terça-feira, 10 de outubro de 2017

“Distorções e simplificações pueris”- Olavo comenta a entrevista à Folha Olavo de Carvalho

“Distorções e simplificações pueris”- Olavo comenta a entrevista à Folha

10 de outubro de 2017 - 14:57:30
Dar uma entrevista à “Folha de S. Paulo” é confirmar, uma vez mais, a definição enunciada por Mário Vargas Llosa: “O jornalismo é uma máquina na qual entra um homem e sai um hamburguer.”
A repórter Isabel Fleck conversou comigo durante duas horas e quarenta e seis minutos só para me transformar no estereótipo que ela já trazia pronto na cabeça antes de tocar a campainha da minha casa: o “ideólogo de Bolsonaro”. Essa operação, que um macaco treinado realizaria tão bem quanto ela, exige, como condição indispensável, a completa ignorância do que sejam uma ideologia e um ideólogo. Antonio Gramsci foi ideólogo do Partido Comunista Italiano, do qual era militante e aliás fundador. Giovanni Gentile foi ideólogo do Partido Fascista, do qual era militante e aliás co-fundador. Alfred Rosenberg foi ideólogo do Partido Nazista, do qual era militante e aliás co-fundador. Alberto Guerreiro Ramos foi ideólogo do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do qual era militante e aliás co-fundador. Luigi Sturzo foi ideólogo da Democracia Cristã italiana, da qual era militante e aliás co-fundador. Emir Sader, o célebre Marquês de Sader, é ideólogo do PT, do qual é militante e aliás co-fundador. Uma ideologia é o discurso justificador de um um programa político definido, criado no seio de uma organização partidária específica, com um claro projeto de sociedade e uma estratégia determinada para a conquista e o exercício do poder. Qualquer pessoa que conheça mesmo por alto a minha obra escrita e os meus ensinamentos orais sabe que aí não se encontra NADA disso e que, ao contrário, cada palavra minha enfatiza a total incompatibilidade entre o conhecimento científico da política e a adesão a qualquer programa ideológico que seja.
Pior: no próprio corpo da entrevista, afirmo que DESCONHEÇO o programa político do candidato Bolsonaro e que só anunciei minha intenção de votar nele (aliás sem nem mesmo recomendar que alguém mais o fizesse) por simpatia pela sua comprovada honestidade pessoal e pelo caráter nacional da sua candidatura em face de dois concorrentes obviamente associados a esquemas de poder internacionais.
Onde, em que continente, galáxia, buraco de tatu, banheiro público ou hospício do universo, isso faz de mim o “ideólogo” de uma candidatura ou de um partido?
Se nem mesmo conheço um determinado programa político, como posso ser o seu inventor ou formulador?
O uso do termo só tem sentido como tentativa de fazer de mim uma espécie de Emir Sader da direita, isto é, de me reduzir às dimensões do que o analfabetismo funcional imperante na redação da “Folha de S. Paulo” pode conceber.
Sendo trabalhoso demais corrigir uma por uma as distorções e simplificações pueris que a repórter impôs às minhas palavras, reproduzirei aqui, simplesmente, a gravação que fiz da entrevista. A câmera, sem que eu percebesse, caiu ao lado do computador, de modo que a imagem parece expressionismo alemão, mas o conteúdo verbal está reproduzido na íntegra. Daqui a pouco a gravação estará no ar.
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Isabel Fleck repete a expressão “o ideólogo” ONZE VEZES. A ânsia de carimbar é irresistível. Ética jornalística ZERO, confiabilidade ZERO.
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Abaixo, a entrevista publicada na Folha de São Paulo:

Ideólogo de Bolsonaro, Olavo de Carvalho critica nova direita

ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A PETERSBURG (VIRGÍNIA)

