terça-feira, 30 de maio de 2017

CELEBRIDADES, SALVEM-NOS! Flavio Morgenstern

No mundo, artistas refletem as angústias do povo. No Brasil, celebridades querem tomar seu dinheiro e eleger políticos que o povo odeia.
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No último dezembro, o escritor Andrew Klavan fez um podcast chamado Save Us, Celebrities!, rindo do comportamento da sociedade midiática de massas atual: ao invés de se informar sobre política lendo grandes autores decifrando a delicada, complexa e perigosa bomba-relógio dos problemas políticos, prefere apenas repetir o que alguma celebridade famosa por algo alheio aos problemas do mundo disse.

É o que chamamos no Brasil de lacrosfera, a cultura não do argumento, do silogismo, do entendimento do fenômeno ou da apreensão da realidade: basta soltar uma frase de efeito que soe “encerradora” de assunto (geralmente, apenas para quem não raciocina muito, e já é viciado em frases desconexas que não formam um todo coerente) e voilà, parece que descobrimos a receita para a paz mundial.
Melhor ainda quando é um tweet de alguma celebridade, geralmente a celebridade relativa – a celebridade que só o é em relação a outra celebridade, como Paula Lavigne, a que “foi casada com o compositor Caetano Veloso” (sic). É quando o Twitter e a lacrosfera, com suas sinapses de 140 caracteres, rendem loas a alguém como se tivesse pintado Las Hilanderas diante deles em 2 segundos.
Se tornar uma celebridade lacrante é um excelente caminho para a sobrevida de celebridades relativas que já perderam até o seu referencial.
Joanna Maranhão, a nadadora que ficou em 24.º lugar nas Olimpíadas do Rio, só tem fama graças a seus chiliques pelo Twitter (e tome “machista, racista, homofóbico e xenófobo” a cada 3 tweets).
Daniela Mercury, cujo último hit foi “O Canto Dessa Cidade” (1992, quando nossa moeda era o cruzeiro, o Brasil era tri, a União Soviética tinha esfacelado há menos de um ano), tendo sido há décadas substituída por Ivete Sangalo, também reapareceu como celebridade lacrante para retomar os holofotes.
Tico Santa Cruz, vocalista de um certo conjunto musical denominado “Detonautas Roque Clube” (sic), para adolescentes com problemas estéticos e hormonais, cujo sucesso já se foi perdendo-se para Raimundos ou o emo, também encontra sobrevivência como celebridade lacradora defendendo Dilma, Lei Rouanet e acusando todos os não-petistas do país de serem fãs de Aécio Neves e elitistas endinheirados. And so on.
Neste fim-de-semana, imitando o fracasso que a mentalidade de celebridades produziu na cultura americana, uma trupe de gente que nada em dinheiro igual o Tio Patinhas se reuniu na orla de Copacabana para um show “gratuito” (noves fora o que acabam ganhando com a política) pedindo por “Diretas Já” para substituir Michel Temer, o “golpista” no qual 100% deles votaram.
Seu argumento? Não há argumento: basta dizer que são celebridades. Sua democracia é exatamente isso: não é preciso haver lei, ou uma busca pelo bem comum, ou moral, valores e costumes que impeçam que caiamos na barbárie.
É preciso tão somente que celebridades famosas por saberem tocar acordes em violão ou “atuarem” (em novelas da Globo ou esquetes de YouTube) digam o que devemos fazer com a economia, o swap cambial, a elisão fiscal, a geopolítica no Oriente Médio e pronto.
É exatamente o inverso da República de Platão: aqui, quem é famoso só precisa lacrar e ignorar que não se muda lei eleitoral para proteger seu candidato (e nem é apenas para que ele ganhe: é para que ele escape da cadeia).
Menos ainda que não se faz emenda (emenda!) na Constituição para propor eleições um ano antes das eleições. E que, se for para organizar eleições como querem celebridades rouanetadas e centrais sindicais, não é preciso ter lei eleitoral: basta colocar o político plenipotenciário que celebridades globais querem contra o resto do povo, e não a favor, buscando não o bem comum, mas extorquir a “classe média” e transferir o seu dinheiro para políticos e burocratas que, então, poderão também transferir algumas boladas para as celebridades.
Em um país saudável as artes traduzem os sentimentos e aspirações do povo. Já os artistas brasileiros, transformados em meninos de recado do PT graças à ideologia, ao gramscismo, a Paulo Freire, a curiosa Kulturindustrie que protege o poderoso (no caso, a esquerda) e a Lei Rouanet, só podem falar contra o povo, não apenas em desconexão, mas literalmente em um nós contra eles em que os ideólogos (acadêmicos, jornalistas, celebridades e “movimentos sociais” de moldes fascistóides) xingam, agridem e querem tomar à força do dinheiro do outro time, o dos trabalhadores brasileiros.
Afinal, Caetano Veloso, que passou meio século como “o artista” brasileiro, pode ser considerado uma “voz” do povo brasileiro, representando seus anseios, suas angústias, suas inquietações e suas preocupações? Será que o discurso vitimista que lhes alçou ao estrelato no meio do século passado faz sentido para um povo que hoje não sofre com violência estatal, mas justamente com as leis coitadistas que os Caetanos Velosos da vida criaram.
O que os rappers que fazem ponta no programa da Fátima Bernardes (aquela que só fala de funk e criança “transexual”) têm a dizer ao povo, mesmo sobre periferia (como se toda a periferia fosse composta por funk e hip hop)?
O que Mart’nália (sic), BNegão (sic), Criolo, Maria Gadu (who?), Mosquito, Otto e Mano Brown têm a dizer sobre o povo que julgam dar voz e direito a voto?
Wagner Moura, Gregório Duvivier e atores e artistas globais em Copacabana, em ato por Diretas Já e Fora TemerO que atores como Wagner Moura, Adriana Esteves, Letícia Sabatella, Renata Sorrah, Camila Pitanga e Vladmir Brichta têm em comum com quem pega ônibus na Pavuna ou Cidade Adhemar e fica indignado com a corrupção de Dilma Rousseff e de Michel Temer, o vice de Dilma Rousseff?
O que uma patuléia de atores globais quer dizer ao povo quando chama a Rede Globo de golpista? O que o discurso “pelo povo” faz com Marcelo Freixo, o candidato do PSOL que só recebe votos no Leblon? Aliás, o que fazem na casa de Paula Lavigne (a do Caetano Veloso) no Leblon, logo após o ato em Copacabana com faixas de centrais sindicais?
O que um Guilherme Boulos, o líder do movimento terrorista MTST, quer dizer aos pobres brasileiros que agem ordeiramente e são assaltados morando na periferia por quem escolhe atalhos violentos para a vida, subtraindo o trabalho alheio?
Essa aleivosia mela-cueca podia até convencer jovens idealistas com referências tortas em um país periférico durante uma ditadura cafona no meio da Guerra Fria. Hoje, já vimos o resultado do que defendem em Cuba ou na Venezuela, e o povo – e não as celebridades, ou mesmo os intelectuais e acadêmicos, que dirá os jornalistas – se interessa por tais temas.
Por que as celebridades não vão pedir por “Diretas Já!” sob as balas da Guarda Bolivariana de Nicolás Maduro, defendido (o tirano, não o povo) por todos estas celebridades?
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