduras venezuelanas e cubanas. Nesse novo ambiente, grupos antigos se reciclavam (Jovem Pan) e uma nova imprensa surgia – o Antagonista. O jornalismo era resgatado, e os fatos passaram a importar mais que as ideologias.
O domínio hegemônico da esquerda começava a ruir. Se de um lado a hegemonia cultural de esquerda foi essencial para a chegada e sustentação do PT ao poder (ver a Corrupção da Inteligência de Flávio Gordon), por outro, o enfraquecimento no plano cultural foi fundamental para não eleger Fernando Haddad. Com a perda dessa influência, o PT se enfraquecia e passou a se sustentar basicamente no recall eleitoral de Lula. Perdia força de narrativa também. Não conseguia mais doutrinar a população, dizendo que "a maior crise econômica da história brasileira era culpa do cenário internacional". As narrativas do “impeachment é golpe” e “Lula foi preso sem provas” não colavam mais para a maior parte da população. Os fatos e a realidade se sobrepunham à narrativa. É óbvio que a Lava Jato e a crise econômica contribuíram muito para o enfraquecimento do PT. Mas o entendimento da sociedade poderia ser outro. A população poderia entender o PT como “vítima”. Não foi o que ocorreu. O PT não conseguia mais emplacar a sua narrativa.   
Nesse novo ambiente, marcado pela ascensão do conservadorismo e do antipetismo, bastava apenas um político encarnar essas tendências para a população. Bem ou mal, com seu jeito mais rude, mais rasgado, Bolsonaro soube fazer isso e capitalizar os votos. Na percepção do eleitor, Bolsonaro era visto como um defensor legítimo do antipetismo, ou do conservadorismo, ou de ambos.
Jair Bolsonaro é resultado direto do antipetismo e da ascensão cultural da direita no país (liberal e conservadora). No entanto, não existiria antipetismo e nem conservadorismo sem a quebra da hegemonia cultural da esquerda no Brasil. E essa quebra de hegemonia só foi possível graças ao excelente trabalho de Olavo de Carvalho, que formou uma geração de pessoas preparadas intelectualmente para o debate público. Em última análise, seria impossível um Bolsonaro presidente sem o choque de realidade trazido pelo filósofo Olavo de Carvalho.  Não é à toa que seu “best seller” estava na mesa do futuro presidente em seu primeiro discurso. Olavo tem razão.
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Alan Ghani é economista, PhD em Finanças, professor de pós graduação e colunista do InfoMoney.

sábado, 27 de outubro de 2018

Steve Bannon declara apoio a Bolsonaro, mas nega vínculo com campanha: 'Ele é brilhante'

Steve Bannon declara apoio a Bolsonaro, mas nega vínculo com campanha: 'Ele é brilhante'

Steve Bannon em frente a quadro do ex-presidente Abraham LincolnDireito de imagemRICARDO SENRA/BBC NEWS BRASIL
Image caption'Estou aqui endossando com alegria o capitão Bolsonaro e sua campanha', disse Steve Bannon
Após meses de intensas especulações sobre uma eventual participação na campanha de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência, o ex-estrategista-chefe do governo Donald Trump e criador da retórica nacionalista que elegeu o presidente americano decidiu romper o silêncio e recebeu a BBC News Brasil em seu quarto de sua casa em Washington, em uma rua pacata a poucos passos do Congresso Nacional e da Suprema Corte dos EUA.
No cômodo amplo, onde pilhas de jornais e revistas se acumulam na cama, em mesas e poltronas sob o olhar pálido de um retrato do ex-presidente Abraham Lincoln (1861-1865), Steve Bannon fez elogios rasgados ao candidato brasileiro, que descreve como alguém "líder", "brilhante", "sofisticado" e "muito parecido" com Trump.
As teorias sobre o vínculo com a campanha surgiram em agosto, depois que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, publicou uma foto ao lado de Bannon em um prédio comercial em Nova York. "Certamente estamos em contato para somar forças, principalmente contra o marxismo cultural", disse Eduardo na época.