Dos Estados Unidos, o homem que afirma ter feito “todo o possível para que existisse uma direita no Brasil” diz não saber definir o que hoje é a corrente identificada como a “nova direita” no país.
“Eu sei lá o que é a nova direita. Eu quero que ela se dane. É um bando de picaretas”, diz à Folha o ideólogo e polemista Olavo de Carvalho, 70, na casa de um dos filhos em Petersburg, na Virgínia. Está alojado no lugar enquanto espera a reforma na sua nova casa, também na região de Richmond, ficar pronta.
“Eu abri um rombo na hegemonia esquerdista, só que o pessoal que veio atrás não tinha preparo nenhum. Só palpiteiro, carreirista, oportunista”, afirma, antes de se corrigir. “Não todos, evidentemente. Tem gente boa no meio.”
Carvalho, com 390 mil seguidores no Facebook e um curso de filosofia online que, segundo ele, é acompanhado por 5.000 pessoas, é considerado o “guru” de boa parte do conservadorismo brasileiro, que tem ganhado cada vez mais força no país. “Não estou ligado a nenhum desses grupos. Eu fiz o meu serviço, agora eles que se virem.”
Citado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como uma de suas referências, Carvalho aceitou o pedido feito por um dos filhos do presidenciável para aconselhar o pai antes das eleições. “Pois é, ele me pediu, mas o Bolsonaro não veio ouvir o conselho, o que que eu posso fazer?”
Os dois participarão, nesta semana, de uma discussão promovida pelo centro de pesquisas do ideólogo, o Inter-American Institute, em Nova York. Eles, contudo, não se encontrarão. Carvalho falará por videoconferência, a partir da Virgínia, por causa da missa de um mês da morte de sua mãe.
Apesar de já ter feito pelo menos dois debates por videoconferência com o deputado e de ter dois filhos dele como seguidores, Carvalho diz não ter “nenhuma relação” com o pré-candidato.
Ele afirma, no entanto, que seu voto já é de Bolsonaro, o único que tem uma “carga nacionalista”. “Primeiro, a candidatura dele é nacional. Segundo, é um dos dois ou três políticos que não se meteram em nenhum esquema de corrupção. Terceiro, ele tem algum amor ao Brasil”, justifica.
Carvalho admite, porém, “não saber bem quais são as ideias” do deputado. “Não sei quais são os projetos políticos dele. Ouvi ele falar de coisas, problemas isolados, mas ainda não peguei bem qual é a concepção política dele.”
Além de Bolsonaro, o ideólogo aposta que, em 2018, os nomes com mais chances ao Planalto são o do ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) e o do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP).
“Acho o Ciro um sujeito altamente competente, tenho uma simpatia por ele e pelo João Doria. Não voto neles porque os dois estão ligados a forças internacionais.”
Segundo ele, Doria copia o “discurso multicultural da nova ordem global” e Ciro já teve demonstração de apoio do Partido Comunista da China.
E o ex-presidente Lula? “O Lula, coitado. Acho que ele não se elege nem em Catolé do Rocha [PB]”, diz, rindo e acrescentando que não acredita em pesquisas de intenção de voto.
No último Datafolha, publicado no início do mês, o petista, que foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, aparece com pelo menos 35% dos votos em todos os cenários. Bolsonaro está em segundo, empatado com Marina Silva (Rede).
Diante do alvoroço gerado pela notícia de que ele poderia dar conselhos a Jair Bolsonaro, Carvalho diz estar disposto a fazer isso com qualquer candidato.
A todos, assegura, falaria a mesma coisa: “É preciso encontrar o caminho pelo qual o Brasil possa deslizar por entre as malhas da dominação globalista e preservar um pouco da sua soberania, da sua identidade, da sua cultura”.
Questionado se estaria disposto a ser conselheiro de Bolsonaro se ele for eleito, afirma, entre um cigarro e outro, que poderia aconselhar qualquer presidente. “Não como um cargo oficial, como seu conselheiro pessoal. Cobro R$ 100 por mês.”
MBL E DIREITA DIVIDIDA
Carvalho não poupa apelidos para políticos e lideranças de movimentos de direita no Brasil. O coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri, virou “Kim Cata-Coquinho” e o governador Geraldo Alckmin é o “Geraldo Alguénzinho” –”É tudo o que ele quer ser quando crescer, mas ele não vai crescer; é uma pessoa oca”, diz.
O ideólogo diz ter “dado uma força por caridade” para “os gênios do MBL” quando eles realizaram a marcha até Brasília, em 2015. O MBL apoia Doria, rival de Bolsonaro pelo voto conservador.
“Depois o movimento popular se dispersou e o MBL está lá, levando o dinheiro dos partidos políticos. Inventou um jeito de fazer tudo de novo, como estava antes”, diz.
Sobre suas críticas à nova direita, Olavo de Carvalho afirma ser “uma besteira” a ideia de que os conservadores precisam se unir. “As divisões internas são uma força que faz crescer.”
Ele chega a afirmar que integrantes do MBL “às vezes tomam posições que são teoricamente certas”, citando a oposição do grupo à exposição “Queermuseu”, fechada em Porto Alegre (RS), e à performance “La Bête”, do artista Wagner Schwartz, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.
“Se alguém vê sinal de pedofilia numa exposição e fica indignado, não tem nada de errado nisso. Só que ali não tem pedofilia nenhuma. Tem uma lenta e sutil operação de dessensibilização que resultará na criação de uma atmosfera social favorável à assimilação da pedofilia daqui a dez ou 15 anos”, afirma.
Diante de parte da sua coleção de mais de 20 armas, quase todas usadas para caça, Carvalho faz piada sobre sua imagem polêmica. “O pessoal acha que eu estou aqui armado até os dentes para matar comunista. É muita fantasia.”

Foto: Vivi Zanatta/Folhapress


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