segunda-feira, 10 de abril de 2017

Olavo de Carvalho elogia Suplicy e diz que trabalharia até com Satanás pelo Brasil - RICARDO SENRA - BBC

Olavo de Carvalho elogia Suplicy e diz que trabalharia até com Satanás pelo Brasil

Olavo de Carvalho e Eduardo SuplicyDireito de imagemLPINFOCUS
Image captionOlavo de Carvalho defende projeto de Suplicy durante evento em Harvard, nos EUA
Tido como polo ideologicamente oposto ao vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), o filósofo Olavo de Carvalho afirmou que aprova a ideia da renda básica da cidadania (projeto do petista que propõe vencimento mínimo a todos os cidadãos do Brasil), e que trabalharia com o Suplicy para aprimorá-la.
"Suplicy é um sujeito muito simpático e a ideia dele não é ruim, que todo mundo tenha uma renda", disse Carvalho em entrevista exclusiva à BBC Brasil na Universidade Harvard, em Massachusetts (EUA).
"Claro, todo mundo quando nasce tem que ter alguma coisa. Tem que ter, pelo menos, alguém para segurar você, para você não cair no balde. Se você não tiver nem isso, está ferrado".
Para o filósofo, expoente da nova direita brasileira, o maior desafio do projeto é definir quem financiaria esta renda mínima.
"A renda básica moralmente está certa. Mas não adianta se não se especificar quem tem que dar esse dinheiro e de onde tem que sair. Se não é assim: você tem direito a esse dinheiro, mas ninguém tem a obrigação de te dar esse dinheiro", disse, acrescentando que a distinção entre direito e garantia é errada e imoral.
"Se você tem o direito, mas não tem a garantia, na prática, você não tem direito nenhum".
Questionado pela reportagem se ajudaria o petista no aprimoramento da proposta, Carvalho não hesitou. "Trabalharia junto com o Zé Antonio Satanás da Silva, se for preciso. O que a gente não faz pelo Brasil?"
Olavo de CarvalhoDireito de imagemLPINFOCUS
Image caption"Suplicy é um sujeito muito simpático e a ideia dele não é ruim", disse Olavo de Carvalho
O encontro inusitado aconteceu na manhã desta sexta-feira durante a Brazil Conference, conferência organizada por Harvard e pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Olavo de Carvalho comentou ainda a iniciativa das universidades de unir polos que nem sempre dialogam no país, dizendo que "deveria acontecer todo dia".
"A ideia é muito boa. É necessário, urgente. É apenas uma vergonha para o Brasil que tenha sido o MIT que propôs isso e não uma universidade brasileira. Isso mesmo é um sintoma do estado de coisas".