Bannon, por outro lado, jamais citou o nome de Bolsonaro publicamente, apesar de fazer elogios a expoentes do novo populismo nacionalista europeu, como o ministro do interior da Itália Matteo Salvini e o primeiro ministro da Hungria Viktor Orban, ambos conhecidos pela retórica nacionalista e acusados de xenofobia contra muçulmanos, refugiados e imigrantes vindos de países em Guerra.
"Sou apenas um apoiador", finalmente afirmou Bannon à BBC News Brasil, em sua primeira entrevista sobre a situação política brasileira. "Eu estou aqui endossando com alegria o capitão Bolsonaro e sua campanha para se tornar o próximo líder do Brasil."
Hoje concentrado em apoiar candidatos republicanos nas eleições legislativas dos EUA, que acontecem no próximo dia 6, Bannon diz que previu a possibilidade de Bolsonaro sofrer um atentado e que pensou em visitá-lo no hospital. "(O risco) não tem a ver com seus oponentes políticos, é sobre a natureza da anarquia no Brasil", disse o americano ao filho do candidato no encontro em NY.
Nas últimas três semanas, durante uma longa negociação para esta entrevista, o americano se dividiu entre comícios em cidades dos EUA, financiado por doadores do partido Republicano, e as principais capitais europeias, onde articula a criação do que chama de "O Movimento", espécie de "clube" que reunirá políticos conservadores de diversas partes da Europa em uma tentativa de impulsionar o nacionalismo no continente.
Sentado em uma poltrona de couro, Bannon fez jus à fama de confrontador, fez críticas à BBC e aos principais veículos de imprensa do mundo e desconversou quando o assunto eram as "fake News" nas eleições brasileiras e sua capilaridade pelo WhatsApp.
Ele já foi descrito pela imprensa internacional como o segundo homem mais poderoso do mundo e como "o grande manipulador", segundo a revista Time, por sua suposta participação no esquema da consultoria Cambridge Analytica, que usou dados de 50 milhões de perfis no Facebook sem autorização durante a eleição de 2016 – apesar de chefiar a estratégia da campanha vencedora, Bannon já negou diversas vezes que soubesse do esquema.
Contratado como estrategista-chefe do governo logo após a eleição de 2016, Bannon foi descrito na época como o principal conselheiro de Trump na Casa Branca e responsável pelas táticas de comunicação do presidente. Ele deixou o governo sete meses depois, menos de uma semana após a marcha "Unir a Direita", que reuniu ultranacionalistas em protestos violentos na cidade de Charlottesville.
Segundo a imprensa americana, Bannon teria ligações com extremistas ligados à chamada "alt-right", que organizou o ato - o que ele negou durante a conversa com a reportagem.
Confira os principais trechos da entrevista:
BBC News Brasil - Bolsonaro teve 46% dos votos no primeiro turno. O partido dele saltou de 8 para 52 cadeiras na Câmara dos Deputados, e agora ele aparece como favorito nas pesquisas do segundo turno. Minha primeira pergunta é...
Steve Bannon - Quando eles vieram e me encontraram… aquela foto é de quando, agosto ou julho? Em algum momento do verão.
Quando os filhos estavam na cidade (Nova York), acho que ele tinha 15% (das intenções de voto), menos de 20%. O que me impressionou foi a velocidade com que chegou aos 46%. Eu cheguei a pensar que ele conseguiria de fato ganhar no primeiro turno, o que teria sido histórico.
BBC News Brasil - A que o senhor atribui esse desempenho?
Bannon - Você tem que colocar isso no contexto de toda América Latina. A Venezuela, de terceira maior produtora de petróleo do mundo, está em um estado de caos e anarquia prestes a implodir. A Argentina foi tomada pelo FMI. E o Brasil, com todos os seus recursos, eu diria, como alguém de fora, que poderia estar evoluindo para a anarquia com 63 mil assassinatos (o Brasil teve 62,5 mil homicídios em 2016, segundo o Atlas da Violência 2018) - e isso são só os que estão nos dados oficiais.
