terça-feira, 5 de setembro de 2017

A impagável dívida pública da Arena Corinthians Rodrigo Capelo - Epoca

A negociação do Corinthians com a Caixa desanda após revés político do presidente Roberto de Andrade. Não há perspectiva de devolver aos cofres públicos os R$ 400 milhões emprestados para levantar o estádio


Arena Corinthians,em Itaquera.A imbatível fase esportiva não alivia as finanças do time (Foto:  Mauro Horita/AGIF/AFP)


Fábio Carille ainda não tinha se tornado técnico do Corinthians, no fim do ano passado, quando o clube já havia parado de pagar à Caixa Econômica Federal as parcelas do financiamento público de seu estádio. Pela campanha brilhante até agora – a melhor da história do Campeonato Brasileiro – o Corinthians bem pode chegar a campeão. Mas não vê como retomar os pagamentos. O problema está no desempenho financeiro da Arena Corinthians, que, a despeito da campanha fantástica do time e das arquibancadas lotadas, não gera dinheiro suficiente para bancar suas despesas e quitar o empréstimo de R$ 400 milhões. Sufocada pelas mensalidades, a cúpula corintiana pediu uma trégua em novembro de 2016 para colocar as contas em ordem e voltar a pagar a partir de maio de 2017. O banco a concedeu, disposto a renegociar termos do acordo. Não deu certo. Os corintianos chegam a setembro sem ter retomado os pagamentos – e, pior, sem a menor perspectiva de que isso aconteça.
Eis a situação na mesa de negociações entre Corinthians e Caixa, de maneira simplificada. Cada parcela custa R$ 5 milhões – dos quais R$ 1,5 milhão pagam a dívida e R$ 3,5 milhões correspondem aos juros cobrados pelo empréstimo. Como o time não consegue honrar esses R$ 5 milhões mensais, propôs diminuir as parcelas pela metade, R$ 2,5 milhões, pelo tempo determinado de um ano. Depois disso os corintianos voltariam a pagar as parcelas cheias e o valor que deixara de ser pago durante um ano seria acrescido às parcelas seguintes. Monitorada pelo Banco Central e pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dono do dinheiro, a Caixa não tinha como aceitar tal proposta porque o valor sugerido não cobre nem os juros, o que faria com que a dívida crescesse em vez de diminuir. A cúpula do banco propôs outra solução. O Corinthians até poderia baixar as parcelas a R$ 2,5 milhões por mês, mas teria de arrumar um jeito de, ao término desse ano de carência, depositar mais R$ 12 milhões para cobrir os juros. A fim de assegurar o recebimento, a Caixa pediu como garantia o resultado do plano de sócios-torcedores, o Fiel Torcedor, que deve gerar R$ 17 milhões em 2017. Aí entrou em campo a política futebolística.

As finanças da Arena Corinthians (Foto: ÉPOCA)
Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, mandou uma carta há duas semanas, em 17 de agosto, para Osmar Basílio, presidente do Conselho de Orientação (Cori) do clube. Nela o dirigente explicou os termos da exigência feita pela Caixa – reservar as receitas do Fiel Torcedor como garantia ao banco na renegociação do financiamento público – e pediu um retorno "com a maior brevidade possível". A proposta ainda precisava passar pelo crivo do Conselho Deliberativo alvinegro, mas caiu antes disso. O Cori, formado por ex-presidentes e membros eleitos, vetou a proposta. E a renegociação voltou ao impasse inicial. Sem dar a arrecadação com sócios-torcedores como garantia, ou o Corinthians encontra outra receita e convence os conselheiros corintianos a abrir mão dela, ou a Caixa precisará aceitar apenas os R$ 2,5 milhões mensais, o que a deixará em situação delicada com o BNDES. Com o agravante de que o imbróglio passou a ser acompanhado pelo Ministério Público Federal (MPF), que recebeu parte das documentações solicitadas às partes e tem investigado a suspensão do pagamento das parcelas corintianas.
As dificuldades financeiras da Arena Corinthians continuam mesmo com a equipe em alta no Brasileiro, sobretudo porque a ausência na Libertadores e a eliminação precoce na Copa do Brasil tiraram do estádio partidas valiosas. ÉPOCA fez as contas. Em 2016, com 22 confrontos no primeiro semestre, a casa corintiana arrecadou quase R$ 42 milhões. Em 2017, com 16 jogos no mesmo período, a renda foi muito menor, apenas R$ 25 milhões. O estádio também fatura alguma coisa com camarotes, patrocínios e outras receitas, em meio às dificuldades do mercado esportivo e da economia brasileira, mas o grosso de sua arrecadação vem das bilheterias, por isso a preocupação. Há expectativa de que o desempenho financeiro do estádio melhore muito no segundo semestre, ainda mais se Carille confirmar o título com um aproveitamento histórico, porque as bilheterias renderão mais. De qualquer modo, a liderança em campo não basta para mudar a realidade financeira do estádio.
Enquanto não paga as mensalidades à Caixa, o Corinthians tem feito uma poupança. O valor na conta bancária do fundo imobiliário que administra a Arena Corinthians passou de R$ 2,4 milhões em novembro de 2016 para R$ 11,7 milhões em julho de 2017, conforme documentos publicados pelo fundo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mais um sinal preocupante. Após se abster de honrar os compromissos pela Arena Corinthians por nove meses, sem pagar nem um centavo do endividamento feito com um banco estatal para sua construção, o clube conseguiu uma quantia que pagaria só duas parcelas de R$ 5 milhões. Aos corintianos, a situação aflige pela possibilidade da venda de atletas para cobrir rombos no orçamento. Mas a gravidade vai muito além disso. Três anos após a Copa do Mundo, o Corinthians indica não ter capacidade de pagar os R$ 400 milhões emprestados pelo BNDES. A Caixa, agente financeiro, alega sigilo bancário a respeito da operação para ignorar perguntas – mesmo ligadas a um empréstimo feito por um banco estatal e mediado por outro, e que pode nunca mais ser recuperado.
A poupança da Arena Corinthians (Foto: ÉPOCA)

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