Alasca

Questionado sobre se estaria disposto a conversar com petistas, por exemplo, respondeu: "Eu fiquei anos estudando o marxismo-leninismo. Eu estudei mais este assunto do que eles todos. E entendo perfeitamente o coeficiente de verdade que há nisso. Agora, o diálogo pressupõe uma possibilidade de interpenetraçao das consciências. Eu posso entender o que essa gente está falando. Mas eles podem entender o que eu estou falando? Esse é o problema", disse.
Carvalho disse ainda que, hoje, ninguém da esquerda o entende. "O intelectuais brasileiros de esquerda hoje? Nenhum. Tem um que tentou entender, que se chama Ricardo Musse. Ele leu dois livros meus, se bem que dois livros mais populares, não os mais pretensiosos intelectualmente e tentou entendê-los. Mas, em geral, vejo o pessoal respondendo a coisas que eu não disse nunca, coisas totalmente imaginárias."
Suplicy e Carvalho participaram de debate sobre reformas sociais e desenvolvimento no Brasil.
Ao lado dos dois, estava o cientista politico brasileiro Hussein Kalout, secretário especial da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Temer, e Pedro Henrique de Cristo, mestre em políticas públicas por Harvard, que atuou como moderador.
Suplicy citou a renda básica da cidadania em todas as suas respostas. O projeto propõe uma renda mínima para todos os cidadãos, ricos e pobres, inclusive estrangeiros que vivam no Brasil há mais de cinco anos.
Eduardo SuplicyDireito de imagemLPINFOCUS
Image captionSuplicy defende uma renda mínima para todos os cidadãos brasileiros
"Enquanto eu estiver vivendo, vou lutar pela aplicação da renda básica universal no Brasil", disse o ex-senador, de 75 anos.
Bem-sucedido no Alasca (EUA), que após 34 anos de programa passou de Estado mais desigual dos EUA para um dos mais igualitários, o projeto proposto pelo petista seria financiado a partir dos impostos recebidos por União, Estados e municípios.
Este ano, a Finlândia começou a testar a iniciativa com um grupo de 2 mil pessoas - o valor é de 560 euros (R$ 1,9 mil) mensais. Caso o projeto-piloto seja bem-sucedido, a ideia é expandir o benefício a toda a população.
Para os críticos, entretanto, o problema do projeto no Brasil seria o seu financiamento. Opositores argumentam que a carga tributária no país já é alta e que não haveria como garantir a renda básica sem aumento de impostos.
Em janeiro de 2004, o Brasil sancionou a lei que institui a Renda Básica de Cidadania proposta por Suplicy. Desde então, entretanto, o vereador aguarda que ela seja regulamentada para entrar em vigor.

Educar a elite

Durante suas falas, Olavo de Carvalho criticou o sistema de ensino brasileiro e disse que não adianta pensar na educação de crianças e adolescentes se os professores não tiverem uma formação consistente.
Dilma RousseffDireito de imagemREUTERS
Image captionEx-presidente Dilma Rousseff também participa de evento
"Primeiro tem que formar o agente para que a ação (de educar) seja possível", disse.
Na opinião dele, "os professores hoje não são capazes nem de discernir os conteúdos que valem a pena se transmitir e os que não valem. E hoje acham que todos os conteúdos valem a mesma coisa. Não valem".
"Se os próprios intelectuais insistem em nivelar essas coisas, então o conceito de educação acabou", argumenta o filósofo, que completa: "Quem vai educar o povo é a própria elite, então temos que educá-la primeiro".
A BBC Brasil perguntou se os alunos precisarão esperar que os professores passem por uma reciclagem para que tenham acesso à educação.
"Quem você tem que formar primeiro, o médico ou o doente? Adianta dar um curso de medicina para o doente? É o que está acontecendo no Brasil. Privilegiar primeiro a educação popular e depois a da elite é totalmente absurdo porque, quem vai educar o povo? É a própria elite. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo, estes jovens já estão tendo a pior educação possível."
Sérgio MoroDireito de imagemAFP
Image captionJuiz Sérgio Moro também foi convidado

Despolarização

A Brazil Conference, palco do encontro, acontece nesta sexta e sábado nos corredores de Harvard e do MIT, com mais de 100 palestrantes e moderadores.
Autoridades como a ex-presidente Dilma Rousseff, o juiz federal Sérgio Moro, os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso e a ex-senadora Marina Silva participarão de mesas redondas e entrevistas.
A lista de convidados também inclui Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Deltan Dallagnol, procurador da operação Lava Jato, Alessandro Molon, deputado federal pela Rede, e personalidades como o apresentador Luciano Huck, o jogador Kaká e os músicos Gilberto Gil e Yamandu Costa, entre muitos outros.
O objetivo da conferência, segundo os organizadores, é aproximar polos opostos.
"No Brasil, a direita e a esquerda simplesmente não conversam", disse o pesquisador David Pares, um dos presidentes da Brazil Conference, no início da semana.
"As pessoas só compartilham o que já acreditam. Entendemos isso como falta de diálogo entre ideais diferentes e esse é o maior problema da polarização. A ideia da conferência é ajudar as pessoas a desmistificarem o polo oposto", afirmou.

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