O que estamos vendo na Itália e, particularmente, nos EUA, é uma aversão contra este tipo de classe política perpétua, que está envolvida com o capitalismo clientelista, que foi a grande coisa do "Tea party" por anos e anos. A grande questão é que o capitalismo de compadrio, a corrupção e a incompetência em Washington criaram as bases para Donald Trump.
Na Itália, (Matteo) Salvini (Ministro do Interior e vice-premiê) e o Movimento 5 Estrelas estão organizados contra isso, e acho que isso é uma das coisas mais fortes do capitão Bolsonaro.
Ele está concorrendo com a corrupção e a incompetência desta classe política permanente, que levou uma nação com tantos recursos naturais a um ponto de crescimento lento ou estagnado, sem aumento dos salários, com pobreza. E agora a estrutura social está desmoronando.
É igual em todo lugar, talvez mais expressivo no Brasil. Olhe para a Argentina. Eles basicamente entregaram o controle do país para o FMI por vários anos por um socorro financeiro de US$ 70 bilhões.
BBC News Brasil - Como foi sua reunião com Eduardo Bolsonaro?
Bannon - Eles (Eduardo e assessores) me encontraram em Nova York. Fiquei impressionado com a dinâmica jovem da coisa. E eu acompanho Bolsonaro há anos.
Eles me ligaram e disseram que estariam em Nova York, que encontrariam algumas pessoas e que gostariam de me ver. Então nós sentamos e conversamos sobre a corrida eleitoral, eles me mostraram coisas da campanha e o que estavam tentando conquistar como partido.
BBC News Brasil - Que conselhos o senhor deu?
Bannon - Eu fiz algumas observações. Primeiro: nós construímos o Breitbart(principal site de notícias da chamada alt-right nos EUA) e uma cobrança por transparência com o "Clinton Cash" (livro com acusações sobre supostas ilegalidades na relação entre Hillary e Bill Clinton e financiadores, lançado em 2015).
Eu fiz uma série de coisas por quase uma década com o Peter Schweizer (autor do livro), sempre em torno da natureza bipartidária da corrupção e da incompetência em Washington. Isto foi o pano de fundo da campanha de Trump, mesmo durante as primárias. Aquela coisa de "Lock her up!" (bordão de Trump que pedia a prisão de Hillary Clinton) era sobre isso. Eu fiz comentários sobre como construímos isso com o tempo e depois usamos na campanha.
BolsonaroDireito de imagemREUTERS
Image captionBannon negou vínculo com campanha de Bolsonaro: 'Sou apenas um apoiador'
Eles me mostraram vídeos dele chegando em aeroportos e milhares de pessoas correndo na sua direção.
Minha preocupação número um foi que ele fosse assassinado. Eu nem perguntei ao filho, apenas disse diretamente: "Vocês precisam de segurança".
Eu não sei se continuaria fazendo isso, deixar milhares de pessoas o colocarem nos ombros como em uma partida de futebol. Ele (Bolsonaro) está concorrendo como um candidato da lei e da ordem. Há muitas gangues e maus elementos lá que, tenho certeza, não estão felizes em ver um candidato assim.
Eu disse: "Isso não tem a ver com seus oponentes políticos, é sobre a natureza da anarquia no Brasil". E apenas disse que eu seria muito cuidadoso.
BBC News Brasil - E aí acontece o esfaqueamento.
Bannon - Não me surpreendeu. Naquela época eu ia muito à Europa, mas, se minha agenda não estivesse tão difícil, eu tentaria mudá-la para visitá-lo. Foi um momento muito sombrio.
BBC News Brasil - Jair Bolsonaro participou da reunião?
Bannon - Não. Ele estava no Brasil o tempo todo. O que eles estão fazendo é bastante inteligente. O (possível futuro) ministro da Fazenda, Paulo Guedes, da Universidade de Chicago, fez contato com muitos caras da comunidade financeira, da comunidade de negócios, e eu acho que eles estabeleceram bases comuns que levaram ao plano econômico.
Embora ele (Bolsonaro) esteja falando de lei e ordem, assim como Salvini fala sobre a questão dos migrantes, eles entendem o que têm que fazer imediatamente para reativar a economia. Eu acho que Bolsonaro, seus filhos e conselheiros são sofisticados. Agora isso está apenas começando a aparecer.
O capitão Bolsonaro fez uma coisa inteligente. Ele ficou no Brasil o tempo todo para a campanha eleitoral.
BBC News Brasil - O senhor tem alguma conexão oficial com esta campanha?
Bannon - Não, nenhuma.
BBC News Brasil - O senhor é apenas um apoiador.
Bannon - Sou apenas um apoiador. Eu estou aqui endossando com alegria o capitão Bolsonaro e sua campanha para se tornar o próximo líder do Brasil.
Como você sabe, eu não endosso muita gente. Na verdade, acho que tecnicamente nunca endossei ninguém. Então isso seria uma primeira vez para mim, certamente a primeira vez em uma perspectiva internacional.
Ele parece o tipo de cara que poderia ser um líder nesta crise e acho que ele merece o apoio da comunidade internacional.
BBC News Brasil - O senhor comparou Bolsonaro com Trump no dia seguinte às eleições. Quais semelhanças vê entre eles?
Bannon - Eu acho eles muito parecidos. Ambos são contra o sistema e têm essa habilidade de se conectar, de representar a classe trabalhadora e talvez a classe média baixa.
Trump tem habilidades únicas, e essa é uma das razões pelas quais ele é presidente, de circular, se conectar com as pessoas e entender suas frustrações, e como elas se sentem como se não tivessem voz.
A classe média nos EUA acha que com Trump seus interesses são representados pela primeira vez, e eu acho que o capitão Bolsonaro é a mesma coisa.
Trump e Steve BannonDireito de imagemAFP/GETTY IMAGES
Image captionPara Bannon, Bolsonaro é 'muito parecido' com Trump
Bolsonaro não seria o tipo de cara eleito no Brasil em outros contextos, mas, dadas as circunstâncias, estão procurando um líder. Ele e Trump personificam essas características de liderança e, especialmente, estão preparados para enfrentar o sistema e não recuar. É muito difícil fazer isso.
BBC News Brasil - O tom deles pode ser semelhante às vezes, mas Bolsonaro tem frase muito duras. Ele disse muitas coisas controversas como...
Bannon - O Presidente Trump usou muitas palavras duras. Vamos... eu acho que "pegá-las pela vagina" é bastante duro.
BBC News Brasil - Esse é um bom exemplo, mas era…
Bannon - Com Trump, apresentamos isso como uma conversa de vestiário. Com o capitão Bolsonaro, acho que muito disso são conversas soltas.
O que estou dizendo é o seguinte: há todo tipo de conversa solta por aí. Basta você olhar como ele se comportou nesta campanha. No primeiro turno, depois do número impressionante de votos que recebeu, você viu como o mercado de capitais e a comunidade empresarial do mundo levaram esse cara a sério. Eles perceberam que há um nível de profundidade aí.
O que ele disse sobre gays e sobre outras coisas foi... eu na verdade acho que ele vai conseguir algum apoio destas comunidades.
Se eu achasse que o que ele disse é real, que ele fosse um cara mau, certamente não o apoiaria. Caras como Trump, Salvini e capitão Bolsonaro falam abertamente coisas que chocam as pessoas, chocam o sistema, mas se você olhar para as políticas deles verá que estão tentando unir o país.
BBC News Brasil - Eu ia perguntar se o senhor acha que seria capaz de 'vender', de fazer campanha para um candidato que já disse: "Ninguém gosta de homossexuais, nós os toleramos" ou "O único erro da ditadura foi torturar e não matar depois".
Bannon - Sim. Eu acho que foi conversa solta, e que ele fez um bom trabalho para superar isso. É o seguinte: acho que as pessoas no Brasil botaram isso na balança. É por isso que ele teve uma votação tão grande. Acho que eles levaram isso tudo em consideração.
A mídia globalista, as BBCs e a grande imprensa vão usar isso o tempo todo, como usaram com Trump. Eu acho que o povo está além disso. Então eu não coloco muito peso nisso.
BBC News Brasil - O que diria a quem o classifica como sexista, homofóbico, racista?
Bannon - Eu simplesmente não acho que está correto. Se você olhar para a direção em que ele está indo e como ele está executando a campanha, não acho que ele seja nenhuma dessas coisas. Lembre-se, a nação está em crise.
Se você tivesse me dito no início do século 21 que, em 20 anos, essas três grandes nações estariam na forma que estão, ninguém acreditaria em você.
BBC News Brasil - Por quê?
Bannon - Porque a Venezuela era o terceiro maior produtor de petróleo da época. Argentina estava em bem economicamente. O Brasil estava nos Brics - Brasil, Rússia, Índia e China, o Brasil estava nesse nível. Só se falava sobre investimentos nos Brics. Você ficaria chocado.
E olhe para os três países hoje. Estas não são pequenas mudanças marginais. São mudanças grandes e dramáticas que aconteceram nesses países. Então, acho que ele é o tipo de líder que surge em uma crise.
Em um momento mais típico e comum, como no fim dos anos 1990, com Bill Clinton, eu não sei se o país se voltaria para alguém como Donald Trump. Pensariam que a retórica é muito dura, que todo esse conceito de nacionalismo é muito duro, que simplesmente não seria a hora.
As pessoas, no momento em que estão, pensam no capitão Bolsonaro. Acho que o país colocou as coisas na balança e acho que ele deve superar 55% ou talvez 60% do total de votos no domingo.
BBC News Brasil - A popularidade dele dentro do país e nas pesquisas não se reflete no exterior, né? Ele tem sido criticado pela revista The Economist, pelo jornal Financial Times...
Bannon - Olha só, estou tão chocado! O braço de propaganda para a ordem mundial – The Economist, The Financial Times, a BBC e – a propósito, são minhas três coisas favoritas, tenho minha Economist aqui, meu FT aqui, e estou aqui para a BBC, que eu ouço.
Então, eu amo vocês, mas vocês são o braço de propaganda para a ordem estabelecida. Ele (Bolsonaro) está na capa, Trump está na capa, Salvini está na capa, Orban, Bannon... Eu entendi. Vocês não gostam deles. Tudo bem.
BBC News Brasil - Mas liberais como Paulo Guedes, por exemplo, tenderiam a ser aprovados por veículos como a The Economist...
Bannon - Ele também é um liberal clássico. Ele é uma escolha interessante. Eu acho que as pessoas vão ser agradavelmente surpreendidas pelo capitão Bolsonaro.
BBC News Brasil - Paulo Guedes provavelmente seria seu ministro da Fazenda. Ele é um liberal da Escola de Chicago que defende o livre mercado e relações multilaterais. Como o vê (nos EUA, Trump, após os Estados Unidos defenderem por décadas o liberalismo, passou a adotar políticas antes consideradas típicas da esquerda, como o protecionismo da indústrial local)?
Bannon - O que vejo como tensão ou potencial atrito é que o capitão Bolsonaro foi historicamente contra as privatizações, e acho que a parte central de seu programa é privatizar o máximo possível de empresas, capitalizar o Estado e começar a deixá-lo mais eficiente. Já houve, não sei se atrito, mas discussão. Eu acho que as privatizações vão funcionar. Você viu a valorização da moeda quando ele ganhou o primeiro turno. O resultado positivo nos mercados de capitais pelo mundo.
Foi parecido com Trump. Quando Trump ganhou, no primeiro dia, a CNBC, o Wall Street Journal, o Financial Times disseram: "Isso é o fim do mundo. Acabou. Há um homem louco e um monte loucos ao seu redor que trarão guerras comerciais e coisas assim", e ele teve um tremendo desempenho. O mundo vota no programa econômico de Trump todos os dias. É por isso que o dólar continua ficando mais forte.
Eduardo BolsonaroDireito de imagemAFP/GETTY IMAGES
Image captionEduardo Bolsonaro, filho do candidato, foi o deputado federal mais votado da história
Eu acho que o capitão Bolsonaro trouxe alguém que tem uma tremenda reputação. Você pode dizer que eu não sou um cara totalmente da Escola de Chicago, que tenho diferenças com a Escola Austríaca, mas o que eu gosto no que eles estão fazendo é que estão trazendo pessoas que são respeitadas não apenas na academia, mas nos Bancos Centrais em todo o mundo, nos mercados de capitais, nos centros financeiros de Nova York, Londres, Frankfurt, Cingapura, Hong Kong, Tóquio.
Ele entende que uma das razões pelas quais a decadência social, esse tipo de talvez anarquia social e o crime é porque a economia, considerando os recursos naturais do Brasil, está emperrada.
O povo está se revoltando tanto na Argentina, quanto na Venezuela e no Brasil, contra o peronismo, Chavez, Lula, o socialismo brasileiro etc. Estamos vendo uma rejeição a isso.
Ele é um cara brilhante. Eu digo às pessoas que fiquei muito impressionado e os admiro por terem vindo aqui com humildade. Eles fizeram as perguntas certas, tentando encontrar as pessoas certas sem dizer "nós temos todo esse plano". Eles entendem que esses governos populistas, esses novos governos nacionalistas estão chegando e não estão dizendo que têm todas as respostas.
Eu acho que na esquerda tem uma coisa de que "nós sabemos o que é melhor", "é assim que vai ser", "vamos nacionalizar estas indústrias". E eu achei que Guedes é uma boa escolha, porque ele não é um cara que você naturalmente... ele não é da escola de economia de Steve Bannon.
BBC News Brasil - Ele não seria a sua escolha.
Bannon - Eu brigo com os caras de Chicago e com o movimento conservador o tempo todo. Eu sou um nacionalista econômico. A escola austríaca é muito mais sobre fronteiras abertas, livre fluxo de capital, mercados livres.
Minha crítica é que eles às vezes são muito teóricos e não estão no mundo real, particularmente quando você olha para um mundo com a China e o mercantilismo etc. Mas o que eu admiro é que a Universidade de Chicago nos EUA e ao redor do mundo tem uma incrível reputação de falar sério e ser muito dura.
Acho que o capitão Bolsonaro e seu pessoal olham para a Argentina e dizem: "não queremos entrar nessa situação". Salvini e seus colegas disseram isso também quando contiveram o governo e rejeitaram o Banco Central Europeu.
Esses países estão dizendo que querem manter sua soberania. O que eles não querem é entregar sua soberania para organizações internacionais.
BBC News Brasil - O senhor se opõe ao FMI?
Bannon - Não estou opinando se o FMI é bom ou ruim, se são eficazes ou não. Estou apenas dizendo que estão trazendo pessoas de outras partes do mundo para essencialmente controlar. Você tem que contextualizar as eleições brasileiras no mundo dos mercados globais de capital.
Eu recebi argentinos de movimentos populistas que voaram para a Europa para se encontrar comigo. E eu disse: "quando há esse tipo de envolvimento do FMI, com uma quantia tão grande e tão surpreendente, isso não é algo com que se pode lidar em algumas semanas. É um programa de longo prazo. Você se compromete quando toma esse dinheiro emprestado".
BBC News Brasil - Como aconteceu aqui nos EUA, as "fake news" se tornaram um dos principais assuntos nas eleições brasileiras, talvez o principal. Diferente daqui, elas se espalham principalmente pelo WhatsApp. Isso o surpreende?
Bannon - Acho que toda essa coisa sobre tecnologia precisa ser verificada. Eu vi isso. É bem diferente daqui, nós não tivemos esse problema específico. Eu não sou de opinar, isso é para as pessoas no Brasil.
Acho que toda essa questão do ser ou não uma notícia falsa, ou como as notícias são distribuídas, além dos direitos de liberdade de expressão das pessoas, é algo a ser analisado.
BBC News Brasil - Você acha que notícias falsas podem ajudar de alguma forma um candidato?
Bannon - Não, não.
BBC News Brasil - Mas hoje elas são muito usadas tanto pela direita quanto da esquerda.
Bannon - Não, eu acho que não. Eu acho que as pessoas vão resolver essa questão com o tempo. Eu vim da Harvard Business School, eu acho que o mundo é um mercado eficiente. Não é que não haja histórias falsas, mas acho que, com o tempo, as pessoas vão pelo caminho correto.
Eu acho que isso vem da grande imprensa. As "BBCs" pelo mundo estão tão acostumadas a fazer do jeito delas, a ditar o que é correto e o que não é. O que eles consideram ser. Eu acho que a BBC e muito disso é totalmente fake news, são apenas opiniões colocadas como notícias, e eu disse isso quando fui entrevistado pela BBC na televisão. O mesmo para a CNN e o New York Times, eu digo que a página de opinião do NYT é a primeira página deles.
Acho que agora que eles estão perdendo as eleições, e perdendo feio, com (Viktor) Orban (primeiro ministro da Hungria) ganhando com 70%, Salvini com dois terços, Trump vencendo e prestes a, acho, ter maioria no Senado por três ciclos inteiros, eu acho vão começar a espernear sobre fake news, fake news, fake news. Acho que é apenas o fato de que o cartel da informação, os guardiões da informação, estão sendo encobertos pela tecnologia.
Mas não acho que a desinformação será um grande problema, acho que é algo que se resolve por si mesmo.
(Um auxiliar entra no quarto e diz a Bannon que seus convidados o esperam. Ele pede cinco minutos)
BBC News Brasil - Bolsonaro está trazendo a América Latina para o chamado "Movimento"?
Bannon - O "Movimento" é um grupo maleável e em rede. Eu tenho um grande grupo aqui, de cidadãos da República dos EUA, focado em apoiar o movimento nacionalista populista e o presidente Trump. Meu ponto com o movimento é toda a parte internacional disso, criando conferências, um local de encontro, como um tecido interconectado com foco nas eleições para o Parlamento Europeu neste momento.
Fui contactado por praticamente todos os países do mundo, desde o Paquistão até países da Ásia. Mas neste momento eu já tenho trabalho suficiente aqui nesta eleição e estou totalmente sobrecarregado. Depois disso, vai ser a Europa.
O objetivo do capitão Bolsonaro neste momento, do povo da Argentina que se aproximou de mim, são seus países. Ele vai se focar completamente por literalmente anos e anos, se não décadas, e o mesmo vai acontecer na Argentina.
Se ele quiser usar algumas das coisas que eu estou tentando construir lá fora, pesquisas eleitorais e coisas do tipo, ele poderá. Mas ele certamente sabe como conduzir sua campanha política.
BBC News Brasil - Mudando de assunto para as notícias do dia nos EUA: os pacotes enviados pelo correio a autoridades democratas. Como vê o caso?
Bannon - Eu já disse há muito tempo, desde Charlottesville: os neoconfederados, os neonazis, a Klu Klux Klan, os antifa, os elementos mais radicais do Black Lives Matter, os Proud Boys (organização de extrema-direita formada por homens), quando partem para a violência, não têm nenhum espaço na discussão política dos EUA.
Eu defendi fechar essas coisas, mesmo antes da marcha começar. Sei que as pessoas têm os direitos de primeira emenda (da Constituição Americana, que defende a liberdade de expressão), mas eu acho ela é transcendida quando você está procurando por violência.
Acho que não há lógica em alguém da ala direita fazer isso, dado o momento em que estamos. Quem sabe quem fez? A investigação deve ser rápida e eu defendo punição máxima para essas pessoas, sejam da esquerda ou da direita.
BBC News Brasil - Acha que a relação entre os EUA com Trump e o Brasil, se Bolsonaro ganhar, vai ser mais próxima?
Bannon - Eu não sei, eu não falo pelo presidente, ele vai resolver isso. Mas eu acho que já existe um número de brasileiros em níveis muito altos, em organizações financeiras, fundos e corporações aqui nos EUA que estão querendo se envolver com o Brasil.
O tipo de envolvimento da China com a América Latina é algo importante para os EUA. Eles estão envolvidos na Venezuela, no Brasil, no Caribe e eu acho que o capitão Bolsonaro tem sido muito aberto pelo fato de olhar para os EUA como um parceiro estratégico, mais do que a China.
BBC News Brasil - O senhor sempre se refere como "capitão" Bolsonaro. Acha que um governo militar propriamente dito de volta ao Brasil mudaria o país?
Bannon - Não. Eu digo isso por uma questão de respeito. Eu sou um ex-oficial da Marinha, minha filha é capitã do Exército. É respeito. Essa é uma das coisas que eu espero nas Américas.
Os militares poderão dizer a você, eles não querem se sentar e administrar esses governos, eles fazem isso como uma questão de extrema emergência. E acho que o que o capitão Bolsonaro está tramando é uma mudança civil.
BBC News Brasil - O senhor disse uma vez que "há uma grande guerra se formando. Uma guerra que já é global". Estava se referindo a uma 3ª Guerra Mundial ou algo similar?
Bannon - Em que contexto?
BBC News Brasil - Em seu discurso no Vaticano.
Bannon - Eu estava falando sobre duas questões. Uma era especificamente sobre toda essa parte do terrorismo islâmico radical. Eles ainda estão claramente em guerra com o Ocidente. Essa é uma das razões pelas quais houve essa grande polêmica com (Jamal) Khashoggi (jornalista crítico do regime saudita assassinado).
Jered Kushner (assessor da Casa Branca e genro de Trump) foi contra o pensamento corrente da comunidade de inteligência, do Departamento de Estado, tudo isso, ao propor que a primeira visita oficial de Trump deveria ser para Riad (capital da Arábia Saudita). E essa deveria ser uma conferência com todas as nações muçulmanas juntas, para que ele falasse com elas.
Sobre esta parte do mundo, estrategicamente, nunca houve qualquer tipo de pensamento de priorização de preocupações estratégicas, era tudo igual, o terrorismo islâmico radical, a expansão do Irã e a questão palestina....
Trump disse que iria destruir militarmente o califado físico do (autoproclamado) Estado Islâmico em um ano. O que ele fez, basicamente.
Trump trabalhou com os Emirados Árabes, Kuwait, Jordânia, Egito e Israel para dizer como podemos chegar a algum tipo de organização naquela parte do mundo que possa interromper o financiamento do terrorismo islâmico radical.
BBC News Brasil - Mas isso pode escalar para uma guerra propriamente dita?
Bannon - Na guerra moderna, há três categorias: guerra de informação, guerra econômica e guerra cinética. Apenas na última há o lado armas. O ponto central de Trump é que a China está em guerra econômica e de informação há 20, 25 anos. E os EUA, principalmente as elites, já entenderam isso e temos um amplo engajamento do governo nessa questão. Está em andamento.
Essa é uma das razões pelas quais o capitão Bolsonaro é um cara que está dizendo: 'Ei, eu quero uma relação que não seja com a China', porque a China está em todo o Brasil.
Então, quando você pensa em guerra, as pessoas acham que é guerra com arma. Esta é a última coisa que acontece, mas a jihad islâmica radical é claramente muito aberta a estar em guerra com o Ocidente. E eu acho que você está começando a ver isso sendo combatido. Há movimentos populistas nacionalistas e a Europa faz parte disso. Essa é a ascensão de Orban, a ascensão de Salvini, é a ascensão do (partido) Alternativa para a Alemanha, a ascensão da Frente Nacional na França.
Eu só um cara simples do interior, mas veja Angela Merkel e Emmanuel Macron. Macron está numa espiral negativa. A popularidade dele está abaixo de 30%. Não acho que Merkel vá segurar o governo nestas eleições. O mundo está acordando para isso.
Esta é uma das razões pelas quais a questão da Arábia Saudita é tão importante para os EUA. Eles foram aliados por 50, 60 anos, e o que acontecer daqui para frente é algo que vai afetar a política americana profundamente nesta área.

O ESTADO POLICIAL AVANÇA - RAFAEL BRASIL

O estado policial do consórcio PT STF avança contra a oposição. Desde a semana passada, dois deputados federais tiveram "visitas" ...